25/11/2022
Por Marco Dassori
O desempenho da indústria despencou, em outubro, e ajudou a derrubar a confiança do setor, no mês seguinte. De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), os 29 setores da indústria brasileira analisados pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial por setor mergulharam em novembro, incluindo linhas de produção de destaque para o PIM, como termoplásticos e de máquinas e equipamentos (fabricantes de ar condicionado e terminais bancários, em detrimento dos polos químico e de bebidas. A manufatura da região Norte, no entanto, foi a que sofreu o menor revés, e que manteve o maior patamar de otimismo.
A retração generalizada veio ao encontro do desempenho negativo do setor, no mês anterior. A Sondagem Industrial da mesma CNI, mostra que o índice de evolução da produção industrial emendou sua segunda queda consecutiva, sendo este o primeiro mergulho registrado para os meses de outubro, desde 2016. O mesmo pode ser tido da UCI (utilização da capacidade instalada) das fábricas, que está em 71%, e do emprego, que interrompeu uma sequência de cinco meses consecutivos de alta. O setor também sofre com aumento de estoques além do planejado, e mantém expectativas de quedas no emprego e nas exportações.
Segundo a Sondagem Industrial, da mesma CNI, o índice de evolução da produção industrial emendou um segundo mês seguido de queda, em outubro, mantendo-se em 48,5 pontos – sendo que valores abaixo da linha divisória dos 50 pontos indicam desempenho negativo. Em dois meses, o nível de uso da capacidade instalada das fábricas acumula queda de dois pontos percentuais e ficou em 71%. O emprego (49,6 pontos) também retrocedeu, após cinco meses seguidos de crescimento, marcando o primeiro declínio nesse tipo de comparação para o mês, desde 2019.
A indústria nacional aponta aumento de produtos estocados, elevando o indicador para 51,5 pontos. O índice de estoque efetivo em relação ao planejado se afastou da linha divisória dos 50 pontos, subindo de 50,9 pontos para 52,4 pontos, no maior nível desde julho de 2019. Em sintonia, as expectativas também derreteram. Conforme a CNI, é a primeira vez, em mais de dois anos, que há expectativa de queda no emprego industrial e nas exportações, para os próximos seis meses. Há ainda menos otimista em relação à compra de matérias-primas e ao nível de demanda. Tanto que o índice de intenção de investimento (-3,9 pontos) marcou seu menor patamar (53,5 pontos) desde agosto de 2020.
Piora generalizada
O ICEI – Resultados Setoriais mostra que todos os subsetores da indústria presentaram “queda forte e disseminada” da confiança, neste mês. A maior redução veio de produtos de madeira, que mergulhou 14,1 pontos, embora tenha se mantido na margem de confiança (59,1 pontos). O indicador varia de zero a 100 pontos, sendo que valores acima dos 50 pontos indicam confiança. Conforme a queda reflete a avaliação negativa do momento atual e expectativas negativas para os próximos seis meses.
Os índices de oito subsetores entraram no terreno da desconfiança. Linhas de produção importantes para o Polo industrial de Manaus acompanharam esse movimento, a exemplo de produtos de material plástico (-11 pontos), e de máquinas e equipamentos (-8 pontos). Os subsetores de couro e móveis (ambos com -12,7 pontos), de celulose, papel e produtos de papel (-11,6 pontos) e de produtos de borracha (-7,4 pontos) também estão nessa lista. Entre as 21 divisões industriais que se mantiveram no território positivo, os melhores números também vêm de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (57,8 pontos), bebidas (55,4 pontos) e químicos (55 pontos), entre outros.
O otimismo também foi reduzido em todas as regiões, mas apenas o Sul trocou de sinal. Em contraste, a região Norte sofreu a menor queda (6 pontos) e mantém o maior escore (56,7 pontos) em todo o país. O movimento descendente também foi uma realidade para todos os portes de empresas, especialmente entre as empresas de médio porte (-10 pontos). Nas pequenas e grandes, as diminuições foram de 7,4 pontos e 7,7 pontos, respectivamente. Mas, os índices de todos os portes permanecem na marca da cofianaça (acima dos 50 pontos).
Logística e Natal
Em material divulgado pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade empresarial, Marcelo Azevedo, destacou que a evolução dos estoques, de acúmulo bem acima do planejado pelos empresários, acende um sinal de atenção. “A demanda ficou inferior à produção, mesmo com a queda da atividade, sugerindo frustração dos empresários com a demanda, o que já contaminou as expectativas”, lamentou, sem mencionar as demais quedas.
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, ressalvou que a indústria de transformação ainda apresentou “bons dados” nos últimos meses. O dirigente reforçou que a economia funciona de forma cíclica. Observou ainda que o problema global na cadeia de fornecimento de insumos ainda está presente no dia a dia da indústria, que também se ressente dos impactos da inflação e dos juros na demanda e na confiança das famílias, assim como no giro das empresas.
“Apesar de o cenário ainda demandar cautela, muito em razão das questões macropolíticas e do desalinhamento global na cadeia de insumos, nossas expectativas para esses últimos meses do ano são positivas. Ainda mais se considerarmos o fator Copa e as festividades de final de ano”, avaliou. “Apesar de uma retomada gradativa, temos que considerar que o mercado ainda está suscetível a oscilações decorrentes de fatores econômicos internos e externos, que afetam o segmento industrial em âmbito global”, sintetizou.
Já o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, ressaltou que a seca atípica de 2022 se aliou às crises logísticas decorrentes da pandemia para comprometer os resultados dos fabricantes. “O abastecimento teve e ainda tem algumas dificuldades, devido à incapacidade de navios operarem com carga total na região, em virtude da vazante deste ano. Alguns armadores com navios maiores tiveram de suspender a rota até Manaus”, frisou.
O dirigente, contudo, se mostrou otimista em relação aos próximos meses. “Acredito que, novamente, em média, e na sua maioria, haverá um equilíbrio com uma pendência para o lado positivo. A economia continua, de forma geral, apresentando sinais de recuperação. E, com o evento natalino em sua reta final, é agora que veremos o impacto dos esforços finais em atender esse momento”, finalizou.
Os números do ICEI – Resultados Setoriais, da CNI, foi obtido por meio de entrevistas com 2.132 empresas, sendo 846 de pequeno porte, 772 de médio porte e 514 de grande porte, entre 1º e 10 de novembro. Conduzida pela mesma entidade, a Sondagem Industrial consultou 1.757 companhias, sendo 703 pequenas, 615 médias e 439 grandes, entre 1º e 10 de novembro. Não foram informadas as segmentações das fontes, por regiões.
Fonte: JCAM