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Dubai não é aqui

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17/06/2019

Augusto Barreto Rocha

Os Emirados Árabes Unidos, com sua história milenar, construíram o terceiro maior Fundo Soberano, com mais de US$ 1 trilhão, pouco atrás da China e pouco à frente da Noruega, que também tem o petróleo como sua fonte de riqueza. Os EAU têm tentado constituir uma economia baseada no turismo, serviços e logística. A construção de Dubai se deu com enormes quantidades de dinheiro em uma área metropolitana de 4.114km2. Para comparar, Manaus não tem Fundo Soberano, não tem investimento significativo do Governo Federal faz anos e possui 11.401km2. Os Emirados possuem 83.600km2e o Amazonas mais de 1,5 milhão de km2. Lá, há um deserto e um petróleo que precisou ser substituído como base da economia e aqui há uma floresta que precisa ser inserida na economia. Dubai não é aqui. Tomara que não seja no futuro, pois não quero ver a floresta virar um deserto.

Todos os presidentes e governos recentes do Brasil foram eleitos com o apoio do Amazonas. Não me lembro de nenhum que se autodenominasse como inimigo do Amazonas ou da Zona Franca. Entretanto, durante a minha vida, não me lembro de nenhum governo que verdadeiramente apoiasse o desenvolvimento do Estado. Esta história, faz-me duvidar de qualquer iniciativa vinda de Brasília para desenvolver a região. Normalmente, o que tenho visto são iniciativas para mais impostos e mais dificuldades, travestidas de belos discursos de apoio para o Amazonas.

O que temos em Manaus e no Amazonas é uma extensiva área que clama por liberdade para ser desenvolvida, com a necessidade de se encontrar com suas vocações históricas de preservação da floresta e de uma enorme biodiversidade que precisa ser transformada responsavelmente em riqueza para o presente de suas populações e para o país. Fala-se em imposto suspenso como subsídios, como se houvesse subsídios expressivos para a região, que mais arrecada imposto do que consome, quando deveria ser o contrário, para romper a sua desigualdade em relação ao desenvolvimento humano.

Neste contexto, foi divulgado no UOL, programa apelidado de “Plano Dubai”, como “a nova plataforma econômica para a Amazônia”. As áreas prioritárias são um claro acerto: biofármacos, turismo, defesa, mineração e piscicultura. Ações estratégicas nestas direções serão muito bem-vindas e são aguardadas faz séculos. Entretanto, compreender a Amazônia como uma única área, é uma visão tão míope como compreender o Oriente Médio como uma região que apenas produz petróleo.

O Amazonas e a Amazônia precisam ser desbravados com responsabilidade. Para isso será preciso aportar investimentos financeiros e não financeiros. Precisaremos de muitos cérebros alinhados em torno de cada um destes enormes problemas, pois não faltarão forças para seguir fazendo o que se faz desde sempre: usurpar os recursos da floresta e de sua biodiversidade. Desde a seringueira ao tambaqui. É necessário um pensamento mais moderno para que não seja produzido um deserto ou um plano que considerem milhões de quilômetros quadrados como uma área igual em oportunidades e necessidades.

Desenvolver biofármacos é negócio de longo prazo. Cada um destes vetores demandará mudanças de legislação, luta contra os lobistas internacionais (inclusive dos Fundos Soberanos contrários ao nosso desenvolvimento) e outros tantos. Que Deus nos proteja de nossas decisões erradas e que encontremos finalmente um caminho conveniente para os Amazônidas e para a humanidade, pois até agora estes caminhos não convergem e ainda não se percebem sinais claros nesta direção.

*Augusto Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM.

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