03/03/2020
Nelson Azevedo
Fizemos 53 anos do maior
Programa de acertos na história
da redução das desigualdades regionais, baseada em contrapartida
fiscal, a Zona Franca de Manaus.
Por isso, é de extrema importância
olhar pelo retrovisor dessa trajetória para entender o lugar, ou estágio, em que estamos e ter mais
clareza para os novos caminhos
que podemos tomar. Neste cenário,
é emblemático retomar o papel de
uma das empresas multinacionais
mais importantes na consolidação
do Polo Industrial de Manaus, a
Moto Honda da Amazônia, da qual
tive o privilégio de integrar o quadro gestor no momento crucial que
se seguiu à implantação.
Os japoneses, novamente!
Uma história de obstinação
e resistência -que se fez forte e
tão presente em nossos dias –ao
enfrentar o desafio de construir
produtos de alta tecnologia a 3
mil quilômetros dos fornecedores
preferenciais de partes e peças. De
tão longe, a solução foi verticalizar
a fabricação de componentes na
região e rentabilizar o processo
produtivo com criatividade e visão
de totalidade. Com efeito, iniciava-se ali mais uma participação
efetiva dos japoneses na história
da economia da Amazônia, depois
da juta e malva, após a quebra do
Ciclo da Borracha, e da agricultura
de hortifruti para nos ensinar a
diversificar nossa dieta amazônica.
Orgulho dos amazonenses
Vivíamos os primórdios da Zona Franca de Manaus, em seus atrativos comerciais, com a explosão do consumo de importados num país de economia fechada. Em 1971, com esse mercado em ascensão, a Honda iniciava no Brasil as vendas de suas primeiras motocicletas importadas. Por pressão do governo federal, empenhado em alavancar o segmento industrial do Programa ZFM de desenvolvimento, em apenas 5 anos, era inaugurada a fábrica da Moto Honda da Amazônia, em Manaus, de onde saiu a primeira CG, o veículo mais vendido do Brasil em todos os tempos. Além de 25 milhões de motos, quadriciclos e motores estacionários, a Moto Honda da Amazônia produziu a façanha de ser o orgulho da população do Amazonas.
Natan Xavier de Albuquerque
Como preparar tantos colaboradores, maior parte vindos
do interior, com habilidades tão
distintas de uma rotina de chão
de fábrica, com tantos códigos a assimilar. Certamente por isso, o lendário empreendedor amazonense,
Natanael Xavier de Albuquerque,
que se associou ao empreendimento, me convidou para Supervisão
institucional. Mais tarde entendi
a largueza de percepção daquele
visionário. Entre as vantagens para
o projeto, trouxe a compreensão
da psicologia do caboclo para a
interlocução cultural e produtiva e
as vantagens que a Lei propiciava a
quem aqui investisse. Um exemplo,
foram os direitos da contrapartida fiscal estadual, a que as empresas
tinham direito. O desafio de inserir
os nativos na saga vencedora na
Amazônia se deu também com a
substituição de gerentes setoriais,
cargos utilizados, no início, por
técnicos vindos do Japão.
Os vários Brasis
Foi uma das mais ricas experiências de minha história pessoal.
Conhecer de perto a cultura industrial japonesa foi um privilégio. Mais ainda aprender com a
determinação japonesa de implantar a Moto Honda no coração da
Amazônia, formando uma cadeia
de suprimentos, de distribuição
de motocicletas em todo território
nacional e de clientes fidelizados a
partir da capilaridade dos consórcios. E ao demarcar a espacialidade
dessa proeza, disseminada pelas
cinco regiões do Brasil, a empresa soube dialogar com os vários
Brasis.
O Poder dos Sonhos
O resultado de tudo isso foi
redesenhar com Duas Rodas a
divisão territorial do trabalho e
demonstrar a real possibilidade
da integração nacional. Juntando
essas peças e partes dessa trajetória,
atuar na Moto Honda da Amazônia significa dizer meu orgulho de integrar uma etapa dessa
saga iluminada, conduzida por
seus dirigentes, que me permitiu
compreender o Poder dos Sonhos,
“The Power ofDreams”, profetizado pelo fundador da empresa,
Sr. Soichiro Honda.
*é economista, empresário e presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas em exercício. Email: nelson.azevedo@fieam.org.br