28/09/2018
Notícia publicada pelo site Valor Econômico
A recuperação da atividade econômica do país não apenas patina e mostra-se
mais lenta do que o previsto como também é bastante desigual.
Levantamento feito pela 4E Consultoria e divulgado com exclusividade ao
Valor mostra que a expansão de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) entre
o primeiro e o segundo trimestres, feitos os ajustes sazonais, foi garantida
pelo Sudeste, ao passo que a economia das regiões Norte e Nordeste
mostraram quedas significativas.
Enquanto a economia dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas
Gerais e Espírito Santo cresceu 0,3%, em média, na passagem trimestral -
único desempenho positivo entre as cinco regiões do Brasil -, o Norte viu seu
PIB diminuir 2%. Já no Nordeste, a perda foi de 1,2%.
As estimativas da 4E mostram tendência
semelhante ao dado regional do Índice de
Atividade Econômica do Banco Central
(IBC-Br), que aponta alta de 0,03% para
a atividade do Sudeste no período. Norte
e Nordeste também amargaram os piores
resultados pela metodologia do BC, com
retrações trimestrais de 1,6% e 1,2%,
respectivamente.
Embora costumem ter variação aproximada em prazos mais longos, IBC-Br e
PIB podem divergir bastante na trajetória trimestral, no entanto. De abril a
junho, por exemplo, o indicador da autoridade monetária que tenta se
aproximar do comportamento mensal do PIB caiu 1% em relação aos três
meses anteriores na média nacional.
Para Alejandro Padrón, economista da 4E responsável pelos cálculos, os
serviços - que avançaram 0,3% na passagem trimestral em todo o país - são a
principal explicação para o crescimento econômico do Sudeste no segundo
trimestre.
Na região, a expansão dos setor foi de 0,8% em igual comparação, maior alta
registrada na análise, seguida pelo Centro-Oeste (0,6%). Nas demais três
grandes regiões, a atividade dos serviços recuou ante os primeiros três meses
do ano.
A redução do desemprego nos Estados do Sudeste e a melhora da renda estão
relacionadas ao ganho de fôlego dos serviços na região, avalia Padrón. Entre
o primeiro e o segundo trimestres, a taxa de desocupação do Sudeste caiu 0,6
ponto percentual, para 13,2%, de acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. No mesmo intervalo, a
massa real de renda aumentou 2,1% na região, um ponto acima do
desempenho da média brasileira.
Nas estimativas da 4E, o único segmento do PIB de serviços do Sudeste que
encolheu nos três meses encerrados em junho foi o da administração pública.
O economista destaca, ainda, o desempenho regional da Pesquisa Mensal de
Serviços (PMS), do IBGE. Nela, o volume de serviços prestados na região
subiu 0,8% no segundo trimestre, também maior alta entre as cinco regiões.
Os piores resultados foram registrados pelo Norte e pelo Nordeste, regiões
em que o PIB diminuiu 2% e 1,2% em relação ao primeiro trimestre,
respectivamente. Na primeira região, a atividade dos serviços ficou 0,4%
menor, enquanto, na segunda, o PIB do segmento recuou 1,5%.
Afetada pela greve dos caminhoneiros, que bloqueou rodovias em todo o país
durante 11 dias do mês de maio, a atividade do setor industrial teve
desempenho negativo em todas as regiões. O tombo mais forte no segundo
trimestre, de 4,6%, foi registrado pela indústria da região Norte, calcula a 4E.
Na média nacional, a retração foi de 0,6%.
Segundo Padrón, a paralisação dos condutores teve impacto maior sobre as
indústrias do Sudeste e do Sul. A retração expressiva da atividade industrial
no Norte foi influenciada principalmente pelas fábricas da Zona Franca de
Manaus, que, no primeiro trimestre, foram beneficiadas pelo "efeito Copa",
que se perdeu nos três meses seguintes, avalia o economista.
De janeiro a março, a produção no polo industrial de Manaus avançou 9,7%
sobre os últimos três meses de 2017, após ajustes sazonais, destaca. No
trimestre encerrado em junho, houve redução de 8,2% na mesma medida.
"No primeiro trimestre, a produção da linha marrom [categoria que engloba
televisores, som e vídeo] tinha crescido 50%", disse. "No segundo trimestre
houve uma devolução."
O setor agropecuário, por fim, ficou estável no segundo trimestre na média do país, mas teve comportamento díspar entre as regiões. O melhor desempenho do PIB agro ocorreu também no Sudeste, com alta de 2,6%, outra explicação para o maior crescimento da região no período.