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Guerra na Ucrânia e IPI ameaçam o Amazonas

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11/03/2022

Marco Dassori

Dirigentes classistas e economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio estimam que a economia do Estado seguiu de perto o crescimento do PIB brasileiro, em razão da ZFM e seu foco no mercado interno. A economia nacional totalizou R$ 8,7 trilhões em 2021 e cresceu 4,6% em relação a 2020, puxada por indústria (+4,5%) e comércio/serviços (4,7%), em detrimento da agropecuária (-0,2%). O trimestre rendeu altas sobre os três meses anteriores (+0,5%) e na comparação com o mesmo período de 2020 (+1,6%).

O IBGE aponta que o avanço da economia brasileira permitiu a recuperação das perdas impostas pela pandemia, em 2020 (-3,9%), já que o Produto Interno Bruto fechou o ano 0,5% acima do patamar registrado no final de 2019. O nível de consumo do governo (+2%) e das famílias (+3,6%) também avançou no ano passado, mas em menor medida do que os investimentos (+17,2%). Os dados do Amazonas ainda não foram calculados pelo IBGE, mas o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) indica uma alta até superior para o Estado (+5,46%).

As fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio alertam, no entanto, que, se 2021 foi um ano de recuperação, o panorama de 2022 torna uma repetição dessa performance inviável no curto prazo. E não apenas pela resiliência dos efeitos das altas da inflação e dos juros sobre o poder de compra do consumidor. O consenso é que os impactos da guerra na Ucrânia na economia amazonense e, principalmente, do corte linear do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre a sobrevivência da ZFM, passaram ao primeiro plano, e podem minar o crescimento potencial do Amazonas.

“Reduções internas”

Ao citar os números do IBGE, e do relatório da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o presidente do Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), Frank Souza, lembra que o setor cresceu 9,7% em todo o país, no ano passado, recuperando a perda de 2020 (-6,3%), em um resultado que só perdeu para o recorde de 2010 (+13,1%). No entendimento do dirigente, o Estado também cresceu em 2021, assim como desacelerou na reta final do ano.

“O Amazonas não tem a performance do Sul e Sudeste, porque o poder econômico das famílias é bem menor. Ainda assim, a gente acompanhou esse ritmo de crescimento, tanto em lançamentos, quanto em vendas. Conseguimos recuperar as perdas da pandemia. Mas, fomos combatidos pelos aumentos dos insumos e até da mão de obra, além de aumentos quando se acumula o escalonamento da inflação e as altas taxas de juros”, ponderou.

Frank Souza se diz preocupado com o desempenho da atividade em 2022 por outros motivos, além dos citados. Um dos motivos é o fato de ser ano eleitoral e com tendência de vetos a obras públicas, influenciando em um menor volume de negócios para as construtoras. “Outro problema é a guerra na Ucrânia, que tende a aumentar ainda mais a inflação, por seus reflexos no preço do petróleo e também dos materiais. Mas, pelo nosso deficit habitacional, ainda devemos ter algum crescimento, mas bem reduzido em relação a 2021”, ponderou.

O presidente do Sinduscon-AM destaca que, além de não trazer nenhum benefício direto à construção, que já conta com isenção do tributo na compra de insumos, a redução do IPI só é favorável a outros Estados. “Estamos fadados a reduções internas, porque nossa economia é pautada na Zona Franca. Já até discutimos formas de diminuir essa dependência, no Codese (Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico de Manaus). Se a ZFM perder competitividade, o cidadão daqui vai ficar com menos recursos para consumo e investimentos”, frisou.

Tendência à estagnação

No entendimento do consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Leonardo Marcelo Braule Pinto, os números do PIB brasileiro vieram de acordo com o que o mercado esperava e estima que o PIB do Amazonas seguiu a curva ascendente brasileira. Indagado sobre expectativas, contudo, o economista destaca o impacto negativo do anúncio do corte generalizado da alíquota do IPI para o futuro da ZFM e da economia do Estado.

“O crescimento do Brasil realmente aconteceu, em termos estatísticos. A gente movimentou a economia de forma bastante acelerada no curto prazo, embora mais lenta no médio prazo. Mas, isso ajuda no crescimento, embora atrapalhe um pouco no desenvolvimento. Tudo indica que o Amazonas tenha apresentado uma certa alta também. Entretanto, vale ressaltar que o Estado vai ter um impacto de médio a longo prazo nessa questão do IPI, mas que a gente já está sentindo, pela saída da Heineken da Zona Franca”, ponderou.

Embora concorde que a decisão da multinacional não se deu “da noite para o dia”, Leonardo Marcelo Braule Pinto avalia que a medida –assim como o sobe e desce de quatro anos na alíquota específica de IPI para os concentrados da ZFM –“aceleraram o processo”. “Quanto mais o tempo passar, mais o Amazonas vai sentir decrescimento econômico, por conta desse baque. Se nada mudar, é de se esperar tempos ruins. Via de regra, ainda dá para ter crescimento em 2022 e 2023, mas com taxas menores, até se chegar a uma estagnação, tendo em vista que nossa matriz produtiva é o PIM”, alertou.

Instabilidade e aumentos

Em sintonia, o também conselheiro do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, assinala que o aumento do PIB brasileiro se deveu principalmente ao auxílio emergencial, à vacinação, à reabertura dos serviços e à demanda reprimida. “É um resultado que demonstra uma reação da economia brasileira, depois do trimestre negativo anterior. Se levarmos em conta o modelo ZFM, veremos que o Amazonas acompanhou positivamente também a recuperação da economia brasileira, no trimestre final de 2021. A partir do momento em que os consumidores viram a reação da economia, se sentiram seguros para adquirir produtos do PIM”, frisou.

O economista concorda, entretanto, que a súbita mudança na alíquota do IPI traz sombras para as perspectivas futuras da economia amazonense. “O corte de 25% afeta a Zona Franca de Manaus. Algo assim já tinha sido feito anteriormente para aquecer o mercado e, como antes, não deve surtir efeito, pois não virá na medida que os consumidores esperam, e só vai gerar instabilidade no modelo ZFM”, lamentou.

O consultor empresarial lembra também que a guerra na Ucrânia tende a ser um entrave ao crescimento. “O conflito já gera instabilidades no cenário internacional e pode valorizar o câmbio. Temos de ver o quanto essa situação vai durar e se o real consegue se manter, em um cenário de fuga de capitais, a despeito dos impactos positivos para investimentos em mercados de capitais gerados por uma Selic alta e pela inflação americana. Há também a sinalização de um agravamento na crise dos insumos, e dos aumentos no custo dos fretes internacionais e na cotação do petróleo e seus efeitos na inflação”, concluiu.

Fonte: JCAM

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