14/01/2014
“A maior parte das empresas componentistas trabalhou só com 50% da produção. O pessoal do ar-condicionado está trazendo tudo pronto, por exemplo. Televisão que usava plástico, praticamente acabou”, alerta o presidente da Aficam, Cristóvão Marques. Ainda segundo Cristovão, o ano de 2013 registrou uma diminuição no número de fábricas de componentes instalados no PIM o que deve se repetir em 2014. “Fábricas de chicote, por exemplo, eram cinco e agora só tem duas. Há muitas máquinas paradas. O Thomaz (Nogueira) fala em crescimento, retomado em 2014 com os PPBs, só que o PPB das motos só vale a partir de 2015. Até lá, já morreu o polo componente”, critica.
O economista Ailson Nogueira Rezende explica que houve muito avanço tecnológico e sofisticação da indústria em 2013 e que os fabricantes de componentes locais não conseguem acompanhar esse avanço, obrigando os fabricantes de bens finais a aumentar as importações. “Houve muita sofisticação com tablets, televisores, telefones, por exemplo. Fica difícil trabalhar com o nível tecnológico atual nos componentes nacionais se não temos fábricas que possam fabricar componentes essenciais com a mesma tecnologia. Um telefone 4G não tem como utilizar só componentes nacionais. A tecnologia avança tão rápido e os componentistas não têm condição de acompanhar”, explica. Outro agravante seria a crise do setor de motocicletas, principal consumidora dos insumos da Zona Franca.
Para Ailson essa tendência deve permanecer nos próximos anos, pois faltam políticas industriais no Brasil. “Isso passa por uma política industrial, coisa que o Brasil não tem nos últimos três governos. Teríamos que ter reserva de mercado e isso acabou. A OMC (Organização Mundial do Comércio) não permite mais. Então gradativamente os países com melhor desempenho econômico são as que detêm a tecnologia. O que não é o caso do Brasil”, destaca.
Desempenho
Os números das importações refletem que esse crescimento vem acontecendo ano a ano. Se pegarmos em 2009 os valores importados pelo Estado eram de US$ 6,9 bilhões por ano, subindo para US$ 10 bilhões em 2010, US$ 11,8 bilhões em 2011, US$ 12,4 bilhões em 2012, até atingir os US$ 14 bilhões em 2013.
Segundo o economista estamos vivendo um “hiato econômico.” Aonde a crise afeta o consumo e não a produção. “Há um cabo de força entre os fabricantes de bem finais que querem poder importar e componentista que querem restringir a importação. A legislação acaba beneficiando o grande que é o fabricante de bens finais, mas isso prejudica os empregos do setor componentista. Por outro lado o grande fabricante também acaba penalizado pelo fator de valor tecnológico agregado nos componentes locais”, lamenta.
No entanto, Cristovão Marques, acredita que basta o Estado tomar o controle da situação e só dar isenção de ICMS apenas a quem utilizar primordialmente consumo local. “Estado da injeção de ICMS. Então vai ter que comprar manual, papelão, chicote, plástico, tudo em Manaus. Não precisa de PPB, de Suframa, de Brasília. Basta o Estado tomar o controle da situação e agilizar o processo.”
Resultado nacional
A balança comercial brasileira registrou um superavit de US$ 2,56 bilhões em 2013, o menor resultado desde 2000, quando foi apurado um deficit de US$ 731 milhões. O resultado do ano passado representa uma forte piora em relação a 2012, quando foi contabilizado um superavit de US$ 19,39 bilhões nas transações comerciais do Brasil com o exterior.
Com isso, o saldo positivo da balança caiu 86% em 2013, informou o governo. Em 2011, o saldo positivo foi ainda maior com US$ 29,79 bilhões.
No último ano, as exportações somaram US$ 242,17 bilhões, com média diária de US$ 957 milhões e queda de 1% frente ao ano anterior, ao mesmo tempo em que as importações totalizaram US$ 239,61 bilhões no último ano, média de US$ 947 milhões por dia útil e alta de 6,5% sobre 2012.
Fonte: JCAM