28/12/2022
A Fieam estima que o PIM deve fechar o ano com faturamento de US$ 34,71 bilhões (ou R$ 179,83 bilhões). Caso os Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus confirmem esses números, nas próximas divulgações da Suframa, o parque fabril da capital amazonense terá avançado 15,06%, em dólares, e 10,42%, em reais, ante 2021. Os números correspondem a menos da metade das projeções iniciais da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas para o período. Diante das incertezas de 2023, a entidade prefere não arriscar números para o ano novo.
O cálculo da Fieam é mais otimista do que o da Suframa, que chegou a estimar, neste mês, que as vendas do PIM deveriam encerrar 2022 em R$ 175 bilhões. Vale notar que, em ambos os casos, a base de comparação foi depreciada pelos impactos econômicos da segunda onda da Covid-19, em um ano em que os efeitos benéficos da vacinação em massa só começaram a ser sentidos no segundo semestre. Ainda assim, o desempenho é muito mais generoso do que o crescimento calculado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) para a indústria brasileira (+1,8%).
As estimativas da Fieam para a mão de obra do PIM também são positivas para este ano. A projeção é que o Polo Industrial de Manaus encerre o atual exercício com média mensal superior a 112.961 postos de trabalho, entre efetivos, temporários e terceirizados, conferindo incremento de 3,32% sobre o dado de 2021 (105.846). O número mais recente dos Indicadores da Suframa, divulgado nesta terça (27), indicava média de 115.313 trabalhadores no PIM, em outubro de 2021.
Informática e duas rodas
Nos cálculos da Fieam, o crescimento deve ser uma realidade para quase todos os principais subsetores industriais, mas o destaque vem principalmente de seis deles. O polo de bens de informática aparece com o maior volume de faturamento (R$ 51,56 bilhões ou US$ 10,05 bilhões) e altas respectivas de 13,87% e 19,93% sobre 2021. O de duas rodas (R$ 27,05 bilhões ou US$ 5,26 bilhões), por outro lado, se sobressai pelos índices de crescimento nas vendas (+34,85% e +41,02%).
Outros segmentos que sinalizam fechar o ano com altas de dois dígitos são o de produtos químicos e termoplásticos. O primeiro, que tem seu destaque nas linhas de produção de concentrados para refrigerantes, deve crescer 18,48% (R$ 15,71 bilhões) e 23,98% (US$ 3,05 bilhões), conforme a estimativa da Fieam. O segundo, que foi destaque em termos de novos projetos nas reuniões do CAS e do Codam deste ano, aparece com incrementos respectivos de 9,99% (R$ 15,63 bilhões) e 15,15% (US$ 3,04 bilhões).
O segmento metalúrgico aparece com números mais acanhados, tanto em real, (+2,99% e R$ 13,79 bilhões), quanto em dólar (+7,63% e US$ 2,68 bilhões). Em sintonia com a estagnação registrada até novembro, o polo eletroeletrônico aparece com os resultados mais modestos da lista (R$ 33,83 bilhões ou US$ 6,54 bilhões), que correspondem a altas de 0,77% e 5,14%. O único dos subsetores do PIM a apresentar redução em ambas as comparações (-26,13% e -22,92%) é o mecânico (R$ 10,12 bilhões ou US$ 1,95 bilhões).
Mesmo linhas de produção que vinham acumulando desempenhos negativos ano a ano, e que sofreram dificuldades ainda maiores nos dois anos iniciais da pandemia, devem consolidar recuperação ao final de 2022, de acordo com a análise da Fieam. Segmento já tradicional no PIM, o polo relojoeiro do PIM deve fechar o presente ano com faturamento de R$ 1,29 bilhão e avançar 13,16% sobre 2020. Em dólares (US$ 251,35 milhões), a expansão deve ser de 19,43%.
Em texto divulgado pela assessoria de imprensa da Fieam, o presidente da entidade, Antonio Silva ressaltou que, a despeito dos obstáculos enfrentados durante ao longo do ano, “quando os ataques aos principais segmentos produtivos do PIM se fizeram mais fortes”, atingindo os carros-chefes do PIM –eletroeletrônicos, duas rodas, informática e concentrados de refrigerantes –, a indústria incentivada conseguiu alcançar resultados “bastante satisfatórios”, comprovando “o comportamento positivo e a resiliência da indústria local”.
Incertezas e tensões
O dirigente, que também é vice-presidente executivo da CNI, avalia que um dos fatores que comprometeu o desempenho da indústria foi o aumento consecutivo nos preços dos combustíveis, dada a sua influência direta nos custos de produção e nos transportes, em uma região desfavorecida do ponto de vista logístico. O primeiro semestre teria sido o período de maior dificuldade, já que registrou três reajustes no valor do litro da gasolina, e quatro no do litro do diesel. O terceiro trimestre mostrou refluxo nos preços, que gerou três meses de deflação, até o repique inflacionário de outubro.
A escalada nos preços dos combustíveis, assim como de outras commodities e produtos estratégicos sofreu influência direta da guerra na Ucrânia, que foi decisiva para as oscilações no IPCA. “Esse fato e as instabilidades ocorridas nas economias dos EUA e da China levaram o BC (Banco Central) a aumentar a taxa de juros básica para tentar controlar a inflação. Em agosto a Selic atingiu 13,75%, fazendo com que o crédito ficasse mais caro para reduzir o consumo na tentativa de forçar os preços a cair”, lembrou.
Antonio Silva lembra que, para tentar animar a demanda, o governo federal liberou retirada de recursos de contas do FGTS, e vitaminou o Auxílio Brasil, além de pagar voucher a taxistas e caminhoneiros. “Foi um desempenho ruim da economia em 2022, ano eleitoral, com retração de investimentos e muitas incertezas, além de tensões sociais e uma política fiscal contracionista, ou seja, retirou recursos de circulação e o fôlego da atividade produtiva”, analisou.
Sinais preocupantes
O presidente da Fieam destaca que economia não é uma ciência exata, dificultando previsões confiáveis, mas não deixa de dizer que esta mostra “sinais preocupantes”. Um deles é a expectativa de uma possível recessão global. Além disso, observa que o conflito entre Rússia e Ucrânia não tem data para terminar e que a inflação ainda consome a renda de pessoas em vários países.
O industrial ressalta os efeitos no Brasil e no Amazonas. “O ano será desafiador pelos grandes problemas macroeconômicos que enfrentaremos, a projeção que se faz é de baixo crescimento do PIB, cogitado em 1,2%. A taxa de juros está sendo projetada em 11,75% ao ano para combater a inflação, que se estima acima de 5% durante todo o ano. Mas, alguns economistas estimam que a inflação pode cair para 4,2%, à medida que os efeitos dos preços mais altos da energia e dos alimentos diminuírem”, ponderou.
Ele frisa, contudo, que ainda não há consenso e que tudo não passa de conjecturas. A única certeza, conforme o executivo, é que o Amazonas deve se manter “vigilante” para as modificações que poderão vir com a reforma Tributária, no sentido de evitar possíveis efeitos negativos para as vantagens fiscais e constitucionais da Zona Franca de Manaus.
Marco Dassori
É repórter do Jornal do Commercio
Fonte: jcam