25/03/2019
Notícia publicada pelo site Amazonas Atual
Valmir Lima
O estudo “ZFM – Impactos, Efetividade e Oportunidades” realizado pelo FGV (Fundação
Getúlio Vargas) por encomenda de entidades empresariais concluiu que há um “forte risco de o
parque industrial existente, que gera cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos, ser afetado
por choques externos como abertura comercial e agenda de reforma tributária”, propostos pelo
governo de Jair Bolsonaro, sob a batuta do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Na apresentação que fez a empresários e políticos do Amazonas, na sexta-feira passada, o
professor Márcio Holland, coordenador do estudo, afirmou que a abertura comercial e reforma
tributária são muito bem vindas para todo o país, mas ponderou que a região precisa se preparar
para esses desafios.
Holland lembrou que a abertura comercial editada nos anos de 1990 pelo então governo de
Fernando Collor de Mello foram responsáveis pelo fechamento de 40 mil postos de trabalho no
Polo Industrial de Manaus (queda de 50% do emprego no PIM).
Nos últimos anos, os empregos na Zona Franca de Manaus também sofreram forte impacto das
crises econômicas. A recessão brasileira de 2014 a 2017 foram responsáveis por eliminar 34,7 mil
postos de trabalho. E em 2008, com a crise econômica mundial, foram perdidos 5,9 mil empregos
no PIM, de acordo com o estudo.
Uma canetada pode ser fatal
O estudo conclui que poucas medidas ao alcance do Poder Executivo podem ser suficientes para
reverter planos de investimentos para a região tanto de empresas já instaladas em Manaus quanto
de novas empresas.
“Mesmo a ZFM tendo sido prorrogada da Constituição Federal para até 2073, simples alterações em
IPI, II ou PIS-Cofins, por meio de decreto ou MP, podem retirar a vantagem competitiva de se
posicionar no PIM”, diz trecho do estudo.
Para o professor Holland, falta de planejamento de longo prazo para a sustentação do PIM deixa a
Zona Franca de Manaus à mercê de debates sem fundamentação e sem base científica. “A ZFM tem
sido alvo de críticas sem estudos e fundamentação e sem comparações com outros gastos
tributários possivelmente menos efetivos”, disse coordenador do estudo.
Renúncia fiscal
Sobre a renúncia fiscal gerada com os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus, o estudo
mostra que representa apenas uma pequena parcela do chamado “gasto tributário”, que vem
diminuindo na ZFM, passando de 17% nos últimos anos para 8,5% em 2018.
Sudeste detém mais da metade desse gasto.
Em 2018, a Zona Franca de Manaus foi responsável por apenas 8,5% do gasto tributário (R$ 24,2
bilhões), enquanto o Simples Nacional custou R$ 80 bilhões (28,4%) e o IRPF, 40,4 bilhões (17,9%).
O estudo questiona enquadramento da ZFM como verdadeira renúncia tributária (política
econômica), e diz que parte dos valores constantes no gasto tributário são questionáveis, por
incluírem itens que não representam perda de arrecadação dos respectivos tributos.
O estudo também chama a atenção para o fato de a renúncia fiscal no Amazonas gerar benefícios
tributários a outras regiões do país, o que precisaria ser contabilizado no gasto tributário da
região.
“Os valores relativos à ZFM estão em relação dinâmica com a carga tributária ou renúncia das
demais regiões, não podendo ser considerados de forma absolutamente nominal (o aumento ou
renúncia de uma determinada região influencia a carga tributária da outra)”, diz Holland.
O professor da FGV diz que a equipe dele constatou que, no Estado do Amazonas, a arrecadação
tem acentuada participação no PIB. “Sem Zona Franca de Manaus, dificilmente o estado teria a
arrecadação tributária observada”.
Aumento da renda per capita
Outro ponto positivo apontado no estudo é o aumento da renda per capita no Amazonas, em
função da Zona Franca de Manaus. Apesar de ainda ser quase duas vezes menor que a renda per
capita de São Paulo, essa diferença caiu substancialmente em quatro décadas.
Essa diferença foi reduzida em meio a um crescimento populacional, principalmente em Manaus,
superior ao restante do Brasil. “Vale registrar que, de 1960 para cá, a população de Manaus
cresceu 12,7 vezes, no Estado do Amazonas, 5,7 vezes e no Brasil, 3 vezes”.