04/12/2018
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A expansão de pequenos negócios
inovadores que lucram fazendo o bem,
verificada nos últimos anos em polos do
Centro-Sul e Nordeste, chega agora com
maior força à Amazônia. O movimento
busca soluções capazes de aliar a lógica
de mercado ao uso sustentável e à
manutenção da maior floresta tropical do
planeta, com expectativa de ganhos nos
indicadores de desenvolvimento.
Como marco dessa tendência, quatro startups da floresta alinhadas ao
desafio socioambiental receberam em novembro uma notícia capaz de fazêlas
mudar de escala: o acesso a recursos no total de R$ 1,1 milhão, para
impulsionar inovações nascentes. No 1º Fórum de Investimentos de Impacto
e Negócios Sustentáveis na Amazônia, realizado em Manaus (AM), outras dez
iniciativas foram selecionadas para um programa de aceleração dos negócios
em áreas que vão da educação a alimentos.
"O movimento está no centro das transformações necessárias à economia da
Amazônia, que abriga 25 milhões de brasileiros e representa menos de 8%
PIB do país", diz Mariano Cenamo, pesquisador do Idesam, ONG voltada a
projetos de desenvolvimento sustentável na região. "Em momento políticoeconômico
delicado, a iniciativa privada deve assumir o protagonismo das
soluções, independentemente de governos".
Jovens "millennials" olham os desafios ambientais e sociais da floresta como
oportunidade de receita, no cenário que precisa ser repensado: "Os pilares
que reduziram o desmatamento e a pobreza baseados na transferência de
renda pelo governo federal, já não se sustentam", diz Denis Minev, investidor
de impacto e presidente da Bemol, rede de varejo que integra a plataforma
Parceiros pela Amazônia (PPA) - aliança que foi criada no ano passado para
construir caminhos inovadores com as empresas e é responsável pela
realização do evento de startups em Manaus como vitrine de mudanças.
Para o empresário deve-se aumentar a escala dos projetos-piloto já existentes
em bioeconomia, com maiores aportes em tecnologia e produtividade, e
nesse sentido a Zona Franca de Manaus "precisa se reinventar". Os fundos
associados somam um potencial de investimento de R$ 2,8 bilhões por ano
que poderiam fomentar inovações, mas, segundo analistas, não têm sido bem
utilizados.
Segundo levantamento da Ande Brasil, os negócios sociais movimentam US$
60 bilhões no mundo, com crescimento de 7% ao ano. "Mas, na América
Latina, cerca de 70% das empresas em estágio inicial não têm acesso a capital
para crescer", afirma Nicole Etchart, diretora da NESst, organização global
de investidores de impacto.
De painéis para construção com fibras do açaí à ração mais barata para
piscicultura à base de sobras de polpas, as inovações amazônicas surfam na
onda da economia circular. E também da indústria 4.0, como faz o negócio
da ManaósTech, escola de programação e robótica para crianças sediada em Manaus. Além disso, velhos produtos ganham valor com cara nova: no negócio Encauchados de Vegetais da Amazônia, em Castanhal (PA), a
borracha se revitaliza ao incorporar pó de madeira das serrarias na forma de
sandálias com a pegada socioambiental. A receita de R$ 400 mil neste ano
permite renda extra a comunidades, assim como ocorre na startup Da Tribu,
de Mosqueiro (PA), que resgata a técnica indígena de cobrir fios de algodão
com látex, na produção de colares e pulseiras.
"Na Amazônia os negócios são mais caros, arriscados e demorados, e o
cenário exige novos mecanismos de investimento para os recursos fluírem",
diz Leonardo Letelier, diretor da Sitawi, gestora de fundos com R$ 22
milhões aplicados em cem organizações que impactam 350 mil pessoas.
Para Anna Tonnes, diretora de meio ambiente da Agência Americana para o
Desenvolvimento Internacional (Usaid), parceira de investimentos na região,
"o momento é oportuno, porque a conservação da floresta depende da
dinamização da economia e pela primeira vez setores antes antagônicos
sentam à mesma mesa".
As novidades chegam ao Fundo Amazônia, mantido por doações da Noruega e Alemanha com apoio de R$ 1,8 bilhão em dez anos, sendo R$ 440 milhões para atividades de produção sustentável. "O plano é se integrar ao movimento de startups com a combinação de modelos de financiamento, mesclando recursos não reembolsáveis aos privados", diz Daniela Baccas, chefe do departamento de meio ambiente do BNDES.