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Guerra reaviva horizonte de crise

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25/02/2022

A guerra na Ucrânia sinaliza agravar os problemas econômicos do Brasil, especialmente se o conflito militar for prolongado. Embora salientem que os efeitos sentidos de imediato nos mercados financeiros globais levariam algum tempo para passar ao fronte macroeconômico e atingir as linhas da microeconomia, lideranças classistas ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio apontam que dificilmente o Brasil conseguiria passar incólume pela nova crise. Os efeitos mais evidentes se dariam na piora da inflação, câmbio, juros e escassez de produtos, mas o temor adicional de que a produção de alimentos seja comprometida.


Passados quatro meses de uma crise revivida com o Ocidente, envolvendo a soberania da Ucrânia, a Rússia resolveu passar do discurso para a ação e invadiu o país vizinho, na madrugada desta quinta (24), abrindo a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial -e com o diferencial de envolver pelo menos um país com arsenal atômico. Os efeitos foram sentidos de imediato nos mercados financeiros mundiais e podem sofrer piora indireta, pelos efeitos das próprias sanções internacionais impostas ao país agressor.


Como a Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo, o preço do barril rompeu a barreira dos US$ 100, no pregão do mesmo dia, algo que não acontecia há mais de sete anos. A continuidade da alta e seus efeitos nos preços ao consumidor nos mercados de combustíveis e energia dependeria de decisões da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em um cenário de guerra prolongada. As cotações do dólar, ouro e petróleo, por outro lado, também dispararam, em um movimento do investidor em busca de segurança. Em sintonia, o bitcoin caiu abaixo dos US$ 35.000, pela primeira vez em um mês.


O conflito pressiona não apenas os preços de petróleo, como também os de grãos e óleo de cozinha, entre outros. Vale notar que a Ucrânia, vende 17% do milho e o país, juntamente com a Rússia, responde por 30% da oferta global. Analistas apontam ainda que, mesmo com o dólar fechando perto dos R$ 5, por efeito do aumento dos juros, a tendência é que a moeda americana retome ritmo ascendente no curto prazo. Em paralelo, as altas persistentes das commodities em um mundo em guerra sinalizam pressionar a inflação e uma nova rodada de reajuste da Selic, além de adiar a retomada dos investimentos.


Fertilizantes em xeque


A Rússia tem importância relativa para a balança comercial do Amazonas. Dados do portal Comex Stat informam que as exportações totalizaram US$ 7.56 milhões, de janeiro a dezembro de 2021, 59,87% a menos do que em 2020 (US$ 18.84 milhões). Foram puxadas essencialmente pela soja (US$ 7.46 bilhões) em pauta que incluiu também insumos industriais. Já as importações avançaram 57,97% e atingiram US$ 192.64 milhões, sendo puxadas por principalmente platina (US$ 138.15 milhões) e produtos laminados (US$ 52.01 milhões).


Mas, o peso o país euroasiático cresce em números e qualidade na escala nacional, tanto em termos de exportações (US$ 1.59 bilhão), quanto em importações (US$ 5.70 bilhões). A agropecuária comparece com a parte majoritária das vendas externas, incluindo soja (US$ 343.29 milhões), "carnes e miudezas comestíveis" (US$ 167.16 milhões) e café (US$ 132.83 milhões). Na lista brasileira de compras, por outro lado, os destaques estão nos fertilizantes de todo o tipo (US$ 3.53 bilhões), carvão (US$ 480.14 milhões) e óleos de petróleo (US$ 432.66 milhões).


Diante disso, o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, avalia que o conflito armado no Leste Europeu pode vir a impactar o agronegócio em todo o Brasil, já que Rússia e Bielorússia são grandes produtores e fornecedores mundiais de fertilizantes, insumo vital para a atividade rural. No entendimento do dirigente, diante dessa constatação, a mudança brusca no cenário geopolítico pode acabar gerando danos adicionais à cadeia de suprimento global.


"Já vínhamos, desde o ano passado, enfrentando uma disparada nos preços do produto, principalmente em razão do desarranjo da cadeia produtiva mundial, por conta da pandemia. Agora, essa guerra pode trazer um agravamento dessa situação, trazendo como consequências uma maior escassez e aumento de preços desses insumos. Os fertilizantes são fundamentais para a produtividade agropecuária e, aumentando o custo de produção, podemos ter uma inflação de alimentos ainda maior", apontou.


Logística e inflação


Antes de mais nada, o presidente do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), Wilson Périco, assinala que considera "surreal" a situação da invasão russa e que, até ontem, seria "difícil imaginar uma situação como essa, nos dias de hoje". O industrial avalia que o impacto mais óbvio para o setor se daria na já cambaleante logística para fornecimento de insumos para as linhas de produção, mas destaca que isso não viria em um primeiro momento e dependeria do prolongamento do conflito.


"Diante dos exemplos que tivemos no passado, que não nos trazem nenhuma boa lembrança, não cabe o ser humano se propor novamente a um enfrentamento bélico, por questões políticas ou não. Isso certamente vai trazer reflexos para o mundo todo. Economicamente a gente já vê as bolsas refletindo essa situação. Podemos ter outros desdobramentos, como nos combustíveis e na logística. Não sei se isso pode trazer problemas de acesso a alimentos, talvez menos para o Brasil. Espero que não. Vamos acompanhar e rezar bastante", lamentou.


Já o presidente em exercício da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, também se disse surpreso com a notícia e lembra que, até então, a crise se resumia a "um jogo de xadrez" da Rússia para manter a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) à distância. O dirigente ressalta que a instabilidade política internacional certamente vai render abalos na economia global e demonstra apreensão diante da expectativa de uma nova rodada na ciranda envolvendo inflação e juros.


"O Brasil ainda está muito vulnerável no tocante à inflação, até porque o instrumento mais adequado para contornar o processo da alta de preços é o aumento da Selic, que também enfraquece a economia. Mas, os ânimos da inflação são incontornáveis. A invasão russa e as retaliações a ela com certeza vão interferir muito na economia, não apenas nos países em conflito. O tabuleiro de xadrez em que estamos pode ter vários efeitos e o Brasil, com certeza, sofrerá dificuldades de natureza econômica", concluiu.


Como a Rússia é um dos maiores produtores mundiais de petróleo, o preço do barril rompeu a barreira dos US$ 100

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