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Em meio à crise global, produção de petróleo cai no Amazonas

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07/04/2022

Marco Dassori

A produção de petróleo e gás encolheu no Amazonas, em fevereiro. A queda veio com mais força do que a registrada pela média nacional e ocorreu no mesmo mês em que os choques na commodity produzidos pela guerra na Ucrânia realimentavam a escalada dos preços dos combustíveis e a espiral inflacionária. Especialistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio se dividem em relação a possíveis impactos do conflito europeu e indicam que a redução da oferta pode estar ligada à dinâmica da economia, efeitos retardados da pandemia e decisões estratégicas das petroleiras –especialmente a Petrobras.

A produção de petróleo no Amazonas encolheu 15,16% entre janeiro (432.584,80 barris) e fevereiro (366.921,23 bbl). No gás natural (364.738,41 milhões de metros cúbicos), a redução foi de 15,95% em relação ao mês anterior (434.010,26 Mm3). Os resultados também foram piores do que os de 12 meses atrás –quando o Estado atravessava a segunda onda da pandemia e uma nova rodada de medidas de isolamento social. Para o petróleo, a queda foi de 15,73% em relação a fevereiro de 2021 (435.408,01 bbl). Já o gás natural (366.931,44 Mm3) o recuo foi de apenas 0,60%. Os dados são da ANP (Agência Nacional de Petróleo).

Em seu Boletim Mensal da Produção de Petróleo e Gás Natural, a ANP destaca que os principais motivos para a queda mensal na produção, em âmbito nacional, foram as paradas para manutenção das plataformas P-70 (campos de Atapu e Oeste de Atapu, na Bacia de Santos), P-51 e P-56 (campo de Marlim Sul, na Bacia de Campos) e da Unidade Flutuante de Produção, Armazenamento e Descarga (FPSO, da sigla em inglês) Cidade de Anchieta (campo de Baleia Azul, na Bacia de Campos).

Em paralelo, o boletim revela que o aproveitamento de gás natural em fevereiro foi da ordem de 97,7%. No total, foram disponibilizados ao mercado 49,9 milhões de metros cúbicos. A queima de gás no mês somou 3 milhões de metros cúbicos por dia, mostrando redução de 6% se comparada ao mês anterior e de 12,6% se comparada ao mesmo mês em 2021. A produção nacional veio de 267 áreas concedidas, cinco áreas de cessão onerosa e seis de partilha, operadas por 41 empresas. A produção ocorreu em 6.149 poços, sendo 468 marítimos e 5.681 terrestres.

Pandemia e comportamento


Para o geólogo, consultor ambiental, e ex-articulista do Jornal do Commercio, Jorge Garcez, os números da ANP expressam os reflexos retardados da dinâmica causada pelas medidas de controle para a pandemia da Covid-19, de 2020 até agora. Embora a conjuntura da pandemia seja melhor no primeiro bimestre de 2022 do que a do mesmo período do ano passado, o especialista considera que as ações de isolamento e distanciamento social já impactaram “severamente” na mobilidade de pessoas, com consequências sobre consumo e atividade industrial, reduzindo expectativas de crescimento.

“Os cenários são complexos e os efeitos não são diretamente proporcionais. O recuo não foi por causa do aumento dos preços, necessariamente. As pessoas ficaram com seus carros nas garagens e menos veículos circularam. Muita gente que se endividou preferiu vender o automóvel para pagar as contas e manter o padrão de vida. Isso economiza fortemente a demanda externa e interna de combustíveis e biocombustíveis, pois a produção é prevista por cenários de comportamento”, asseverou.

O geólogo avalia que o fator de utilização do parque de refino deve variar entre 70% e 80%, ao longo de 2022. Segundo Garcez, como a comercialização do diesel tende a ser menos afetada pela pandemia do que as vendas de gasolina e QAV, as refinarias devem modificar seu perfil de produção, visando maximizar o óleo diesel –embora o país ainda deva se manter deficitário em 2022. Na análise do especialista, a guerra na Ucrânia pode contribuir para que o Brasil se torne exportador líquido de gasolina, no curto prazo, reservando 6% de sua produção doméstica para tanto, em 2022.

“No caso do GLP, apesar das distintas trajetórias de demanda, as estimativas indicam que o país deverá se manter importador. Com a crise mundial e as mudanças radicais no sistema financeiro internacional, com o dólar em queda e novas moedas lastreadas em ouro entrando no mercado, estima-se uma redução expressiva na produção de combustíveis convencionais e do QAV. As perdas financeiras são bilionárias, mas o país ainda tem fôlego para uma recuperação significativa a partir de 2023 até 2025, com a exigência de muitos sacrifícios impostos a uma significativa parcela da população brasileira”, ponderou.

Fator Petrobras

O geólogo, analista ambiental e colaborador do Jornal do Commercio, Daniel Nava, avalia que os números de produção do Amazonas refletem uma demanda menor dos habitantes da região Norte, em razão do aumento da inflação –que ganhou maior impulso a partir da guerra no Leste Europeu. Nava, que também foi secretário estadual de Mineração, Geodiversidade e Recursos Hídricos, e superintendente da CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), considera que a dinâmica decorre também da estratégia da Petrobras, tanto pela política de preços baseada no repasse dos aumentos da commodity em dólar, quanto na venda de ativos no Estado. Atualmente, o portfólio de investimentos locais da petroleira conta apenas com o Polo de Urucu, que atende toda a região Norte.

“Uma população pobre não consegue pagar R$ 8, o litro. Este é um cenário de uma empresa sem uma identidade política, com tantas mudanças de presidentes. E de uma diretoria executiva que desconhece o papel estratégico do Polo Industrial de Urucu para a região Norte, para a Amazônia e para o Brasil e o mundo. Reflete a falta de um programa de governo Nacional. A atual gestão federal exibe fraquezas técnicas e políticas. Mas, com um valor tão elevado dos preços de combustíveis, há uma retração natural no consumo dos derivados do Petróleo”, emendou.

Indagado sobre a política de preços da Petrobras, o geólogo diz ser favorável a “um valor compatível com a nossa realidade social e econômica”, a argumenta que a Petrobras é uma empresa de energia e que sem ela não é possível movimentar a economia. “Energia é um tema estratégico. Compraria as ações de volta ao Estado brasileiro. Nossa indústria petrolífera não usa suas forças armadas para manter o establishment, como fazem os EUA. O rio Mississipi, por exemplo, é controlado pelo exército ianque. Em temas estratégicos não devemos abrir mão das rédeas do Estado”, comparou.

Sobre perspectivas, Nava lembra que 2022 é um ano de eleições, ainda que “atípico”. “A democracia não deveria trazer esse peso para nossa economia. Em outubro, elegeremos novos governos. Torço para que possamos exercer nosso direito ao voto, e que a população eleja novos representantes que possuam um projeto de nação, voltado ao desenvolvimento nacional com sustentabilidade. Não sou pessimista e nem otimista. Sendo realista, as trocas de presidentes da Petrobras são sintomas de que o governo não sabe o que quer… Falta comando e rumo”, concluiu.

Fonte: Jornal do Commercio

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