24/05/2022
O PIB do Amazonas teve desempenho acima da média nacional, em fevereiro, segundo o BC (Banco Central). A passagem de janeiro para fevereiro rendeu alta de 1,71% para a economia estadual, apesar do rápido surto de ômicron e dos choques de oferta de commodities que se seguiram ao começo da guerra na Ucrânia. O crescimento foi puxado principalmente pela indústria e pelos serviços, sendo mais que suficiente para repor o tropeço anterior (-0,5%). O desempenho ainda ficou 5,81% superior ao patamar de fevereiro de 2021 –período em que o Estado ainda vivia a segunda onda de pandemia
É o que apontam os números mais recentes do IBC-
-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). A
economia amazonense aparece
com 155,22 pontos, no melhor
desempenho desde junho de
2021 (154,05 pontos). Na média móvel trimestral, a alta foi
de 2,48%. O PIB amazonense
avançou 5,50% no bimestre e
6,74%, no acumulado de 12
meses. Economistas ouvidos
pela reportagem do Jornal do
Commercio apontam, contudo,
que os números do BC mostram
uma fotografia antiga. A crise
do IPI e a guerra na Ucrânia só
começaram na última semana
de fevereiro, e o consenso é que
seus efeitos no do PIB estadual
já devem aparecer nos próximos
levantamentos.
O Amazonas foi novamente
melhor do que a média nacional (138,83 pontos), cuja alta
mensal não passou de 0,34%,
não conseguindo repor nem
metade das perdas de janeiro
(-0,99%). O confronto com o
mesmo mês do ano passado
rendeu incremento de 0,66%,
enquanto o acumulado subiu
0,44%. A economia brasileira
subiu 0,27% no comparativo
do encerrado em fevereiro 2022
com os três meses anteriores.
Já a variação anualizada de 12
meses teve variação positiva de
4,82%. Vale notar que estes dois
tipos de comparação são os mais
usados para indicar eventuais
tendências.
O IBC-Br tem metodologia
de cálculo distinta das contas
nacionais calculadas pelo IBGE
–cuja próxima divulgação nacional está prevista para 2 de
junho de 2022. Seu cálculo leva
em conta estimativas para os
setores econômicos, acrescidos
de arrecadações de impostos.
Mas, sua divulgação não inclui
o desempenho de cada rubrica.
Dados do IBGE indicam que
tanto os serviços, quanto a indústria e o comércio do Amazonas avançaram no segundo
mês deste ano.
A manufatura amazonense retornou ao campo positivo, sendo uma das que mais
avançou em todo o país. A alta
de 11,3% na comparação com
o mesmo mês de 2021 foi alavancada pelas linhas de produção de motocicletas (+44,5%),
concentrados (+44%) e artigos
de borracha e material plástico
(+19,5%). O desempenho compensou a perda de vigor anterior
e possibilitou que o bimestre
fechasse com 3,4% de expansão.
O varejo do Amazonas voltou a respirar em fevereiro, após
sofrer dois tombos seguidos,
apesar dos aumentos da inflação
e dos juros. E, a despeito de um
Carnaval atípico, e da ômicron
em alta, conseguiu ficar 1,2%
acima do patamar pré-pandemia. Favorecido, antes de mais
nada, por uma terceira onda
de baixa intensidade, e pelo
prosseguimento da reabertura
do setor, os serviços voltaram
a colecionar os melhores indicadores locais,
com elevação
de 11,5% no
ano e de 9,9%
no acumulado.
dos pelos desempenhos do mês anterior –que foi de queda –, os recolhimentos da Receita e da Sefaz tiveram pior sorte. A arrecadação federal no Amazonas desacelerou com força e não passou de R$ 1,56 bilhão. Dilapidado pela inflação o acréscimo ante fevereiro de 2021 –período de auge da segunda onda da pandemia no Estado –não passou de 0,49%. Já a receita tributária estadual do Amazonas estagnou, ao somar apenas R$ 1,20 bilhão e subir apenas 0,69%, na mesma comparação. Em ambos os casos, as maiores baixas se deram nos tributos incidentes nas vendas.
“Antes da crise”
A conselheira do Corecon-
-AM (Conselho Regional de
Economia do
Estado do
Amazonas),
ex-vice-presidente da
entidade, e
professora
universitária,
Michele Lins
Aracaty e Silva, observa
que o Amazonas apresentou uma
“atuação positiva”, quando
comparado aos demais Estados
brasileiros. Ela avalia que o Estado ficou no azul principalmente
em função do incremento das
vendas dos produtos fabricados
no PIM, apesar dos apuros decorrentes da falta de insumos,
juros elevados e inflação.
“É bom lembrar que os resultados antecedem a queda de braço dos decretos de IPI, e mesmo os efeitos da guerra na Ucrânia. E se levarmos em consideração a base de comparação de 2021, verificamos que vivíamos uma onda de pandemia e, agora, enfrentamos uma guerra contra a inflação. Acredito que teremos um resultado bem fraco nos próximos meses, possivelmente próximo a zero. Para mim, nossa maior vulnerabilidade está na dificuldade de receber insumos e componentes [depois dos lockdowns na China]. Sem estes, o PIM não tem como continuar funcionando”, ressalvou.
A economista concorda,
contudo, que a crise do IPI e a
limitação da renda do consumidor brasileiro pela inflação
também contribuem para um
cenário desfavorável para a
indústria incentivada de 2022.
Um indicador disso viria do fato
de que nem a Copa do Mundo está conseguindo animar as
vendas de televisores no país.
“O crédito mais caro, com os
juros elevados para tentar conter
a inflação. O fato é que temos
vulnerabilidades na produção
e no consumo, e precisamos
melhorar toda a nossa cadeia
produtiva”, asseverou.
“PIB negativo”
O também conselheiro do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, avalia que o desempenho do Estado acima da média nacional, registrado em fevereiro, dá uma ideia para onde a economia amazonense estava rumando –e tendia a prosseguir, caso a geopolítica e os humores de Brasília não tivessem surgido para oferecer obstáculos ao crescimento.
“Fevereiro é um mês que já dá uma ideia de como vai fechar os primeiros trimestre e semestre do ano. É diferente de janeiro, que sofre muita influência de dezembro. Apesar da alta, á os aspectos da guerra na Europa e dos decretos de IPI, que só aconteceram no final de fevereiro. Provavelmente, quando esses períodos forem consolidados, vamos ver que a influência não virá desse crescimento de 1,71%. Se não fosse por esses dois fatores, o Amazonas estaria muito bem nessa fotografia”, analisou.
No entendimento do economista, o PIB do Amazonas já vinha sendo favorecido pelo refluxo cambial decorrente da alta da Selic e da maior entrada de capital estrangeiro para aplicações de curto prazo no país. Isso porque o dólar menos caro torna as importações de insumos mais em conta.
“O Estado estava sendo puxado pela valorização do real, apesar dos juros e da inflação alta. Esse aspecto do câmbio trouxe alívio no começo de fevereiro e iria demonstrar uma economia aquecida, se a história fosse outra”, afiançou. Mais pessimista, Francisco de Assis Mourão Júnior considera que o primeiro trimestre deve ter sido negativo para o Amazonas.
“São vários fatores que contribuem para isso e os principais são os já citados. Para a nossa região, a principal influência negativa vem dos decretos do IPI, que criam essa instabilidade. A indústria é a primeira a sentir, mas o comércio dever sofrer mais. Tudo isso, além da inflação e dos juros, deve contribuir para termos uma queda no PIB, nestes três primeiros meses do ano”, finalizou.
Fonte: JCAM