07/10/2022
Marco Dassori
A indústria do Amazonas escalou em faturamento e produção, em agosto. Tanto as vendas, quanto as horas trabalhadas e o nível de uso da capacidade instalada das fábricas decolaram em uma escala de dois dígitos. A massa salarial avançou, mas o ritmo foi insuficiente para repor o baque anterior. O emprego, por outro lado, estacionou pelo segundo mês seguido. É o que revelam os dados locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas).
Foi a melhor coleção de índices do estudo, neste ano. O desempenho veio ao encontro da queda histórica da inflação da indústria, conforme o IBGE. O Índice de Preços ao Produtor recuou 3,11% ante julho, na maior variação negativa desde 2014, sendo puxado pela indústria extrativa (-14,18%), refino de combustíveis (-6,99%), metalurgia (-3,91%) e alimentos (-3,74%). Na comparação com o mesmo mês de 2021, o IPP cresceu 1,89% e ainda inflou os acumulados do ano (+7,91%) e de 12 meses (+12,16%). O órgão de pesquisa destaca que as variações não sofrem efeito das reduções tributárias e fretes..
Os Indicadores Industriais da CNI mostram, por sua vez, que o faturamento real da manufatura do Amazonas decolou 22,7% na variação mensal, reforçando o ganho de julho (+19,8%). Foi a segunda alta seguida, após o indicador amargar uma sequência de três meses de queda. O novo arranque, entretanto, não foi suficiente para tirar as vendas do vermelho. A queda de 3,8% ante agosto de 2021 se replicou igual performance no acumulado (-3,8%). Em contrapartida, a média nacional se manteve estável no mês (+0,2%), mas foi melhor nas demais comparações (+7,5% e -0,5%, respectivamente).
Em paralelo, as horas trabalhadas nas linhas de produção da indústria amazonense também aceleram o passo (+11,8%), entre julho e agosto, no maior acréscimo registrado em 2022. Mas, o ritmo ainda foi insuficiente para repor a perda anterior (-14,5%), em um ano marcado por oscilações. No confronto com a marca de 12 meses atrás, o indicador também tropeçou 3,8%, embora o acumulado do ano (+12,9%) tenha se mantido ascendente. Em todo o país, o setor expandiu 3,5% na variação mensal (+1,6%), além de crescer de forma mais robusta nas demais comparações (+9,2% e +3,7%).
O nível de UCI (utilização da capacidade instalada) – que trata do percentual de máquinas na produção – chegou a 84%, ao decolar 13,8 pontos percentuais (+19,66%) no mês – após chegar ao menor número do ano, em julho (70,2% de uso). Em relação a agosto do ano passado (80% de uso), a expansão foi de 4 p.p. (+5%). Em oito meses, a indústria do Amazonas usou 79,5% de sua capacidade e teve variação positiva de 3 p.p. (+3,92%) ante 2021 (76,5% de uso). Em contraste, o indicador nacional (79,9% de uso) recuou diante de julho de 2022 (80,2% de uso) e agosto de 2021 (81,5% de uso).
Empregos e salários
Os dados relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, novamente mostraram resultados conflitantes. O saldo de contratações no parque fabril do Estado foi pouco além do zero a zero e subiu apenas 0,2%, na comparação com julho. Foi o segundo empate estatístico consecutivo e a quarta ocorrência do gênero em 2022. No confronto com o oitavo mês de 2021 (-0,2%), também houve estagnação, mas já com viés de baixa. De janeiro a agosto (+8,1%) o crescimento voltou a ser dilapidado. Em âmbito nacional, a atividade também estancou na variação mensal (-0,1%), foi melhor ante o dado de 12 meses atrás (+1,7%), mas perdeu na base acumulada (+2,3%).
Outros levantamentos já haviam confirmado que contratações superam demissões na indústria do Amazonas. Segundo o Novo Caged, o setor emendou seu quarto mês seguido no azul, ao criar 897 vagas celetistas (+0,76%). O saldo foi impulsionado pelo reforço nas linhas de produção das indústrias de transformação (+930), especialmente em equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (+397). Em oito meses, foram geradas 3.497 vagas (+3,04%), nas linhas de produção do Estado.
O mesmo não pode ser dito da massa salarial real da manufatura amazonense. Agosto marcou incremento expressivo de 10,9% para a soma dos vencimentos dos trabalhadores, mas o dado veio praticamente na metade do tamanho do tombo sofrido em julho (-20,4%). Em relação ao patamar de 12 meses atrás, contudo, foi registrada uma decolagem de 27,7%, ajudando a manter o aglutinado dos oito meses inicias do ano em elevação de 28,2%. Na média brasileira, a variação mensal ficou negativa em 0,5% no confronto com julho, mas ganhou acréscimos nas elevações anual (+5,8%) e acumulada (+3%).
“Resultados misturados”
Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, diz que a pesquisa mostra alguma acomodação e “resultados misturados” para a indústria, após o aquecimento dos últimos meses. O economista acrescenta que a UCI já vem caindo há algum tempo, após ficar “bastante elevada” e acima da marca dos 80% em 2021. A “folga” poderia ser explicada pela superação parcial dos problemas da cadeia de insumos, que vinham travando a atividade
“Tivemos um aumento pequeno no faturamento e um bom acréscimo nas horas trabalhadas, mas sofremos quedas no emprego, uso da capacidade instalada e massa de salários. O setor vinha crescendo, mas com resultados não muito fortes nessas variáveis. Acomodações como essa acontecem, mas não necessariamente implicam que a tendência será positiva será revertida, tampouco que teremos altas nos próximos meses”, ponderou.
“Momento positivo”
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforçou que a economia funciona de forma cíclica, sendo natural que os números apresentem alguma retomada, após inflexões negativas, e vice-versa. O dirigente ressalvou ainda que as bases comparativas foram prejudicadas, em decorrência da pandemia e do problema global na cadeia de fornecimento de insumos, embora a demanda reprimida também ajude as empresas.
Em nova entrevista, Antonio Silva afiançou que os números são reflexo do “momento positivo” que a economia tem apresentado nos últimos dois meses, coroados pela queda recorde da pressão inflacionária sobre os preços industriais. O presidente da Fieam avalia que, a despeito das incógnitas trazidas pela corrida eleitoral, o cenário de curto prazo é favorável, especialmente em virtude da sazonalidade de fim de ano.
“Apesar de o cenário ainda demandar cautela, muito em razão das questões macropolíticas e do desalinhamento global na cadeia de insumos, nossas expectativas para esse último trimestre são positivas. Ainda mais se considerarmos o fator Copa e as festividades de final de ano. E a queda da inflação sobre a indústria do refino de petróleo é especialmente importante, uma vez que a indústria de combustíveis, assim como a energética, possui capilaridade entre os demais setores fabris, posto que transporte e energia são fatores primordiais para o pleno exercício da atividade industrial”, finalizou.
Fonte: JCAM