14/09/2018
Notícia publicada pelo site Diário Comércio Indústria & Serviços
A falta de confiança do consumidor preocupa fabricantes da linha branca. O setor avalia que as indefinições políticas geram um ambiente econômico turbulento, colocando em risco o crescimento da demanda de fim de ano.
“O que mais preocupa a indústria é a indefinição em relação às eleições. A cotação do dólar, por exemplo, é um subproduto dessa incerteza”, avalia o diretor da empresa de pesquisa de mercado GfK, Henrique Mascarenhas. Ele acredita que a indústria deve ser mais conservadora em relação às vendas da Black Friday, que ocorre em novembro. “Dificilmente grandes apostas estão sendo feitas. Temos eleição pela frente, a confiança do consumidor está em queda nos últimos meses e a conjuntura atual não incentiva comprar algo que não seja muito necessário.”
Segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV), o índice de confiança do consumidor apresentou queda de 0,4 ponto na passagem de julho para agosto. Mascarenhas destaca que mesmo com a alta do dólar e impacto dos preços de matérias-primas, como aço e plástico, as vendas poderiam ser positivas em um cenário de maior confiança. “Mesmo se os produtos aumentarem muito de preço, por conta do dólar ou das commodities, o consumidor migraria para um produto de valor menor.”
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge do Nascimento Junior, admite que a variação cambial tem sido uma preocupação, mas não é o único problema. “Atrapalha qualquer planejamento fabril do mundo, mas não é o único fator. Há instabilidade por conta das eleições, passamos pela greve dos caminhoneiros, o conjunto da obra faz com que tenhamos um ambiente econômico inseguro.”
O dirigente aponta que a preocupação é a dificuldade de repassar as altas ao consumidor neste cenário. “O principal insumo da linha é o aço e há outros materiais que são importados. Não dá pra jogar tudo para o consumidor, ele pode optar por não comprar se o preço aumentar muito. A indústria tem que encontrar outras formas de cortar custos.”
Mascarenhas destaca que, embora a valorização do dólar cause problemas, é possível mitigar seus efeitos. “Há mecanismos como hedge cambial, negociação com varejistas e fornecedores, saídas para manter a margem estável. Os picos de dólar não são duradouros, o que afeta a indústria é essa manutenção em um patamar mais alto.” Ele acredita que haverá uma perspectiva mais clara após as eleições. “Se a população se animar com o resultado, vai ter uma Black Friday boa, as condições não estão ruins. A economia não empolga, mas cresce; a taxa de juros é a menor da história e a inflação está controlada. O pano de fundo não está ruim, o entrave é a incerteza de curto de prazo”, esclarece.
Revisão de crescimento
Nascimento reiterou que após um 1º trimestre animador, as perdas com a greve dos caminhoneiros impactaram o setor como um todo. Em coletiva de divulgação dos resultados do 1º semestre, no final de julho, a Eletros já havia expressado a possibilidade de revisar a expectativa para 2018. “Esperávamos crescimento de 10% a 15%. Estamos fechando os dados de agosto, mas pelo que sondamos até agora, há um viés de baixa. Imaginávamos que seria um ano de recuperação, mas após a greve, o consumidor voltou a se sentir inseguro.” Apesar disso, ele afirma que o volume de venda de televisores foi dentro do esperado. “A demanda foi de acordo com a expectativa de um ano de Copa do Mundo”, diz Nascimento. De acordo com a entidade, o total de vendas de TVs na primeira metade do ano foi de 6,29 milhões de unidades. No mesmo período do ano passado, foram vendidas 5,07 milhões de unidades.