29/09/2015
A disputa, que segundo parlamentares levou o governo evitar a nomeação de quase todos os cargos federais no Estado, faz com que a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), responsável por avalizar todos os projetos de ampliação, modernização e implantação de empresas na região, esteja sem comando há dez meses.
O antigo superintendente, Thomas Nogueira, indicado por Aziz, pediu demissão do cargo em 27 de outubro, um dia depois de Dilma se reeleger, e foi exonerado em 6 de novembro. Desde então a função é exercida por Gustavo Igrejas, que era superintendente adjunto de projetos e assumiu como interino o principal cargo da Suframa.
A demora deixa o órgão em uma situação precária e sem força para articular novos projetos junto à Brasília, afirmam empresários. "Essa indefinição prejudica muito todo o Estado, dada a importância que a Zona Franca representa para a região", diz o vice-presidente da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), Nelson Azevedo.
Para Azevedo, a falta de uma posição definitiva dificulta ainda mais a realização de investimentos na região, já prejudicados pela crise econômica e incertezas sobre os rumos do Brasil. "Um interino não está 100% imbuído do cargo, não tem liberdade para propor algo novo, só toca o dia a dia e deixa as decisões mais importantes para depois", afirma.
O "descaso é tanto", reclama o empresário, que o Conselho de Administração da Suframa (CAS), órgão responsável por aprovar todos os projetos industriais da Zona Franca, quase não se reuniu este ano - foram dois cancelamentos desde abril por problemas na agenda do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro (PTB).
Após dois adiamentos, a presença do ministro era esperada na reunião do CAS quarta-feira, mas ele foi convocado por Dilma e enviou o secretário-executivo para representá-lo. O petebista, que ainda não foi à Manaus desde que tomou posse, afirmou, em nota, que os cancelamentos não atrasaram nenhum projeto.
O superintendente da Suframa é subordinado a Monteiro, mas, nos últimos anos, costumou ser um cargo de indicação do governador do Amazonas. Mello e Aziz sugeriram ao Palácio do Planalto que Igrejas, o interino, seja oficializado. Mas Braga tenta quebrar essa tradição e indicou a ex-deputada Rebecca Garcia (PP), que concorreu como sua vice ao governo em 2014.
"O Igrejas é excelente técnico, mas sabe que seu papel é provisório e não tem a abertura política que a Rebecca possui em Brasília e no Estado", afirma o deputado Marcos Rotta (PMDB-AM), aliado do ministro de Minas e Energia. "Ela foi vice-líder do governo na Câmara, conhece os ministros e transita bem entre os empresários."
Braga, Melo e Aziz eram do mesmo grupo político, mas romperam na eleição de 2014. O pemedebista foi governador de 2003 a 2010, quando saiu para se eleger senador e apoiou Aziz para o Palácio do Rio Negro com a intenção de voltar ao governo este ano. Mas Aziz usou a mesma estratégia e isolou o ex-aliado: saiu para concorrer ao Senado e apoiou Melo, seu vice, de olho na possibilidade de retornar ao comando do Estado em 2019.
Os dois grupos - que apoiaram Dilma na eleição presidencial - vivem agora em guerra. "A presidente está fraca e não quer se indispor com ninguém, então fica tudo parado", diz um dirigente partidário que acompanha as indicações. Além da Suframa, estão travadas nomeações para a Delegacia Regional do Trabalho, INSS e Funasa. O superintendente do Ministério da Pesca foi demitido em março e até hoje não foi substituído.
Fonte: Valor Econômico