23/02/2023
Pensar na empresa/indústria moderna é, automaticamente, identificá-la como uma organização que adota medidas de Environmental, Social and Governance (ESG). Mas você sabe o que isso significa?
Em tradução literal, o termo significa adoção de medidas Ambientais, Sociais e de Governança. No entanto, muito mais do que uma sigla, o contexto representa algo mais emblemático e com alto impacto na construção da marca e da própria empresa. Ambos os fatores estão intimamente presentes na relação da empresa com a sustentabilidade, boa reputação e suas práticas transformadoras, características necessárias para a indústria atual.
A visão mais positiva da indústria, sem colocá-la como a grande vilã da sociedade, está diretamente ligada com as práticas de ESG. Visto isso, é necessário repensar as próprias estratégias e investir em mudanças a curto, médio e longo prazo.
O acordo de Paris como referência
Uma das questões mais proeminentes no século foi que as indústrias eram as principais responsáveis pela poluição do mundo. A afirmação estava intimamente ligada ao fato de que a industrialização aumentou a emissão de poluentes na Terra.
Desde que a ciência e os ambientalistas perceberam a necessidade de desacelerar a emissão de gases de efeito estufa, a problemática, quase sempre associada aos processos industriais, vem ganhando força. Temas como o aumento da temperatura média, as crises hídricas em diferentes países e até mesmo a fome fazem parte de reuniões governamentais e pautam a opinião pública. Em 2015, durante a COP21, em Paris, 195 países firmaram um acordo internacional que estimula países e cidadãos a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Como a iniciativa não depende apenas dos governos, houve uma recomendação para que indústrias adotassem processos mais sustentáveis a fim de melhorar a qualidade de vida do Planeta.
As políticas ambientais, desde então, têm sido a base para diferentes práticas de ESG industrial. Até porque, alterando os processos, observou-se que quanto mais sustentáveis as empresas, melhor é o negócio para a sociedade e, ao mesmo tempo, menor o custo para a indústria.
ESG é para todos os tipos de indústria?
A Just Capital divulgou recentemente um ranking das empresas com melhor desempenho em ESG do mundo. Todas as primeiras colocadas fazem parte do setor de tecnologia e inovação, com foco em seus trabalhadores e comunidades.
Em empresas de manufatura, nota-se que as mesmas precisam investir mais em operações sustentáveis se quiserem continuar crescendo e inovando. A realidade agora exige uma transformação dupla, que leve em conta as transformações digitais alinhadas aos objetivos práticos de ESG.
A principal maneira de colocar o modelo em prática é demonstrando a preocupação com as questões nos três eixos. Contudo, é possível dedicar maior atenção a um deles, como o meio ambiente, por exemplo. A área ganha destaque no cenário mundial também por conta do Acordo de Paris, citado anteriormente, e das práticas e hábitos de consumo dos indivíduos, cada vez mais preocupados com a sustentabilidade.
ESG exige desafios
Mesmo sendo uma necessidade do mercado atual, não é fácil, nem barato fazer investimentos em ESG. A aplicação requer muito planejamento e precisa estar de acordo com os objetivos organizacionais, implementados em todas as estruturas empresariais. No entanto, já é provado que retornos financeiros são evidentes e, ao mesmo tempo, há significativa melhoria em indicadores que possibilitam o crescimento industrial.
Aliado a essa afirmação, também existe a compreensão de que os investimentos em ESG atraem novos investidores e consumidores, dispostos a apostar nessa ideia. Portanto, empreendedores precisam ver a implementação de ESG como um planejamento estratégico que melhora a situação industrial.
Como aplicar na indústria?
Ter uma gestão eficiente e responsável, capaz de apoiar a organização a manter seu ritmo de crescimento, bem como estar em conformidade com as regras ambientais e de segurança, priorizando os colaboradores não é uma tarefa fácil, muito menos rápida de ser colocada em prática. Elas requerem muito planejamento estratégico e uma equipe preparada para encarar tantas mudanças - que passam por toda a estrutura da indústria.
Sendo assim, a primeira dica de como aplicar os fundamentos de ESG na indústria passa exatamente pela mudança cultural da organização como um todo. Isso significa, em outras palavras, que empresários precisam investir na capacitação das equipes e também modificar as relações com toda a cadeia produtiva, envolvendo equipes de gestão, passando pelos parceiros de negócio e chegando aos clientes.
Uma outra boa dica é contar com a colaboração de parceiros que tenham expertise no assunto. O conhecimento prático nos processos de implementação de ESG auxilia na construção de ideias inovadoras e que mitiguem os erros possíveis durante a mudança estrutural. Com mais assertividade e redução de danos, há também uma melhoria na própria governança da indústria, que passa a ser mais transparente em seus negócios e ganha em qualidade e confiabilidade.
A indústria do amanhã é feita de iniciativas ESG
Embora existam desafios, há, concomitantemente, uma oportunidade para as indústrias diante desse cenário. O mundo cada vez mais tecnológico e conectado exigirá, cada vez mais, processos e práticas com melhorias contínuas, não podendo mais a indústria ficar parada no tempo.
Sempre propulsora de novidades, a indústria também precisa se adaptar a esse quadro e aproveitar a oportunidade para crescer com sabedoria e atratividade.
Não bastará apenas investir em equipamentos modernos e eficientes, com padronização de formatos e processos se, ao mesmo tempo, as atividades não estiverem conectadas e interligadas com as iniciativas ambientais, sociais e de governança.
(*) Carlos Boechat é executivo e empreendedor na indústria. Membro do Open Mind Brazil LinkedIn