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Exportações para a Venezuela são retrato da falência do modelo chavista

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26/02/2019

Notícia publicada pelo Jornal do Commercio

Marco Dassori

O bloqueio das fronteiras da Venezuela fechou um mercado que já foi uma das principais rotas para as exportações do Amazonas, mas que vinha em trajetória declinante nos últimos anos. Fontes ouvidas pelo Jornal do Commercio, contudo, minimizam os eventuais efeitos da ação para o Estado e para Roraima, as regiões mais próximas do país caribenho. Pelo menos no curto prazo.

Em janeiro de 2019, as vendas do Amazonas para o país vizinho não passaram de US$ 940.316, uma queda de 41,59% sobre o apurado 12 meses antes (US$ 1.61 bilhão). A Venezuela ficou em 11º lugar no ranking amazonense de exportações, segundo os números do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços).

O país já chegou a figurar entre os três principais destinos das exportações do Amazonas, não raro ocupando a primeira posição. Em 2008, o saldo das vendas externas locais para aquele destino totalizava US$ 181.47 milhões; subiu para US$ 198.69 milhões em 2013 e se manteve em patamar semelhante até 2015 (US$ 196.34 milhões); em 2016, despencou pela metade (US$ 81.22 milhões), até atingir US$ 13.33 milhões, no final de 2018.

O tombo no comércio entre as duas regiões coincide com a mudança de grupo político no comando do governo brasileiro, após o impeachment de Dilma. Coincide também com o acirramento das tensões internas e fechamento político no país vizinho, assim como a crescente imagem negativa do governo Maduro junto à opinião pública internacional.

“A situação já vinha se agravando na época, assim como a vinda de refugiados. Mas, o Brasil não fazia nada a respeito. A oposição venezuelana precisava de uma sinalização brasileira, que foi dada pelo atual governo”, afiançou o cientista político e professor universitário de Relações Internacionais, Breno Rodrigo Leite.

Farinha e sabão

Além da retração no volume de exportações do Amazonas para a Venezuela, vale notar que os bens duráveis – e de maior valor agregado – perderam espaço para produtos alimentícios e de higiene. Em janeiro de 2019, a lista foi encabeçada por extratos de malte e preparações alimentícias de farinha (US$ 394.235), açúcares (US$ 113.221) e sabões (US$ 85.649). Em 2008, celulares (US$ 72.29 milhões) eram o item preferencial de uma lista que incluía TVs (US$ 38.27 milhões) e motos (US$ 1.14 milhão).

“Um dos produtos que eles mais compravam da Zona Franca, os concentrados, hoje são adquiridos principalmente pela Colômbia. E o pior é que os artigos que seguem do Amazonas para Venezuela atualmente não são nem produzidos em Manaus, mas em São Paulo. E isso gera problemas de certificação de origem do produto”, lamentou o gerente executivo do CIN (Centro Internacional de Negócios) da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Marcelo Lima.

O executivo diz não ver impactos significativos do fechamento da fronteira venezuelana para o Amazonas. “Recebíamos constantemente propostas de rodadas de negócios. Mas, o fato é que ninguém mais estava querendo negociar com a Venezuela, a não ser com pagamento antecipado. Quando eles não davam calote, pagavam, no máximo, 30% do valor total. Com a crise, a situação virou caso de polícia”, desabafou.

Tensões internalizadas

Um dos eventuais efeitos da escalada da crise venezuelana comumente apontados é o corte no fornecimento de energia para Roraima, que hoje depende do país vizinho para gerar metade da eletricidade que consome. Breno Rodrigo Leite descarta essa possibilidade. “Isso seria uma quebra de contrato. E a Venezuela perderia uma receita significativa em tempos de crise. Mas, boa parte da gasolina usada em Roraima vem de lá, e a porta está fechada agora”, ponderou.

O professor de Relações Internacionais avalia que, ao fechar a fronteira venezuelana, o governo Maduro deu um tiro no pé. Sem a válvula de escape do êxodo, pondera o cientista político, as tensões políticas tendem a ser internalizadas, com resultados imprevisíveis no médio prazo.

“A repressão gera inconformismo e tende a transformar a Venezuela em uma panela de pressão. A população está desarmada agora, mas isso pode mudar através da ação de países vizinhos”, ressaltou. Leite não descarta a hipótese de que a própria ajuda humanitária agora encaminhada pelos países do Grupo de Lima poderia incluir armas, secretamente.

Por essa razão, o cientista político não vê possibilidade de a Venezuela se transformar em um novo Vietnã. “O país está abandonado e desabastecido. Rússia e China têm interesses por lá, mas não fizeram nada para conter a crise, além de não ter o conhecimento necessário da região. E, um eventual apoio desses países sairia muito caro para a ditadura Maduro”, encerrou.

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