20/01/2014
"Estamos esperando um crescimento forte para este ano", prevê o superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira. Nessa previsão, ele considera expansão de 15% na produção de TVs por causa da Copa do Mundo, o impulso advindo dos cerca de 40 novos projetos industriais aprovados a cada dois meses no polo industrial de Manaus, o avanço na fabricação de smartphones e a retomada no ritmo de produção de motos.
Segundo o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, apesar da retração nas quantidades produzidas até novembro de 2013 de motocicletas, televisores e telefones celulares, a indústria de Manaus cresceu em 2013, puxada por segmentos que foram "muito bem", como tablets, ar-condicionado split e videogames.
"O ano passado foi o ano do tablet", diz Nogueira. Em 2012 inteiro foram produzidos 197,6 mil tablets. Para 2013, a perspectiva é ter fabricado 2,5 milhões de unidades. Até novembro, foram 2,2 milhões de tablets produzidos em Manaus. Ele observa que a indústria local tem um perfil diferente da do País, pois é especializada em bens de consumo duráveis que se renovam. Isso significa que, se um produto não vai bem, ele acaba sendo substituído por outro.
Essa flexibilidade da indústria do polo de Manaus explica em parte por que o nível de emprego foi recorde no ano passado. Mais otimista do que o superintendente da Suframa, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, Valdemir Santana, projeta que o polo tenha encerrado 2013 com 130 mil trabalhadores. "Esse é um nível ótimo", diz ele. Em dezembro do ano passado, o sindicato homologou 2.146 demissões, 13,4% a menos do que no mesmo mês de 2012.
Discrepância. Inaldo Seixas Cruz, supervisor técnico do Dieese do Amazonas, confirma o nível recorde de emprego da indústria do polo industrial de Manaus. Segundo ele, a discrepância que há entre o comportamento da indústria de transformação nacional e a de Manaus pode ser explicada em parte pelo fato de as fábricas do PIM estarem voltadas principalmente para o mercado doméstico.
A última pesquisa de produção industrial do IBGE mostra que, de janeiro a novembro do ano passado, a indústria nacional cresceu 1,4% e a do Estado do Amazonas avançou 1,5% no mesmo período. Já o pessoal ocupado na indústria caiu 1,1% no País em 2013 até novembro.
O economista Mauro Thury de Vieira Sá, professor da Universidade Federal do Amazonas, pondera que comparações entre faturamento e volume de produção podem levar a divergências. De toda forma, os números mostram comportamentos distintos entre a indústria nacional e a do polo de Manaus. Ele ressalta também que o peso da indústria do Amazonas na produção industrial brasileira é muito pequeno, 3,7%, e que na apuração do IBGE não são incorporados produtos novos que fizeram toda a diferença na produção industrial de 2013.
Montadora. Para o ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida, o comportamento da indústria de Manaus não se contrapõe ao da indústria de transformação nacional por dois motivos. O primeiro é que a sua representatividade é pequena. O segundo motivo é que a indústria de Manaus cresce sem agregar muito valor aos produtos fabricados.
Essa também é a avaliação do economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza. "A Zona Franca de Manaus importa muitas peças e boa parte é montagem de produto. O faturamento está crescendo porque tem demanda e a massa de rendimento médio do trabalhador continuou aumentando e o emprego também."
Mas um estudo feito com dados do IBGE, por Vieira Sá e pelo economista José Alberto da Costa Machado, também da Universidade Federal do Amazonas, rebate com números a crítica de que a indústria de Manaus não passa de uma montadora. "A partir de 2006, a produção industrial de Manaus agregou mais valor do que a indústria nacional", afirma Vieira Sá.Em 2010, para cada R$ 100 produzidos, a indústria de Manaus agregou R$ 45,40 e a indústria brasileira, R$ 43,20, diz. A maior agregação de valor da produção de Manaus se deve, segundo Vieira Sá, às exigências do Processo Produtivo Básico (PPB), que determina índices de nacionalização de componentes.
Fonte: O Estado de São Paulo