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Entidades e indústria tentam estimular produção de insumos farmacêuticos no Brasil

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15/02/2021

Fonte: Época

Mesmo com o início da vacinação contra a covid-19 no Brasil, após a aprovação emergencial dos imunizantes de Oxford/AstraZeneca e da Sinovac, o governo brasileiro se viu diante de novos obstáculos além da doença: a escassez de materiais como seringas, agulhas e o IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), matéria-prima de vacinas e remédios que provoca a resposta imunológica no organismo humano. O ingrediente não é fabricado no Brasil e tem de ser importado de países como China e Índia.

Para evitar a paralização da vacinação no país por falta de insumos, seria necessária quase uma operação de guerra, uma vez que a imunização de 210 milhões de pessoas, no caso da população brasileira, exige a mobilização de diferentes fornecedores de serviços, insumos e produtos, além de um complexo planejamento. De acordo com a plataforma Our World in Data, desenvolvida pela Universidade de Oxford, o Brasil aplica até o momento 1,94 doses para cada 100 habitantes.

Plano nacional de vacinação

Por aqui, a vacinação contra a covid-19 começou em janeiro, com 5.994.560 milhões de doses, pelos dados do Ministério da Saúde. O primeiro lote foi da vacina Coronavac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e fabricada no país pelo Instituto Butantan. Depois foi a vez do imunizante de Oxford/AstraZeneca, produzida nacionalmente pela Fiocruz, com 906.600 mil doses. O Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19, criado pelo Ministério da Saúde, prevê atualmente a imunização de trabalhadores de saúde, idosos, pessoas com deficiência e povos indígenas. Além da aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do uso emergencial de vacinas produzidas pela Fiocruz (que recentemente pediu registro definitivo do imunizante) e pelo Butantan, a Pfizer submeteu um pedido de registro definitivo para a aprovação da sua vacina.

O governo iniciou negociações para a compra da Sputnik V, do Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia, e da indiana Covaxin, da Bharat Biotech, cujas doses somadas aos acordos com a Fiocruz e o Butantan, à adesão ao consórcio Covax Facility e à importação de doses prontas da vacina Oxford/AstraZeneca resultariam num total de 354,9 milhões de doses até o fim deste ano, segundo informações da Agência Brasil.

Dependência da indústria nacional

Afinal, o que trava a imunização em massa contra a covid-19 no Brasil? A resposta está no cenário da indústria farmacêutica nacional. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi) apontam que o país fabrica apenas 5% dos insumos para a produção de medicamentos. A maior parte, 95%, é importada de países como China e Índia — esses resposáveis pela fabricação de 40% dos insumos utilizados no mundo.

Mas nem sempre foi assim. Na década de 1980, a indústria farmacêutica nacional era responsável por 55% de seus insumos. No entanto, na década seguinte, deu lugar à importação de medicamentos, uma vez que tornou-se mais barato trazer os insumos de fora do que fabricá-los no Brasil. Dessa maneira, a nação passou a importar 90% dos IFAS utilizados, como consequência da abertura comercial e da desestimulação da produção local.

"Essa vulnerabilidade em relação aos insumos em um país de 210 milhões de habitantes e com um sistema único de saúde, o SUS, é inadmissível", afirma Norberto Prestes, presidente da Abiquifi.

Entidades e empresas reagem

Em 2020, no ápice da pandemia de coronavírus, "a saúde passou a ser vista como ativo estratégico", de acordo com Prestes. Já o IFA, fundamental para a produção de vacinas contra a covid-19, tornou-se essencial na guerra contra o vírus.

Com pouca vacina, o Brasil viu-se diante de novos (ou velhos) desafios: a insuficiência de seu setor farmoquímico e os percalços políticos que travaram o envio de imunizantes e insumos da China e da Índia, enquanto outros países já haviam iniciado a imunização de seus cidadãos.

Em uma tentativa de tornar esse setor mais independente de pressões e escassez externas, entidades como a Abiquifi e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) firmaram um acordo de fomento a inovação, produção local e independência tecnológica. A Aliança Estratégica, projeto lançado no fim de janeiro durante uma cerimônia online, vai estimular a cooperação entre as 44 empresas associadas à Abiquifi com os centros de pesquisas da Embrapii no Brasil. Sem pesquisa, sem inovação

"Hoje, um dos maiores problemas de se inovar no Brasil é que a maioria das empresas industriais não possui centros de pesquisa. Sem centros de pesquisa, não é possível fazer inovação, criar novos produtos ou patentes", afirma Jorge Guimarães, diretor presidente da Embrapii. "Sabemos que existe muita competência nas universidades brasileiras e centros de pesquisa, por isso queremos torná-las mais acessíveis para as empresas."

Desde 2013, a entidade apoia instituições de pesquisa tecnológica e fomenta a inovação na indústria brasileira, estimulando a cooperação com instituições públicas ou privadas, tendo como foco as demandas empresariais do Brasil. Atualmente, a Embrapii, como organização social privada sem fins lucrativos, recebe recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e do Ministério da Educação — e, recentemente, do Ministério da Saúde.

Hoje, a entidade conta com 61 das chamadas "unidades Embrapii" — centros credenciados de pesquisas de universidades brasileiras com experiência em inovação industrial — destinatárias desses recursos financeiros por meio da entidade. Entre elas, estão o Instituto de Física da USP de São Carlos (SP), o Senai Cimatec, na Biahia, e o Laboratório de Metalurgia Física da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para a Aliança Estratégica, o modelo de trabalho é semelhante ao "modelo Embrapii", conforme explica Jorge Guimarães. As empresas de insumos farmacêuticos participantes (associadas da Abiquifi) levarão seus projetos para serem desenvolvidos em parceria com as unidades de pesquisa da Embrapii. Estas, por sua vez, disponibilizarão sua infraestrutura, como equipamentos, materiais e máquinas, para as empresas. Esses recursos representam cerca de 18% dos fundos disponibilizados para as companhias, e que serão usados no projeto.

"O setor farmacêutico no Brasil, mesmo na Embrapii, ainda é muito deficitário. De 750 empresas parceiras, apenas quatro são do setor. Isso é um absurdo para um país que é o maior mercado consumidor de medicamentos no mundo", enfatiza Guimarães.

Para Norberto Prestes, da Abiquifi, o primeiro passo para retomar o setor de insumos no Brasil é investir em tecnologia. "Hoje, já é possível prever quais enfermidades serão predominantes na população daqui a 20 ou 30 anos", afirma. "E o Brasil pode se preparar tecnologicamente para isso, investindo em universidades, centros de pesquisas, na qualificação de mão-de-obra, financiando empresas nacionais para que elas retomem seus parques industriais e aplicando modelos de fabricação que já são referência no exterior."

O representante da entidade salienta que a pandemia representa uma possibilidade de retomar o setor, mas de maneira mais planejada e direcionada. "Nenhum país é 100% independente em IFA, mas é possível definir quais insumos serão integralmente produzidos aqui, levando em consideração os aspectos da saúde pública brasileira", diz.

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