01/09/2022
Marco Dassori
O PIB do Amazonas estancou em junho, após esboçar reação no mês anterior. A passagem de maio para junho rendeu alta de apenas 0,18% para a economia estadual, em resultado ainda mais fraco do que o do levantamento precedente (+1%). Contribuíram para esse desempenho os decréscimos registrados na atividade da indústria, comércio e serviços locais. O Estado avançou somente 0,68% em relação ao mesmo mês de 2021, mas ainda conseguiu acumular expansão de 3,18%, no primeiro semestre deste ano. É o que apontam os números mais recentes do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central).
Ao contrário do ocorrido nos meses anteriores, o Amazonas teve um desempenho inferior ao da média brasileira (141,97 pontos), que subiu 0,69% na variação mensal – depois de tombar 0,64% em abril, em dado já revisado. O confronto com junho do ano passado rendeu uma vantagem ainda maior sobre a economia amazonense, já que o incremento chegou a 3,09%. O acumulado do ano, contudo, segue menor, com alta de 2,24%. Em ambos os casos, os dados são dessazonalizados e desconsideram diferenças de feriados e de oscilações da atividade econômica, típicas de determinadas épocas do ano.
A economia amazonense aparece com 154,34 pontos em junho deste ano, sendo este o maior patamar dos últimos dois anos, conforme a série histórica do BC. O PIB do Amazonas subiu 1,67%, na virada do primeiro para o segundo trimestre, e cresceu apenas 1,29%, no acumulado de 12 meses. Vale notar que estes dois tipos de comparação são os mais usados para indicar eventuais tendências. A média nacional, por outro lado, apresenta trimestral um arranque menor (+0,57%), mas consolidou avanço comparativamente mais robusto na variação anualizada (+2,18%).
Setores e arrecadação
O IBC-Br tem metodologia de cálculo distinta das contas nacionais do IBGE – cuja próxima divulgação nacional está prevista para 1º de setembro de 2022. O indicador do BC leva em conta estimativas para os setores econômicos, acrescidos de arrecadações de impostos. Mas, sua divulgação não inclui o desempenho de cada rubrica. Dados do órgão federal de pesquisa indicam, no entanto, que a produção industrial e o comércio do Amazonas mergulharam no sexto mês de 2022. O setor de serviços também andou para trás, embora conte com desempenho acumulado comparativamente melhor. Em paralelo, Receita e Sefaz confirmam nova desaceleração nas arrecadações tributárias.
Segundo o IBGE, a indústria amazonense encolheu em junho, após o esboço de reação do mês anterior. Houve retrocesso de 1,6%, na variação mensal e um tombo ainda maior, de 3,2%, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Os números vieram em sentido inverso aos capturados no levantamento anterior (+6,8% e +9%, respetivamente). O semestre ficou positiva em apenas 1,2%, enquanto o acumulado dos últimos 12 meses caiu 3,7%. Os segmentos de bebidas e plástico seguiram no azul, sendo precedidos pelo refino de combustíveis. Mas, bens de informática estagnaram, enquanto o polo de duas rodas trocou de sinal e apresentou mergulho de dois dígitos.
O varejo estadual também encolheu no mês do Dia dos Namorados, especialmente nos subsetores dependentes de crédito. O setor recuou 1,8%, na variação mensal, eliminando todo o ganho de maio – que teve um dia útil a mais. O confronto com o mesmo mês de 2021 mostrou retrocesso de 3,1% nas vendas, impactando nos aglutinados do ano (+4,3%) e dos 12 meses (-2,3%). Em sintonia, o setor de serviços desabou 5,2% ante maio, apesar das altas dos segmentos de transportes e tecnologia de informação. O desempenho foi melhor na comparação com o mesmo mês de 2021 (+2,8%) e nos acumulados (+9,7% e +9,5%).
Receita e da Sefaz apresentaram desempenhos contraditórios. A arrecadação federal (R$ 1,79 bilhão) subiu 4,59% em relação junho de 2021, já descontada a inflação do período. Apesar do aumento, IPI e IOF tiveram recolhimentos menores, contribuindo para uma virtual estagnação no semestre (+0,98%). Já a receita tributária estadual do Amazonas recuou 7,62% na variação anual, ao somar apenas R$ 1,21 bilhão, sendo puxada pelos decréscimos do ICMS, e das contribuições de FTI, e ITCMD, em um mês de menor recolhimento na indústria e nos serviços – mas não no comércio. O acumulado do ano ficou positivo em apenas 1,23%.
Inflação e juros
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, a ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avaliou que os indicadores mais recentes do Amazonas refletem uma flutuação no mercado fruto de uma economia ainda tentando se recuperar, em face dos impactos inflacionários na renda das famílias e sua capacidade de consumo. Em paralelo, as empresas enfrentam retração nas vendas e mais dificuldades para obter crédito e investir, em razão dos juros mais altos.
“Entre os fatores que podem ter influenciado, podemos destacar a inflação e o crédito mais caro o que impacta na retração da atividade empresarial. Os empresários ainda não acertaram o novo tom da economia face o impacto da pandemia, da guerra na Ucrânia. Para os próximos meses, período eleitoral acredito que o mercado siga esta mesma tendência. Acredito que um cenário mais favorável possa vir apenas em 2023”, ponderou.
Na mesma linha, o ex-presidente do Corecon-AM, consultor empresarial e professor universitário, Francisco de Assis Mourão Junior, assinala que a estagnação se deve a fatores estruturais e conjunturais. “Sabemos que o modelo ZFM produz para o mercado interno e, macroeconomicamente, estamos com uma inflação ainda alta, apesar da recente deflação mensal. Os juros também estão elevados, um outro fator que contribui para o declínio do consumo. isso deve piorar nestes meses, já que o consumidor costuma dará uma parada nas compras para aguardar o 13º salário. Devemos ter uma reação apenas no último trimestre, com as compras de Natal e os pedidos do atacado nacional para o PIM”, arrematou.
Fonte: JCAM