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Fabricantes e revendedores estão com o nível de estoque muito alto

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04/10/2022

Por Margarida Galvão

A indústria de ar-condicionado do Polo Industrial de Manaus (PIM) não teve um bom desempenho no primeiro semestre de 2022, nem tão pouco garante obter uma boa performance neste segundo semestre, conforme os representantes e fabricantes do produto. Indicadores industriais divulgados pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) apontam que a produção do condicionador de ar Split System teve uma queda 48,84 % se comparado o primeiro semestre de 2022 com um total de 1.505.729 aparelhos produzidos, contra 2.943.144 em igual período de 2021. A produção está abaixo até de 2020, quando foram fabricadas 1.858.523 unidades. A queda na produção do ar-condicionado de janela ou de parede de corpo único foi superior a 86%, se comparados os 32.118 aparelhos fabricados nos primeiros seis meses deste ano, em relação aos 246.729 em igual período do ano passado. Condições climáticas, inflação e taxas de juros altas são apontadas pelos fabricantes como os responsáveis pelo cenário nada animador.

Apesar do ar-condicionado split apresentar queda de produção no período avaliado pela autarquia, quando analisado suas partes, que são produzidas e vendidas separadamente -a unidade evaporadora, que fica dentro do ambiente jogando o ar refrigerado, e a unidade condensadora, que fica na parte externa do cômodo, responsável pelas trocas de calor-, o resultado ganha um viés positivo. Ou seja, as duas peças aparecem na lista dos principais produtos fabricados no PIM nos primeiros seis meses de 2022.

Conforme os indicadores industriais, foram produzidas 201.639 unidades evaporadoras para split system, com crescimento de 151,12%, contra 80.297 em igual período de 2021. De unidades condensadoras para split system foram produzidas 115.606 unidades e aumento de 142,18%, contra 47.735 em igual período do ano passado.

Com base nos dados do mercado, comparando o período de janeiro a gosto de 2022 em relação a igual período de 2021, a Eletros identifica queda de produção no segmento de ar-condicionado, tanto Split Sistem, como de janela. Nos oito meses de 2022, foram produzidos cerca de 1.976.734 aparelhos split contra 2.639.264 em igual período de 2021, representando uma queda de 25%. Já os aparelhos de janela, foram fabricadas 115.338 unidades ante os 300.658 em 2021, uma queda de 62%.

No que se refere ao volume de vendas de ar-condicionado, o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge do Nascimento Júnior, admite que o volume de vendas apresenta cenário negativo, com retração relevante, sem expectativa de recuperação para os meses vindouros de 2022 e mesmo para o ano de 2023, considerando que o próximo verão, segundo especialistas, continuará a ser afetado pelo fenômeno La Niña, ocasionando temperaturas mais amenas, quando comparadas àquelas de verões anteriores.

Mas existem outros fatores que justificam essa queda como a alta inflacionária. Os fabricantes estão com o custo de produção muito elevado, fazendo com que o custo do produto fique mais caro, ocasionando retração na economia. “Produto com preço elevado, poder aquisitivo do brasileiro menor, em relação a dois anos atrás, desemprego e insegurança no ato do consumo, são fatores que fazem com que o consumidor se retraia”.

No caso do ar-condicionado, ainda tem um fator importante que atinge os grandes centros consumidores do produto no país, cujo verão não tem sido muito forte e então a pessoa só compra ar-condicionado quando ela tem de quatro a cinco dias de calor intenso. “Isso não vem acontecendo nos últimos dois anos com o efeito La Niña, que tem baixado as temperaturas”.

No que se refere ao faturamento do segmento, tem se mantido estável por conta da alta da inflação, fazendo o preço do produto final subir, diferente da base de produção, que tem caído de forma significativa como mostram os indicadores.

“Em linhas gerais, esse é o panorama vivenciado pelos fabricantes do produto até agora. Mas, se nesse final de ano tivermos um verão muito forte em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, poderemos ter um crescimento”. Lembrando que em 2020 houve um crescimento significativo na produção de ar-condicionado, porém, nos últimos dois anos os números têm sido bem ruins”.

O diretor da área de ar-condicionado da Eletros, Thiago Rodrigues, avalia que o ar-condicionado é um produto de primeira necessidade, principalmente em algumas regiões do país como Sudeste (Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais) e Sul (Rio Grande do Sul), consideradas quentes no verão. “Como neste ano as temperaturas estão mais amenas, o consumidor está comprando menos o produto nesse período, o que contribui para a queda nas vendas”.

A Eletros tem 30 empresas associadas no Brasil e 18 delas estão instaladas no Polo Industrial de Manaus, com destaque para as fabricantes de televisores e da chamada linha branca (geladeira, ar-condicionado, fogões etc.).

Maior fabricante do continente

Uma das grandes fabricantes de ar-condicionado no PIM, a Midea Carrier, situada no bairro do Tarumã, zona Oeste de Manaus, também sente os reflexos da queda no mercado de climatização. A planta da Midea Carrier possui 38.050 m² e, atualmente, opera 14 linhas de produção, contando com aproximadamente 750 colaboradores. A unidade do PIM é considerada não apenas a maior produtora de ar-condicionado da América Latina, mas também a maior fábrica de climatização do continente.

O grupo Midea Carrier possui duas plantas industriais no Brasil, a de Manaus, direcionada à fabricação de ar-condicionado e micro-ondas, com capacidade produtiva anual de dois milhões de splits e um milhão de micro-ondas. A outra em Canoas (RS), voltada exclusivamente ao mercado de climatização comercial, tem capacidade produtiva de 290.000 toneladas de refrigeração por ano.

O diretor industrial da planta Midea em Manaus, Clóvis Leite, faz uma análise com relação ao volume de produção da empresa no período verificado, dividindo em três bloco. Para o ar-condicionado de janela há uma redução quando comparado 2021 versus 2022 resultando numa redução de 60%. Para o ar-condicionado Split, no período analisado, houve uma queda de mercado de 30%.

“Apesar do movimento de estabilidade e do leve acréscimo no primeiro semestre, quando a gente olha o ano de 2022, o primeiro mais o segundo semestre, se enxerga uma queda, tanto na produção de ar-condicionado de janela quanto no split”. Leite ressalta que a linha comercial leve, de ar-condicionado usados em farmácias e pequenos estabelecimentos permanece estável.

Neste cenário, não há grandes perspectivas para os próximos meses do ano no volume de produção, diante de alguns fatores, tais como, a condição climática do efeito La Niña que deve perdurar até o mês de fevereiro de 2023. Este fenômeno traz uma queda nas temperaturas, resultando em menos demanda por ar-condicionado e menos vendas.

Outro ponto avaliado está na inflação e taxa de juros, que geram menos capital disponível às famílias e menos compras. Somado a isso, está havendo um movimento de mudança de direcionamento do consumidor com o fim da pandemia. “As pessoas estão gastando mais com serviços e viagens e menos com bens duráveis”, pontua.

Outro fator diz respeito ao leve desaquecimento observado na área da construção civil comparando com os anos anteriores, o que também afeta a demanda por ar-condicionado. “Por conta disso, os fabricantes e os revendedores estão com o nível de estoque muito alto e essa conjuntura deve contribuir para que 2022 seja um ano de retração, ou seja, de queda e menos demanda”.

Modelo inverter

Por hora, a maior movimentação de vendas de ar-condicionado tem se voltado para os equipamentos inverter (que reduzem o consumo de energia), apresentado um crescimento anual de 5% nos últimos dois anos. A projeção de mercado desse produto neste ano é algo em torno de 55% para o inverter e 45% para o modelo fixo. “Quando eu comparo com 2021, a demanda por inverter foi de 48% e de fixo 52%. Em 2022 a gente vê aí uma troca de 7% em relação ao inverter”.

Além dos 750 colaboradores, entre chão de fábrica e área de apoio, a Midea tem prestadores de serviços e fornecedores, resultando numa cadeia que gera bastante emprego. Durante os meses de agosto até novembro esse número de empregados sofre um acréscimo, e, dependendo da demanda de pedidos, salta para algo em torno de 1.100 a 1.200 colaboradores, que é a mão de obra temporária, contratada em consequência do verão.

Investimentos realizados

Sobre os investimentos da Midea no PIM, entre desenvolvimento de novos produtos, renovação de máquina, investimento em tecnologia, ergonomia e infraestrutura de fábrica de uma maneira geral, gira algo em torno de R$ 39 milhões, que somados com equipamentos, infraestrutura e programa de educação chega à casa dos R$ 2 milhões.

A Midea subsidia cursos de graduação, pós-graduação, mestrado e idiomas, bem como, investe na saúde dos colaboradores. A empresa oferece ainda aos seus colaboradores plano de saúde e odontológico. “Nessa cobertura de saúde tem algo em torno de R$ 4,5 milhões investidos”.

Perspectiva futura

Apesar dos desafios, cujos principais são a inflação, commodities, valor do frete internacional e a taxa de câmbio, as perspectivas da fabricante são positivas para o futuro. Somado a isso, tem a mudança de comportamento dos consumidores, que com o fim da pandemia estão usando o seu orçamento para viagens, shows e restaurantes em detrimento ao consumo de bens duráveis. “Essa mudança de comportamento traz impacto para a demanda, mesmo assim, entendemos que existe um cenário positivo e desafiador, de cada vez mais investir em pessoas, qualificação em inovação e no desenvolvimento de novas tecnologias para os produtos e processos, esse tem sido o nosso direcionamento maior”.

Fonte: PIM Amazônia

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