19/11/2018
Notícia publicada pelo Em Tempo Online
Mesmo com produção de mais de
20 tipos de legumes, hortaliças e frutas só no
município de Iranduba (a 25 quilômetros de Manaus), o Amazonas segue vendendo
produtos de outros Estados nas suas
principais feiras. Como resultado desse
processo, o consumidor manauense encontra
produtos mais caros nas feiras e
supermercados de Manaus.
Sem apoio adequado do Estado, o
agronegócio, que tem potencial reconhecido
nas áreas de várzea, mas é mal aproveitado,
espera conseguir produzir mais, sem
desperdício.
No ramal Santa Maria, localizado no
quilômetro 27 da rodovia estadual AM-070,
uma comunidade de pequenos produtores
cultiva coentro, pimentão, alface, couve,
berinjela, quiabo, jiló, macaxeira, jerimum,
abobrinha italiana, pimenta de cheiro,
pepino, entre outros que muitas vezes não
chegam à mesa do consumidor manauara.
Para Silvana Lemos, 51, a agricultura familiar
precisa de mais incentivos e logística para
conseguir crescer.
“Falta mão de obra especializada, programas
de incentivo para a compra de adubos que
são caros, e muitas vezes, o consumidor não
sabe que fora dos supermercados existe
produto de qualidade e fresco nas feiras de
Manaus”, diz a produtora. Ela enfatiza que os
problemas de escoar a produção já foram
piores.
Silvana e mais alguns pequenos agricultores
da comunidade deixaram de vender a
produção na feira Manaus Moderna, segundo
eles, porque o lucro para o produtor era
mínimo. “O cartel de atravessadores da
Manaus Moderna prejudicava muito, uma
vez que na maioria delas o valor pago por
eles não passava de R$ 1 por quilo do
alimento. A margem de lucro era mínima.
Alguns produtores até desistiram na época
por conta dessa falta de incentivo”, lamenta.
Outro produtor que optou por deixar de
vender na feira mais famosa da cidade foi
Bernardo Pollmeier, 64. Ele que produz
hortaliças, compra o que precisa vender a
mais de produtores vizinhos. “Há quatro
anos deixei de vender na Manaus Moderna,
com a opção de vender em outros lugares.
Meu lucro aumentou em 60%. Hoje a
produção é menor e o ganho é maior e o
desperdício que antes era de
aproximadamente 50% diminuiu para 15%”,
afirma
A realidade do pequeno produtor do
município mudou após a chegada das feiras
em locais específicos da Associação de
Desenvolvimento Sustentável do Amazonas
(ADS). Com a realização de feiras em centros
comerciais, o lucro de cada produtor por
semana é de pelo menos R$ 6 mil.
“Antes a gente precisava sair com o carro
carregado, sem saber se o dinheiro que ia
entrar seria suficiente para conseguir nos
manter. Além disso, em anos anteriores
alguns produtores já chegaram a produzir até
cinco toneladas de pimentão. Atualmente se
a produção chega a 500 quilos é muito. É
aquela história, estamos produzindo menos e
ganhando mais, mesmo não estando em
grandes supermercados e feiras”,
enfatizaram os agricultores.
Há quem ainda prefira continuar vendendo a
produção para a Manaus Moderna. O baiano
Santival Dias de Souza, 51, pequeno produtor
do ramal Santa Rosa, segue escoando a
produção por meio de atravessadores. Ele
conta que mesmo vendendo pepino, couve,
pimenta de cheiro e pimentão por valores
mais baixos, não falta para o sustento da
família.
“O maior problema é que ao longo de dez
anos eu continuo vendendo o quilo dos meus
alimentos a R$ 6. Porém, tudo aumentou,
produtos para o plantio, como o agrotóxico,
lonas para as estufas, mudas entre outras
coisas ficaram mais caros e eu não consigo
vender por um valor mais alto que esse”,
explica.
Santival lamenta a crise e diz que a principal
dificuldade do pequeno produtor no
Amazonas é a falta de incentivos e leis que
travam a compra de novos produtos para
melhorar a qualidade do produto final. “Às
vezes eu acho que o governo só pensa em
dificultar nossa vida. A burocracia é enorme
para conseguir aumentar a produção. Isso
desanima, uma vez que a gente precisa adubar muito bem a terra para que a
produção seja a melhor. Já me desfiz de dois
terrenos porque não estava conseguindo
manter tudo. A população precisa saber que
em todo o Amazonas, pequenos produtores
lutam para sobreviver todos os dias”,
enfatiza.
Para Regina Barbosa, 38, que toca a
produção com o marido, conta que os
produtores precisam ser mais vistos pelos
institutos que cuidam da agropecuária no
Estado. “Temos o Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
(Embrapa), mas não sei ainda o motivo de
elas não conseguirem chegar ao produtor
rural. Nós temos ciência de que o Instituto de
Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas
(Idam), que precisa fazer essa ponte.
Infelizmente o sentimento é de abandono,
por isso, tantas coisas que chegam à mesa
não é produzido aqui”, salienta.
Manaus Moderna
Na orla da Manaus Moderna é possível
encontrar lanchas durante todo o dia
atracando para deixar os produtos em
Manaus, jiló, mamão, cebolinha, cebola entre
outros alimentos são trazidos de outros
Estados para abastecer a feira. Pará,
Roraima, Rondônia e Acre são alguns dos
principais Estados da Região Norte que
enviam alimentos para Manaus. Do
Nordeste, o Ceará é outro Estado brasileiro
que exporta hortaliças para a capital
amazonense.
No segmento da fruticultura, frutas como
abacaxi, laranja e banana, produzidos nos
municípios de Itacoatiara e Rio Preto da Eva,
por exemplo, são vendidas a um bom preço
no local. Para os produtores desses
municípios a maior dificuldade é conseguir
fazer com que toda a produção seja
aproveitada pela capital.