06/02/2023
O ritmo de produção e vendas da indústria amazonense voltou a oscilar em novembro, após o ensaio de recuperação anterior. O faturamento acelerou, mas em ritmo insuficiente para tirar o acumulado do ano do vermelho. O contrário ocorreu com os dados do Estado relativos ao uso da capacidade instalada das fábricas, da quantidade de horas trabalhadas, dos empregos e da massa salarial. Em contraste, na média nacional, o setor se saiu bem em todas as comparações. É o que revelam os números locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas).
Em sintonia com o esgotamento do bônus econômico conferido por desonerações e transferências de renda, e já em meio às turbulências políticas pós-eleitorais, o faturamento real da manufatura do Amazonas cresceu 1,8% na variação mensal, depois de escalar 23,7% em outubro. Foi o segundo resultado positivo seguido, mas também o mais baixo índice de crescimento em 2022. As vendas se mantiveram em alta ante o mesmo mês de 2021 (+3,9%), mas recuaram no acumulado (-3,9%). A média nacional subiu apenas 1,4% no mês, mas superou o Estado nas demais comparações (+9,9% e +2,7%).
As horas trabalhadas nas linhas de produção foram na direção oposta e retrocederam 2,7%, após a quase estabilidade detectada em outubro (+0,3%). Foi o quarto resultado negativo de 2022, em meses alternados de um ano de oscilações. O confronto com a marca de 12 meses atrás, também confirmou queda (-0,8%), embora não em volume suficiente para tirar o acumulado (+9,6%) do azul. Em todo o país, o setor praticamente parou na variação mensal (+0,1%) e não foi muito além disso no mês (+0,8%) e em 11 meses (+1,6%).
O tombo mensal foi ainda maior na UCI (utilização da capacidade instalada). O percentual de máquinas em produção não passou de 71,4% e desabou 9,8 pontos percentuais (o equivalente a 12,07%) frente a outubro (81,2% de uso). Já o confronto com novembro de 2021 (69,4% de uso) segurou elevação de 2 p.p. (+2,88%). Em 11 meses, a indústria do Amazonas usou 79,26% de sua capacidade e expandiu 2,7 p.p. (+%) ante 2021 (76,56% de uso). O indicador nacional (80,3% de uso) marcou novo empate mensal e retrocedeu 0,9 p.p. (-1,11%) em relação ao mesmo mês do exercício anterior (81,2% de uso).
Empregos e salários
Os dados relativos à mão de obra, por sua vez, não mostraram resultados melhores. O saldo de contratações no parque fabril do Estado encolheu 3,4%, na comparação com outubro do mesmo ano, depois de seis meses seguidos de desempenhos dentro do campo positivo. A alta se manteve, entretanto, no confronto com novembro de 2021 (+2,7%). Com isso, o índice de crescimento voltou a ser dilapidado no acumulado de 2022 (+5,5%). Os respectivos números brasileiros (+0,1%, +0,8% e +1,6%) foram quase todos mais fracos.
Outros levantamentos já haviam confirmado que as contratações vinham perdendo força na indústria do Amazonas, embora tenham se mantido acima das demissões. Segundo o ‘Novo Caged’, a indústria emendou seu sétimo mês seguido no azul, ao criar 245 vagas formais (+0,20%). Foi favorecida pelo reforço nas indústrias de transformação (+0,17% e +184), com destaque para produtos de metal (+173), e farmoquímicos e farmacêuticos (+104). De janeiro a novembro, criou 6.138 postos de trabalho.
A mesma desaceleração foi percebida na massa salarial real da manufatura amazonense, conforme os Indicadores Industriais da CNI. Novembro registrou decréscimo de 1,5% para a soma dos vencimentos dos trabalhadores, em intensidade suficiente para comprometer o ganho do levantamento anterior (+1,4%). Mas, o crescimento veio reforçado, na comparação com o patamar de 12 meses atrás (+20,2%), ajudando a alavancar em maior proporção o aglutinado dos 11 meses iniciais do ano (+27,2%). Com isso, o Amazonas bateu a média brasileira (+1%, +6,8% e +3,4%) em todas as comparações.
“Falta de impulsos”
Em texto e vídeo distribuídos pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, avalia que os resultados de novembro permitem identificar que houve uma perda no ritmo de atividade do setor ao menos no último trimestre do fim de ano. O economista ressalta, no entanto, que ainda é cedo para cravar que o processo de desaceleração tende a prosseguir.
“À primeira vista, os números são positivos. O faturamento real vem de uma forte sequência de altas e chegou ao maior valor desde 2015. A massa salarial também, refletindo uma melhora no mercado de trabalho, com o maior patamar desde 2020. Mas, horas trabalhadas, emprego e utilização de capacidade instalada, que são mais ligadas à atividade industrial, apresentaram crescimentos muito mais leves, na comparação com o mês anterior. A UCI vem de uma longa sequência de queda, enquanto os outros dois subíndices atravessam estabilidade”, analisou.
Sem entrar em detalhes, o executivo pontua também que os dados nacionais da edição dos Indicadores Industriais confirmam que a indústria carece de “certos impulsos” para continuar crescendo. “Por outro lado, as variáveis ligadas ao rendimento do trabalhador e ao rendimento da própria indústria seguem bastante positivas. Os Indicadores Industriais são muito importantes, porque mostram o que de fato aconteceu no setor. Ainda assim, apenas em dezembro poderemos completar esse quebra-cabeça”, ponderou, acrescentando que o levantamento é realizado pela CNI desde 1992.
“Baixas residuais”
Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, já havia destacado que os dados mais recentes refletem questões sazonais, dificuldades advindas do período de instabilidade econômica e política e problemas conjunturais da indústria. Também salientou que, a despeito das previsões de retração no cenário externo, o setor confia na capacidade de superação do Brasil e do Amazonas, graças ao potencial do mercado interno, e a consequente manutenção e crescimento da produção e empregos.
Em nova entrevista à reportagem do Jornal do Commercio, o dirigente reiterou que o desempenho da indústria ainda sofre reflexos da falta de insumos em nível global. Para o presidente da Fieam, esse seria o fator preponderante para explicar as “flutuações” de desempenho mês a mês, e um obstáculo para a análise plena dos indicadores. “A elevada taxa de juros também é um fator preponderante para refrear o crescimento”, acrescentou.
Antonio Silva estima que os dados de dezembro devem confirmar mais um ano de crescimento para o parque fabril amazonense, mas prefere não falar de expectativas para 2023, ano anteriormente classificado por ele como “desafiador”. “É importante destacar que, no saldo global, os indicadores da indústria do Amazonas são positivos. Nossa expectativa para o encerramento de 2022 é de estabilidade, com baixas residuais e brandas. O cômputo do ano, entretanto, deverá apresentar saldo positivo”, finalizou.
Marco Dassori
É repórter do Jornal do Commerci