04/01/2019
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
Qual o futuro reservado para a
Zona Franca de Manaus (ZFM)? O modelo
que em 2018 completou 51 anos, encerrou o
ano com a notícia ruim da saída de grandes
empresas. O ano de 2019 começa com a
missão de alinhar o planejamento com os
novos governantes do Amazonas e do Brasil.
A palavra de ordem dos mandatários ouvidos
pelo Em Tempo continua sendo de garantir
a segurança jurídica, evitar que outras
empresas deixem o Polo Industrial e,
principalmente, diversificar a economia do
Amazonas.
A influência do decreto presidencial nº 9.394
de maio de 2018, que alterou a alíquota de
IPI (Imposto sobre Produto Industrializados)
do Polo de Concentrados está descartada
como fator predominante que levou a saída
de empresas, como a Siemens e a Pepsi, do
Polo Industrial de Manaus (PIM). Essa
informação foi um consenso entre os
entrevistados, mas não deixou de acender
um sinal de alerta.
O presidente do Centro da Indústria do
Amazonas (Cieam), Wilson Périco, diz que
ainda não dá para saber o motivo dessas
saídas, mas lembrou velhos problemas
conhecidos que continuam a ser uma “pedra
no sapato” da indústria regional, como
insegurança jurídica e burocracia”.
“Não queremos levantar a questão do decreto
(concentrados), mas encontrar o porquê de
duas grandes multinacionais deixarem o Polo
Industrial de Manaus. Essa mensagem é
péssima para os investidores”, disse.
Périco falou sobre a saída de outra grande
multinacional, a Siemens, ainda este ano e
esclareceu que existe outros problemas por
trás das partidas repentinas.
“A Siemens, assim como a Philips, um tempo
atrás, estava querendo aprovar PBB
(Processo Produtivo Básico), mas não
conseguiu e aconteceu que o concorrente
lançou o produto que era inovador antes.
Eles perderam o interesse de ficar aqui”.
Wilson complementou dizendo que a Pepsi
não saiu do PIM pura e simplesmente pela
força do decreto presidencial, que causou
grande desconforto no Polo de Concentrados.
“Uma decisão não é tomada de repente,
dentro de um mês, em uma empresa como
esta. Temos que repensar os nossos direitos
que estão na constituição de oferecer os
incentivos fiscais e atrair empresas. Sem isso,
nós não vamos alavancar maior atividade
econômica em Manaus”, disse.
PPB
Périco ainda fez duras críticas ao fato da dificuldade para aprovar PPBs. “Gostaria de saber por qual razão é difícil aprovar PPB’s de produtos inovadores para cá? Nos questionados ainda sobre o porquê dos técnicos em Brasília decidem se o produto pode ou não pode ser produzido no PIM, uma vez que a própria constituição, garante esse direito. Tem PPB de luminária elétrica que até hoje não saiu. Nós não precisamos de favor, não precisamos de ajuda, precisamos de respeito aos nossos direitos”, desabafou.
Questionado sobre o sentimento empresarial
frente aos problemas enfrentados por quem
persiste em continuar instalado no PIM,
Wilson foi enfático:
"Quando você muda a regra de uma
competição em pleno funcionamento dela,
você gera inquietação e preocupação nos
participantes dela. Essas mudanças geram
incertezas nas empresas que aguardavam
melhorias para se instalar aqui”, concluiu.
Azevedo entende a saída da Pepsi como
isolada. “Há preocupação, mas esperamos
que se tenha uma forma de contemporizar e
a gente não ter saída das demais empresas no
setor. E quanto aos demais segmentos que
geram essa preocupação, estamos tentando
transmitir tranquilidade para que o PIM siga
seu funcionamento”.
Novos governos
Sobre as mudanças de comando no
Amazonas e no Brasil, desde esta terça-feira
(1º), Nelson Azevedo revelou que já teve conversas com os novos mandatários, e que
tanto Wilson Lima, quanto Jair Bolsonaro
estão comprometidos com a Zona Franca de
Manaus.
“A ZFM é um projeto estratégico para o
desenvolvimento de toda região Norte.
Então, vamos espera que sejamos capazes de
unir as forças para restabelecer a autonomia
da Suframa. Na reforma tributária já tem a
menção de preservar os direitos
constitucionais dos incentivos fiscais. Temos
que buscar novas matrizes econômicas
baseadas na biodiversidade local e regional”,
completou.
Compromisso com o Amazonas
Durante o discurso de posse, Wilson Lima ressaltou o seu compromisso com o desenvolvimento do Amazonas e, principalmente, a desburocratização do setor industrial do Estado.
Wilson falou do decreto que deveria ter sido
assinado pelo ex-presidente Michel Temer,
que garantia isenção do imposto de renda
para pessoas jurídicas lotadas na Zona
Franca de Manaus. Como o decreto não foi
assinado por Temer, caberá ao agora
presidente Jair Bolsonaro (PSL) a decisão de
assinar ou não.
"Acreditamos no presidente da República,
uma vez que ele tem simpatia pelo Amazonas
e entende a importância da Zona Franca de
Manaus para o desenvolvimento da nossa
região. O decreto é importante,
principalmente, para aumentar a
competitividade das empresas que estão
lotadas aqui, e contamos com a participação da nossa bancada no Congresso para nos
auxiliar nessa tarefa", afirmou.
Wilson ainda falou sobre a relação com o
presidente Bolsonaro. Segundo ele, o que
houve até o momento foi uma conversa
rápida, mas o presidente destacou a
importância do Amazonas.
"Ele nos disse que no Amazonas haverá um
grande trabalho para desburocratização e
fazer com que a região se desenvolva. Ele tem
uma equipe boa, formada por militares, que
sabem o quanto a região é estratégica para o
Brasil e o mundo", ressaltou.
Suframa
O titular da Superintendência da Zona
Franca de Manaus, Appio Tolentino, diz que
ainda existem ataques aprofundados
direcionados às empresas de concentrados.
"Dizem que as empresas empregam pouca
gente, tem uma margem (incentivo) enorme
e agregam pouco na região. A minha
preocupação não é com os concentrados
propriamente dito, e sim com a segurança jurídica. Se fizeram isso com os
concentrados, eles podem fazer com outro
polo", revelou.
Tolentino informou que deve se reunir em
breve com a equipe de Jair Bolsonaro e
aguarda também um encontro com o
governador do Amazonas Wilson Lima. Em
ambas oportunidades, ele pretende expor as
necessidades da ZFM.
"Vamos tentar desmistificar essa ideia de que vivemos de 'pires na mão', dependendo de renúncia fiscal. Somos o maior arrecadador da Amazônia Ocidental e Legal. Precisamos sim proteger os incentivos fiscais e fortalecer a Amazônia com um bloco econômico", completou.