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Fundo na alma manauara

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23/10/2018

Notícia publicada pelo Jornal do Commercio

"O Amazonas talvez seja o Estado brasileiro que mais formou bairros por meio de invasões, sempre recebendo o aval dos governantes, principalmente a partir das décadas de 1970 a 1990, quando o êxodo rural de Manaus era promovido pelo surgimento da Zona Franca de Manaus". Este é um dos trechos do livro 'Bairros de Manaus', de Gaitano Antonaccio, cuja segunda edição, revista e ampliada, foi lançada ontem, 22/10, um presente para os manauaras numa homenagem aos 349 anos da capital amazonense.

"Oficialmente Manaus possui 63 bairros, mas o meu livro tem 69, porque existem conglomerados que, ainda que não possuam status de bairro, têm toda a estrutura de um como Grande Vitória, Nova Floresta, Ouro Verde, Parque São Pedro, Vila da Felicidade e Mocó. Citei o Mocó mais pelo fato histórico, porque o local, hoje integrando o N. Sra. das Graças, já foi um bairro", explicou.

Ler o livro de Gaitano é fazer uma viagem histórica por Manaus, pois além de ele contar a história de cada um dos bairros, também narra fatos que marcaram a formação de cada um deles, como o bairro de São Raimundo, o mais antigo a existir com o mesmo nome. "A ocupação do terreno começou a acontecer em 1849. A área pertencia aos irmãos Raimundo, Francisco e Maria, que o haviam herdado. Depois os irmãos doaram o terreno para a arquidiocese, que loteou áreas medindo 10 x 60 metros e os moradores passaram a construir as casas de taipa (mistura de barro com madeira) cobertas de palha", informou.

Vale lembrar que os primeiros bairros de Manaus foram o Espírito Santo, o Remédios, o São Vicente e o República, que com o crescimento da cidade, passaram a fazer parte de sua área central.

A partir de 1953

As primeiras grandes invasões de terras sofridas por Manaus começaram a partir de 1953 quando, devido à avassaladora cheia dos rios ocorrida naquele ano, muitas pessoas fugiram do interior rumo à capital, começando a construir suas habitações nas beiras dos igarapés existentes na cidade.

O escritor e artista plástico Anísio Mello, contou certa vez que, ainda adolescente, morava num casarão com frente para a avenida Joaquim Nabuco e com um imenso terreno que dava fundos para o igarapé de Manaus. Num certo dia de 1953, casebres ocuparam todo o terreno não só dos fundos da casa dele, mas também dos demais vizinhos. Tais casebres só foram retirados após as obras do Prosamim (Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus), cuja primeira parte foi inaugurada em 2007.

A partir de 1953, e principalmente após 1967, com a chegada da Zona Franca, Manaus vivenciou toda sorte de invasões. "Os governos dos senhores José Bernardino Lindoso (1979/82), Gilberto Mestrinho de Medeiros Raposo (1983/87 - 1991/95) e Amazonino Mendes (1987/90 e 1995/2003) foram marcados e conhecidos pela formação de populosos bairros, todos patrocinados por grandes invasões de terras, prejudicando muitas vezes algumas famílias, que nem sequer foram devidamente indenizadas", escreveu. "Muitas invasões representavam as respostas da sociedade contra alguns gananciosos que nada faziam ou plantavam em suas propriedades. Esses proprietários requeriam terras para um objetivo empresarial e na verdade nada realizavam, a não ser especulações imobiliárias, enriquecendo à custa do Estado", completou.

Para Gaitano, "a maioria dos bairros de Manaus possui duas características negativas que marcaram o péssimo ordenamento urbano: a primeira é o fato abusivo de terem sido originados de invasões contra a propriedade; a segunda é a perversidade dos governantes citados acima terem legado becos no lugar de ruas e avenidas, deixando para o povo a maldita herança do desconforto de uma cidade desumana e sem muitas alternativas para corrigir tantos erros", finalizou.

Trecho do livro

Uma freira agitadora
"Uma das pessoas mais polêmicas no exercício das constantes invasões de terras na cidade de Manaus, foi a irmã Helena Augusta Walcott, religiosa pertencente à Igreja do Preciosíssimo Sangue, responsável declarada por uma dezena de invasões de propriedades. Quando a irmã, nas décadas de 1970 e 1980, discursava incentivando uma invasão, a sua palavra era uma ordem para os sem terra. Sem microfone ou megafone, ela usava simplesmente um apito para chamar a atenção dos que sonhavam com um pedaço de terra para construir um barraco. Esclarecida e dotada de uma perspicácia admirável, essa irmã agitadora provocou muitos conflitos entre o povo (sem terra) e o poder público, chegando a lutas corporais entre os proprietários, os invasores e a polícia. Nessas lutas, ela mesma foi presa entre quatro ou cinco vezes, sem se importar com sua imagem de freira. Nos conflitos, algumas pessoas foram assassinadas".

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