05/10/2020
Fonte: Valor Econômico
A maior dúvida é como o setor e a atividade econômica em geral vão reagir ao fim dos estímulos creditícios e fiscais e ao aumento das incertezas sobre as contas públicas
O desempenho da produção industrial, embora um pouco abaixo do esperado, dá continuidade ao processo de recuperação do setor, que ocorre desde maio e que deve se estender pelo quarto trimestre, embora numa magnitude menor, afirmam economistas.
A maior dúvida é como o setor e a atividade econômica em geral vão reagir ao fim dos estímulos creditícios e fiscais e ao aumento das incertezas sobre as contas públicas.
“Os efeitos do estímulos ainda deverão ser fortes no quarto trimestre. A perspectiva é de continuidade de melhora da indústria e da atividade. Os indicadores de confiança vão nessa direção”, afirma Rodrigo Nishida, da LCA Consultores. “Mas há uma preocupação para o começo do ano que vem. Há muitos riscos”.
Nesta sexta-feira (2), o IBGE informou que a produção industrial de agosto aumentou 3,2% sobre julho, quarto mês seguido de alta. A projeção preliminar da LCA para setembro é de alta de 1,4% sobre o mês anterior.
A informação mais importante trazida pela produção industrial de agosto é que o setor deve fechar o terceiro trimestre com um número forte, com alta de cerca de 20% sobre o segundo, segundo Flavio Serrano, economista-chefe do banco Haitong.
“Há muita influência da baixa base de comparação, mas o fato é que a indústria recuperou praticamente tudo o que perdeu na pandemia”, observa o economista. Há pontos negativos, como a grande distância dos bens de capital dos níveis pré-pandemia (13% abaixo), a maior entre as categorias econômicas da pesquisa. O excesso de incertezas, diz Serrano, está desestimulando o investimento.
Uma desaceleração é esperada na indústria no quarto trimestre, período em que os serviços devem ganhar mais força por causa do maior relaxamento das restrições à circulação. “É um movimento natural.”
O cenário mais à frente, em 2021, pode ser prejudicado pelo aumento da incerteza fiscal. O ruído em torno das questões fiscais, afirma, eventualmente afetará a atividade. “Leva um pouco de tempo para isso acontecer, mas o problema é que o governo está mudando o foco do médio e longo prazo, ou seja, do ajuste fiscal, das reformas e da agenda de produtividade, para questões de curto prazo”, diz.