22/08/2018
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
Fundamental para a estabilidade do clima do planeta, a
floresta amazônica, que até alguns anos absorvia carbono
em quantidades muito significativas, do ponto de vista de
balanço de carbono total, reduziu essa capacidade e hoje
está chegando à zero. Os cientistas consideram a situação
preocupante.
Em um cenário futuro de mudanças climáticas, em que
eventos extremos de secas e grandes inundações são mais
frequentes, é possível que a floresta comece a perder
carbono para a atmosfera piorando o já grave
aquecimento global.
O alerta foi feito no workshop “As dimensões científicas,
sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”,
| Foto: divulgação
realizado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(Inpa/MCTIC).
Ecossistema crítico
As pesquisas na região mostram que a Amazônia é um
ecossistema altamente crítico no clima global,
controlando o ciclo hidrológico, a chuva sobre a própria
Amazônia e sul do Brasil, e que armazena uma quantidade
enorme de carbono. A ciência estima que a bacia
amazônica abrigue 16 mil espécies de plantas arbóreas. Já
se sabe também que a estação seca na Amazônia está se
ampliando em seis dias por década, o que pode parecer
pouco, mas é uma alteração significativa.
Retenção de carbono
Segundo o coordenador do workshop e professor da
universidade de São Paulo, Paulo Artaxo, a floresta
amazônica até cerca de 10 a 20 anos fazia um serviço
ambiental muito importante de reter todos os anos meia
tonelada de carbono por hectare. Este serviço ambiental
agora está indo para zero. “Nosso medo é que, a partir de
agora, a floresta, além de perder carbono para a
atmosfera, e como ela corresponde a dez anos da queima
de combustíveis fósseis, perca mais 2%, 3% ou 4% do
carbono, pois isso vai aumentar muito o efeito estufa”,
disse Artaxo, que também é gerente científico do
Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na
Amazônia (LBA/Inpa/MCTIC).
Segundo o cientista, hoje a floresta é neutra do ponto de
vista do carbono. Mas se forem diminuídas as emissões
haverá possibilidade de voltar a ter a floresta retendo mais
carbono do que emite. “É por isto que temos de lutar
hoje”, afirmou.
Estoque
As florestas tropicais são o lugar do mundo em que mais
se estoca carbono na Terra. O carbono é o quarto
elemento mais abundante na atmosfera e é um dos gases
de efeito estufa. De acordo com o pesquisador da USP,
Luiz Martinelli, se a floresta faz mais fotossíntese do que
ela perde carbono pela respiração, essa floresta tende
aumentar sua biomassa.
“É disso que estamos precisando, porque, devido ao
grande aporte de carbono e CO2 na atmosfera pela
queima de combustíveis fósseis, o clima da Terra está
mudando. Então, é extremamente benéfico para o clima
que a Amazônia continue limpando esse excesso de
carbono na atmosfera, mesmo que lentamente”, explicou
Martinelli.
As pesquisas apoiadas pela Fapesp e realizadas em
colaboração com o Inpa serão apresentadas em um
workshop nos mesmos moldes deste de Manaus em
Washington, no dia 25 de setembro. A proposta é
apresentar para o Banco Mundial e o Fundo Amazônia
quais as necessidades de pesquisas que se tem na
Amazônia atualmente.