11/10/2013
O volume de horas pagas, que costuma ser um indicador antecedente do comportamento da ocupação, caiu 1,4% em agosto, contra o mesmo mês de 2012, e em 11 de 14 locais aferidos pelo levantamento. O acumulado entre janeiro e agosto mostra retração de 0,9% e, em 12 meses, recuo de 1,1%, sempre contra período anterior. O recuo de 0,2% na folha de pagamento real ante agosto do ano passado, por sua vez, interrompeu 43 meses de taxas positivas consecutivas nesse tipo de comparação.
Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Edgard Pereira, o resultado sinaliza uma tendência de redução da ocupação na indústria nos próximos meses e reflete a descrença dos empresários na retomada do crescimento da economia. "Custa caro demitir. As companhias costumam cortar pessoal apenas quando acreditam que realmente não aumentarão a produção no curto prazo", completa. A avaliação, para ele, é reiterada pelo comportamento do indicador, que se manteve praticamente estagnado do começo de 2012 até março e abril deste ano - e desde então tem se retraído sucessivamente - e pela redução disseminada do emprego tanto entre os locais pesquisados quando entre os segmentos.
A economista do banco Santander Fernanda Consorte relativiza ainda a diminuição do custo unitário do trabalho neste ano e o aumento da produtividade da indústria. De acordo com os cálculos da instituição, o custo nominal do trabalho, medido pelo confronto entre produção e salários pagos, aumentou 8,5% em 12 meses, contra o período imediatamente anterior. Ainda que o número seja menor do que aquele verificado em meados de 2012, entre 10% e 12% na mesma comparação, ainda está bastante alto, ressalta a economista. "E essa pressão de custos já está afetando o emprego no setor há algum tempo", afirma.
O ganho de produtividade, por sua vez, tem se dado à custa da redução das horas pagas, e não pela reestruturação e aperfeiçoamento de processos produtivos. Esse comportamento, no longo prazo, também não ajuda a indústria a recuperar competitividade, afirma Fernanda. A alta de 1,5% no acumulado de 12 meses, ante os 12 meses anteriores, é considerada pequena para ajudar o desempenho do setor, ainda que revele um cenário melhor do que o do ano passado - em meados de 2012, a produtividade mostrava retração de 1%, na mesma comparação, de acordo com os cálculos do banco.
O quadro do emprego industrial em agosto foi "predominantemente negativo", na avaliação do economista do IBGE, André Macedo. Para ele, o cenário é consequência da fraca trajetória da atividade industrial e da redução do nível de confiança do empresariado.
O comportamento errático da produção ao longo do ano, afirma, tem impedido trajetória sustentável de recuperação no emprego. A atividade industrial, lembrou, começou bem o ano, com aumento de 3,1% no primeiro quadrimestre. De maio a agosto, porém, acumula queda de 2,3%. "De maio para cá, o comportamento da indústria foi extremamente negativo".
Esse desempenho reflete na trajetória do emprego industrial. O índice de média móvel trimestral, usado para mensurar tendências, caiu 0,3% no trimestre encerrado em agosto frente ao nível do mês anterior - e vem em trajetória descendente desde abril. "Não adianta; se a produção industrial não melhora, não tem como o emprego industrial melhorar", afirmou Macedo.
Por setores, o valor da folha de pagamento real recuou em sete dos 18 ramos investigados pelo IBGE, em agosto na comparação com agosto do ano passado. As principais quedas foram observadas em indústrias extrativas (-18,6%), refino de petróleo e produção de álcool (-17,8%) e produtos de metal (-2,3%).
Fonte: Valor Econômico