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Francesa VINCI leva aeroportos do Norte e fala dos planos (verdes) para o Brasil

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14/04/2021

Fonte: CNN Brasil

Matheus Prado, do CNN Brasil Business, em São Paulo

A francesa VINCI Airports, braço do Grupo VINCI, arrematou na última quarta-feira (7), durante a Infra Week promovida pelo governo federal, o bloco Norte I de aeroportos. Com isso, administrará sete terminais --Manaus, Tabatinga e Tefé (AM), Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), e Rio Branco e Cruzeiro do Sul (AC)-- e investirá cerca de R$ 1,4 bilhão nos locais ao longo dos 30 anos de concessão.

O movimento mostra que a empresa está de olho no potencial do ecoturismo da região, mas também aponta para possíveis ligações futuras com Américas Central e do Norte e reforço no escoamento da produção da Zona Franca de Manaus.

Trata-se da segunda incursão da companhia por aqui. Em 2017, a VINCI já havia dado um lance de R$ 660,9 milhões para vencer a concorrência pelo Aeroporto de Salvador (Salvador Bahia Airport) e se comprometer a investir R$ 2,35 bilhões no terminal baiano.

Em entrevista exclusiva ao CNN Brasil Business, Nicolas Notebaert, CEO da VINCI Concessions e presidente da VINCI Airports, disse que a segunda parceria entre um país e uma concessionária representa consolidação.

"Na primeira vez, é uma tentativa mútua. Entre o país, que precisa vender algumas de suas infraestruturas públicas, mas para uma empresa que tenha conhecimento local e do mercado; e o investidor, que precisa testar se o seu jeito de fazer negócios se encaixa com o país", diz.

"A segunda vez é melhor, com uma relação mais estruturada. Se o investidor ganhar a concessão, quer dizer que teve energia para fazer uma boa oferta e continuar investindo no local. Da parte do governo, eles já nos conhecem e sabem que damos o nosso máximo para o sucesso do país."

Notebaert explica que, na visão da empresa, o Brasil tem necessidades específicas de logística e transporte devido às suas proporções continentais, o que torna o país interessante do ponto de vista aeroportuário e, ao mesmo tempo, tem um potencial turístico que pode ser melhor aproveitado.

Além disso, não considera que a decisão do governo de realizar o leilão durante uma crise que afeta diretamente o setor aéreo tenha sido arriscada. Pelo contrário, afirma que players importantes do mercado compareceram ao certame, o que mostra que há interesse pelos ativos nacionais.

Questionado sobre os preços de outorga dos blocos, que começavam em R$ 8 milhões, o executivo também defendeu a estratégia do Executivo. Diz inclusive que, se o preço mínimo tivesse sido mais alto, talvez a empresa tivesse desistido de fazer uma oferta quando avaliou a oportunidade meses atrás.

"Mas a questão principal não é o preço. Nós pagamos o preço e temos certeza de que o governo está satisfeito com o valor recebido. A grande pergunta é o que vamos fazer agora. O planeta, os aeroportos, a região Norte não podem esperar", diz.

"Se demorassem mais tempo para vender, seria mais tempo com as águas poluídas indo para o ambiente, e a energia dos aeroportos vindo somente de combustíveis fósseis. Assim, os benefícios dos nossos investimentos serão imediatos. Já começaremos, no início do ano que vem, a reforçar os pavimentos e pistas e modernizar os terminais."Aqui é importante notar que a empresa possui uma agenda imposta pelo governo, que começa com a manutenção do aparelho pré-existente nos aeroportos, para depois poder avançar com suas iniciativas verdes, algo que vem realizando em aeroportos de todo o mundo, inclusive em Salvador.

O Green Capex (investimento verde), como é chamado, busca promover a economia de energia e água nos terminais e outras estruturas dos aeroportos, implementação de painéis solares para produção de energia verde, e proteger, ao lado da população local, o entorno dos aeroportos.

Notebaert defende ainda que, ao começar o projeto agora, primeiro buscando crédito com bancos regionais e formando equipes de trabalho para atuar no local, a empresa ajudará a gerar milhares de empregos no setor da construção civil num momento importante de retomada econômica.

Mais investimentos no Brasil?

Como esperado de empresas do setor, a VINCI teve um ano de 2020 desafiador. A receita bruta da empresa caiu 10% em relação a 2019, para 43,2 bilhões de euros, enquanto a líquida recuou 61,9%, para 1,2 bilhão de euros. Comparando com o resto do mundo, o negócio das Américas Central e do Sul foi o que mais decaiu na companhia: cerca de 25%.

"Na primeira fase da concessão, melhoramos o serviço em Salvador, que era um dos piores do país. Agora estamos sofrendo, mas precisamos nos preparar com medidas sanitárias e, quando houver retomada no turismo, realizaremos ações de marketing para mostrar como a cidade é uma maravilha e precisa ser conhecida", diz, sobre a operação brasileira.

"Salvador foi o nosso aeroporto que menos diminuiu seu fluxo durante a pandemia, porque manteve o trânsito doméstico. Mas, de qualquer forma, estamos ansiosos para que as coisas voltem ao normal e as pessoas voltem a viajar."

Apesar do momento, com a liquidez injetada nos mercados, a empresa teve um fluxo de caixa de 3,9 bilhões de euros em 2020, apenas 5% menos que no ano anterior. Com isso, segue olhando para possibilidades de investimento e ampliação do seu portfólio, seja no ramo aéreo, rodoviário, imobiliário ou de energia.

Nessa linha, a reportagem perguntou ao executivo se a VINCI pretende participar dos próximos leilões organizados pelo governo federal, com ativos como os aeroportos de Congonhas, em São Paulo, e Santos Dumont, no Rio, ainda disponíveis. Notebaert afirma que a prioridade é começar a trabalhar nos terminais da região Norte, mas não descarta analisar ofertas em novos certames.

"Eu visitei o Brasil em 2019, quando inauguramos Salvador, e tive a oportunidade de conhecer o ministro da Infraestrutura, o governador da Bahia, o prefeito de Salvador. Fiquei impressionado com a boa recepção de todos. Para mim, isso é um ótimo sinal, porque dá confiança para trabalhar e realizar os projetos", diz.

"Então, nossa prioridade agora é manter nosso compromisso com Salvador e avançar em Manaus e no Bloco Norte. E, depois, se a história continuar evoluindo, ficaremos felizes em avaliar outras oportunidades no Brasil."

Governo no caminho?

Como citado ao longo da reportagem, a empresa francesa busca imprimir um legado ambiental em suas concessões. Além disso, como o setor aéreo é o seu core business, a companhia precisa que as pessoas estejam em movimento para que os seus negócios façam sentido.

Posto isso, o presidente Jair Bolsonaro tem sido criticado em ambas as esferas: falta de políticas ambientais e controle em relação ao desmatamento na Amazônia; e má gestão da pandemia do novo coronavírus, o que faz com que diversos países, como a própria França, proíbam voos de e para o Brasil.

Apesar do cenário, a VINCI afirma que não está preocupada. "Somos uma concessionária internacional trabalhando com países do mundo inteiro, e respeitando estes países. Como em qualquer democracia no mundo, o Brasil teve mudanças governamentais que alteraram algumas políticas, e não nos metemos nisso, nem julgamos", afirma.

"Para nós, o mais importante é que os governos nos deixem realizar nossos projetos, com os nossos valores. Até aqui, nossa relação com o governo brasileiro foi de respeito. Conseguimos fazer o que nos propusemos com a orientação do Estado e seguindo os contratos, mas com os nossos valores."

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