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Indústria de Manaus tenta proteger os fornecedores locais

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15/03/2016

Com 40% de queda da produção em 2015, a Sawen, empresa de estamparia e usinagem com unidade no Polo Industrial de Manaus, teve seu quadro reduzido de 160 trabalhadores, no fim de 2014, para 53 em outubro de 2015. A redução de funcionários foi resultado da transferência de toda a linha de usinagem da capital amazonense para a unidade de São Paulo. Foi assim que o empresário Manuel Lopes Braz, diretor da Sawen, desistiu no ano passado dos planos para expansão da produção manauara.

A ideia inicial, diz Braz, era o contrário. Era transferir parte da produção paulista para Manaus e fazer da fábrica amazonense a principal unidade da empresa tanto na área de usinagem como de estamparia. O plano foi idealizado em meio à expansão de produção da região. Em 2015, porém, a indústria amazonense amargou queda de produção industrialde 16,8%, nível que representa o dobro dos 8,3% de recuo do restante do país. Os dados dos últimos meses também não são animadores. Em dezembro e janeiro, o recuo no Amazonas foi de 30% e 30,9%, respectivamente, contra 12,1% e 13,8% na média do Brasil, sempre contra igual mês do ano anterior.

A decisão de deixar apenas a estamparia em Manaus e instalar a linha de usinagem em São Paulo, diz Braz, não foi tomada isoladamente. A transferência só foi efetivada após consulta à fabricante de motocicletas Honda, companhia para a qual, conta o diretor, a Sawen destina praticamente toda a produção de estamparia de Manaus e 80% da usinagem em São Paulo.

"A Honda não se opôs a isso, inclusive incentivaram, para podermos sobreviver", diz o empresário. A migração da linha para a região Sudeste não vai elevar, para a Sawen, o custo do fornecimento para a montadora de duas rodas, segundo Braz. "A Hondarecolhe as peças usinadas em São Paulo, com custo zero para nós."

A influência da Honda nos planos da Sawen não foi um acaso. A dificuldade de sobrevivência da cadeia de produtores de insumos e componentes é generalizada entre as grandes empresas e está no centro da atenção da indústria da região, segundo representantes do setor e os porta-vozes de companhias como Honda, Whirlpool e Panasonic.

O cuidado vai bem além do simples monitoramento. Para garantir a sobrevivência dos fornecedores durante a crise, as multinacionais flexibilizam a negociação de preços, emprestam matéria-prima e até antecipam faturamento. "Estamos muito preocupados com a manutenção da atividade dos fornecedores", diz Mário Okubo, gerente de relações institucionais da Honda. "Com menor volume de produção, as empresas encontram dificuldade de financiamento."

A preocupação não ocorre à toa. Com capacidade para produção de 2 milhões de motos ao ano, a fábrica amazonense daHonda colocou na rua somente 1,05 milhão de unidades em 2015, resultado da retração do consumo doméstico e também do enxugamento do crédito. Em 2011, recorda Okubo, a produção alcançou 1,68 milhão de unidades. Para 2016, diz o gerente, o esforço é para manter o mesmo nível de produção do ano passado.

"Nós sabemos que a economia vai se recuperar, mais cedo ou mais tarde. Como somos uma multinacional, temos uma matriz que nos dá suporte. Mas os fornecedores não têm", diz César Augusto Ueda, gerente-geral administrativo da Panasonic em Manaus.

Fabricante de televisores, micro-ondas e equipamento de som, a Panasonic de Manaus sofreu no ano passado queda de produção física de 20% em relação a 2014. No primeiro bimestre deste ano, o recuo foi de 10%. A perda de produção tornou necessário cortar custos e efetuar demissões. Hoje, conta Ueda, a fábrica tem 800 trabalhadores. No fim de 2014 eram 1.000. O nível de produção para este ano, diz o gerente, ainda é uma incógnita, mas o plano inicial é manter o nível de 2015.

Os números da Panasonic e da Honda não são isolados. Wilson Périco, presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam) destaca que o polo manauara produz principalmente bens de consumo duráveis para o mercado doméstico. "A indústria como um todo sofreu e a nossa indústria mais ainda, antes dos outros", destaca.

Segundo dados do Cieam, o faturamento total do polo industrial de Manaus vinha crescendo desde 2011, com expansão de 13,3% em 2013 e 4,91% em 2014. No ano passado, porém, houve queda nominal de 10,21%. "O recuo, na verdade, foi maior. Com a inflação, superou os 20%."

A dispensa de trabalhadores também foi generalizada, tanto em empresas produtoras de bens finais quanto entre os componentes. Segundo dados do Ministério do Trabalho, no ano passado, em Manaus, o saldo líquido entre contratados e demitidos foi negativo, de 37.830 pessoas. A perda de postos representou 8,9% do estoque de trabalhadores do município ao fim de 2014. O corte relativo foi maior do que no restante do país, no qual a perda representou 3,74%.

Nem sempre, porém, esses ajustes são suficientes para manter o fluxo de caixa dos fornecedores nacionais, diz Périco. Ele conta que os grandes fabricantes, mesmo com queda de produção, têm mantido o cronograma de pedidos para garantir saúde ou sobrevida aos fornecedores. A Technicolor Brasil Mídia, fabricante de aparelhos telefônicos, é uma das empresas que têm feito isso desde que a crise se agravou no segundo semestre do ano passado, diz Périco, que também é vice-presidente de operações da América Latina da empresa.

A falta de recuperação no primeiro bimestre torna mais difícil enxergar melhora no horizonte. Mas, para garantir a manutenção do fornecedor quando isso acontecer, conta Ueda, há multinacionais que estão antecipando faturamento para as empresas. "Se uma empresa dessas fechar, não volta mais. É uma preocupação social, mas não só isso. É uma preocupação com o nosso próprio negócio."

"Cuidar e subsidiar o fornecedor e não perder a linha de abastecimento é a principal preocupação da indústria hoje. É como numa guerra, é preciso manter fornecimento e logística", diz Armando Ennes do Valle Jr, vice-presidente de manufaturas e relações governamentais da Whirlpool. Ele exemplifica com os fabricantes de cavidades para micro-ondas, um dos produtos que a companhia americana fabrica na capital amazonense, ao lado de ar-condicionado e lava-louças. "Posso destruir esse segmento simplesmente parando essa fábrica por 30 a 40 dias", conta.

Okubo, da Honda, cita números que mostram o impacto da atividade dos fabricantes de bens finais no restante do polo. Em 2011, no auge da produção, a unidade amazonense da fabricante japonesa chegou a empregar 11 mil trabalhadores. Atualmente, são 7 mil. "Isso somente os funcionários diretos. É possível sentir o impacto nos indiretos quando se pensa no número de refeições que servimos. Em 2011, eram cerca de 15 mil ao dia. Hoje são de 8,5 mil a 9 mil."

Segundo Valle Jr, o monitoramento do fornecedor inclui não somente flexibilidade de negociação. "Tudo vale. Eu tenho alguns fornecedores que são os mesmos da Honda. Então eu falo com o Mário [Okubo] e a gente troca informação. Olha, precisamos prestar atenção em fulano. Ah, você está emprestando matéria-prima para ele? Eu também estou", conta.

Périco, do Cieam, conta que o empréstimo de matérias-primas tem sido possível principalmente quando o fabricante de bens finais mantém um determinado processo fabril, mas também terceiriza parte dele. "Por isso, há uso de matéria-prima em comum entre o fabricante e o fornecedor."

Valle Jr. não minimiza o risco de ficar sem uma parte da cadeia de abastecimento. "Se eu perder meu fornecedor, o que vou fazer? Trazer de São Paulo, importar da China? Não é tão simples resolver isso. A cavidade para micro-ondas, por exemplo, é uma caixa de aço grande, eu tenho que ficar preocupado." Na Whirpool, a queda de produção no ano passado principalmente nos aparelhos de ar-condicionado e de micro-ondas gerou dispensas e também reduziu as contratações. No período de alta sazonalidade, entre outubro e março, diz Valle Jr, trabalham na unidade amazonense, historicamente, 2,2 mil pessoas. Este ano o quadro caiu para 1,6 mil.

Fonte: Valor Econômico

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