05/02/2014
Nem mesmo as benesses tributárias dadas pelo Ministério da Fazenda ao longo do ano passado e a alta de 21,55% do dólar, nos últimos 12 meses, foram capazes de mudar esse quadro. Dezembro registrou o pior desempenho para a produção em cinco anos, com queda de 3,5% em relação a novembro.
As más notícias, no entanto, ainda não acabaram. Os números do IBGE fizeram o mercado revisar as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 e estimar que os três primeiros meses de 2014 devem ser ainda mais frustrantes. "A indústria terminou o ano passado com o nível de produção baixo, o que deixa um carregamento estatístico ruim para o começo de 2014", explicou Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco. "Mesmo que, em janeiro, haja alguma compensação da queda de dezembro, o risco de um PIB mais fraco no primeiro trimestre aumentou", disse.
Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil, ponderou que os números do IBGE veio no piso das expectativas. "Ainda não podemos falar em tendência, mas já dá para ficar com um pouco de receio para o início de 2014. O ano deve começar difícil para a indústria", observou.
Na avaliação de Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora, a fraqueza do setor industrial, neste ano, será notada, sobretudo, na produção e na venda de automóveis. "O persistente incentivo tributário, no ano passado, impulsionou uma forte antecipação de demanda. Esse movimento, associado à elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) — o governo recompôs quase todo o tributo —, deve resultar em menor demanda por veículos em 2014", projetou.
As expectativas de parte dos analistas, depois dos dados anunciados pelo IBGE, são de que o Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre tenha aumentado, no máximo, em 0,4%. Para este ano, as previsões para o crescimento da economia têm girado ao redor 1,5%. Cristiano Oliveira, economista-chefe do banco Fibra, está entre os pessimistas. Para ele, as projeções para 2014 podem passar por mais revisões e a indústria deve colaborar pouco, ou quase nada, para mudar essa percepção. "A desaceleração da atividade industrial é generalizada", observou. "O setor fechou o ano com estoques elevados e há ainda o peso de incertezas domésticas e externas."
Aperto
André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, fez uma lista dos problemas que afetam o setor. Ele explicou que, entre outros fatores, houve um aumento de produtos importados, menor demanda internacional, estoques elevados e comprometimento da renda das famílias. Aliado a tudo isso, veio o aperto monetário promovido pelo Banco Central — que levou a taxa básica de 7,25% ao ano, em abril do ano passado, para 10,5% no mês passado. "Encerramos 2013 com um patamar de produção equivalente ao do fim de 2009, quando a indústria ainda sentia os efeitos da crise imobiliária nos Estados Unidos. De lá para cá, o setor vem tentando recuperar o que foi perdido", disse.
Mariana Hauer, do banco Fibra, inclui a Argentina entre os problemas. "A situação do país vizinho, que já não vinha boa, piorou nas últimas semanas.O Brasil exporta principalmente manufaturados para lá, e uma desaceleração deles impacta a nossa produção industrial", observou.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, tenta ser otimista. Para ele, é inevitável que sejam feitas mudanças na política econômica. O especialista aposta, porém, que esse movimento só ocorra depois das eleições de outubro. "O governo deve trabalhar para elevar a poupança interna, reduzindo gastos públicos e propondo reformas estruturais. Isso vai ajudar a aumentar os investimentos e a melhorar as expectativas de médio e longo prazo em relação ao Brasil", disse.
Fonte: Correio Braziliense