03/04/2020
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
Perto da metade do
PIM deve sofrer uma
nova rodada de paralisações temporárias
a partir da próxima semana, desta vez por causa da
falta de insumos nacionais,
em função da crise da Covid-19. Além das dificuldades
logísticas para o transporte
do material, em virtude dos
bloqueios de estradas nos Estados, boa parte dos fabricantes de componentes ‘made in
Brasil’ –concentrados majoritariamente em São Paulo –já
parou ou está parando.
Parte da indústria incentivada de Manaus já começou a desligar os motores de
suas linhas de produção nas
últimas semanas, seja pela
escassez de insumos importados –que sofreram atraso na
saída da China e da Coreia
do Sul –seja pela retração na
demanda, dado o fechamento
do comércio e as medidas de
contenção ao alastramento do
novo coronavírus em todo o
território nacional.
De acordo com o Cieam
(Centro da Indústria do Estado do Amazonas), o PIM
já contabilizava 15 indústrias
paradas e com férias coletivas até quarta (1º), algumas
em função da falta de insumos da China, outras em
decorrência dos efeitos das
medidas para conter a curva de contágio da Covid-19
–a exemplo do fechamento
do comércio e do bloqueio
logístico para produtos não
essenciais, nos Estados. “A
consequência a elevação dos
estoques”, lamentou o presidente da entidade, Wilson
Périco, em vídeo postado em
sua conta do Instagram.
A relação de empresas do
PIM que foram forçadas a
desligar os motores das linhas
de produção por força da crise inclui já Honda, Yamaha,
BMW, Samsung, Technicolor,
Transire, Harley Davidson,
Panasonic e Whirlpool –fabricante de produtos de linha branca e dona das marcas
Consul e Brastemp –e todo o
polo relojoeiro, entre outros.
Espera-se que, na próxima
semana, o polo de bicicletas
engrosse também a lista de
baixas.
Efeito em cadeia
O presidente da Eletros
(Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), José Jorge do
Nascimento, disse ao Jornal
do Commerico que os insumos importados já começam
a chegar normalmente para
as fábricas do Polo Industrial
de Manaus, mas ressalvou
que a mudança de cenário
não permite um retorno às
atividades no mesmo ritmo
de antes.
“Há a dificuldade da
escassez de
componentes nacionais.
Pelo menos
50% dos fabricantes de
eletroeletrônicos devem
sofrer a falta
de pelo men o s a l g u m
insumo, na
próxima semana. Mas,
nosso problema maior
agora é a falta de demanda mesmo. O
comércio está
fechado e as pessoas estão e
devem ficar em casa. Não há muita procura por bens de
consumo em dias de crise”,
lamentou.
O presidente da Eletros ressalta
ainda que as
paralisações
estão gerand o e f e i t o s
em cadeia,
que devem
se fortalecer
nos próximos
dias. A maioria das empresas ainda
não adota a
possibilidade de conceder férias
coletiva ainda, embora já
ocorram algumas demissões.
Em torno de 80% do setor já informa queda no fluxo de
vendas e há muita preocupação das empresas com seus
caixas, mas há companhias
que enxergam oportunidades de investir e já fazem
planejamento pós-crise, ou
aguardam decisões governamentais para tanto.
Contágio e esforços
Na mesma live do Instagram, o presidente o Cieam salienta que também há
boas notícias em meio à crise.
Uma delas é que ainda não
foi detectado nenhuma ocorrência de contagio nas linhas
de produção do PIM, o que
demonstraria a eficácia das
medidas implementadas pela
indústria local para evitar o
alastramento da Covid-19 em
ambiente fabril.
“Tivemos apenas um caso confirmado, de um funcionário da área administrativa,
que teve elevação de temperatura detectada, dentro do
procedimento da empresa.
Há outro caso de uma pessoa da área de segurança,
que também teve elevação
detectada pela empresa, mas
ainda não foi confirmado”,
emendou.
Quanto aos esforços do
setor para reforçar a saúde,
Wilson Périco informa que as
empresas estão empenhadas
e que as máscaras e viseiras
já estão em produção e sendo
distribuídas a postos e hospitais. Conforme o dirigente, álcool em gel está sendo
produzido também, sendo
que o Polo conseguiu mandar
uma quantidade para Roraima. “Estamos desenvolvendo
os ventiladores. Ainda não
conseguimos produzir o protótipo, mas temos outras entidades fazendo isso também,
como a UEA. Espero que uma
solução apareça para produzirmos esses respiradores”,
afiançou.
“Vidas ou empresas”
O presidente do Cieam
frisa que não pode haver mais
o debate entre salvar vidas
ou salvar empresas e defende
que “temos que salvar tudo
ao máximo”. No entendimento do dirigente, o governo
federal tem as ferramentas
para implementar ações similares a tempos de guerra
e ajudar o país a passar por
esse momento.
“O governo tem como
gerar recursos para ajudar
as empresas e os empregos.
Mas, a equipe econômica já
se mostra mais flexível e entende que deve fazer o que
outros países já estão fazendo, que é aplicar até 10% de
seus PIBs em ações de socorro
à população. Temos, todos
nós, é que tomar as medidas de preservação da vida”,
concluiu.