12/12/2013
Dilma citou programas como o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras para demonstrar que o governo tem buscado "melhorar as condições de produtividade" do país. "Cada um dos R$ 14 bilhões que o governo federal investiu no Pronatec valeu e vale a pena. Está aí esse sucesso que nós construímos", disse, em discurso, a presidente. "No Ciência Sem Fronteiras, hoje estamos com 60 mil jovens estudantes brasileiros no exterior com bolsas nas melhores universidades no mundo, que na sua volta vão ajudar a dar o salto tecnológico de que nossa economia precisa", continuou.
A superintendente da fabricante de eletrodomésticos Esmaltec, Annette Reeves de Castro, fez questão de elogiar esses programas diante da plateia de empresários quando foi perguntada sobre o assunto. Mas enfatizou ainda mais suas ressalvas: "Eles chegam atrasados e as empresas viram a necessidade de fazer, elas mesmas, investimentos na qualificação de seus trabalhadores. O problema é que não temos nenhuma garantia de que o empregado no qual investimos tanto seguirá na companhia".
Feita a constatação, Annette contou ter feito à própria presidente uma sugestão: "Por que não criarmos, então, uma espécie de Bolsa Emprego?", questionou a executiva, insistindo na ideia de premiar trabalhadores que permanecem por mais tempo nas empresas. Não foi o único desabafo da inglesa, que mora há 30 anos no Brasil e demonstrou estranheza com a frequência das greves e problemas nas redes de transportes públicos das grandes cidades. Habitualmente, segundo ela, a Esmaltec se vê forçada a providenciar transporte alternativo aos seus funcionários ou a pagar horas-extras pelo tempo gasto em condução. É tudo custo adicional que prejudica a competitividade, lembrou Annette.
"A infraestrutura requer a atenção de todos nós", afirmara Dilma minutos antes, falando especificamente da construção de um sistema de banda larga de alta capacidade. "Isso é essencial não só para o nosso processo educacional, mas, sobretudo, é essencial introduzir de fato o Brasil na era da economia do conhecimento", ressaltou Dilma.
Sorridente e recebendo abraços de conhecidos, o empresário Luiz Fernando Furlan circulava na sala vip do centro de convenções de Brasília, fazendo comentários sobre conversa recente que teve com um secretário estadual de Fazenda. Ouviu que 47% da arrecadação de ICMS provém de energia elétrica, combustíveis e telefonia. "Tem cabimento taxar tanto os serviços de internet? Às vezes a alíquota chega a 30%", protestava Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento no governo Lula e hoje membro do conselho de administração da BRF. "Quando eu era ministro, criamos a Lei do Bem, desonerando bens de informática. O mercado cinza representava 75% das vendas de computadores", comparou Furlan, tratando em seguida de lembrar o acesso das classes mais baixas a esses equipamentos.
A Fundição Tupy, multinacional brasileira do ramo de metalurgia, reforçou o tom de preocupação notado nas conversas com qualquer grupo de empresários durante o evento. "A visão desagradável ou desabonadora que existe sobre o Brasil, na cabeça de muitos estrangeiros, dificulta a atração de investimentos", desabafou o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio, com base em experiência recente. Neste ano, a fabricante de blocos e cabeçotes para motores foi ao mercado de ações para ampliar o capital.
Nos contatos com investidores e analistas financeiros no exterior, Tarquínio disse ter ouvido elogios aos projetos da companhia. "O único problema, segundo eles, é que estamos no Brasil", lamentou o executivo. Ele fez uma comparação com as operações da Tupy no México ao falar sobre os problemas de mão de obra. "A escassez é muito mais grave por aqui. A verdade é que temos andado de lado em termos de crescimento e produtividade."
Tarquínio fez até um raciocínio que, para quem preza pelo politicamente correto, talvez tenha sido condenado. "A emergência da classe C, que é um elemento louvável e admirável, criou um problema", disse. Hoje, segundo ele, a indústria disputa trabalhadores com o segmento de serviços e os salários aumentam em ritmo incompatível com o ganho de produtividade. "No caso das pequenas empresas, o cenário é pior ainda. Temos um círculo vicioso: baixa qualificação, altos salários e elevada rotatividade. Isso gera tremenda pressão de custos", emendou Carlos Roberto dos Santos, representante do Sebrae.
"Não concordamos em nos especializar como uma economia de serviços. O Brasil deve criar uma indústria forte, condição para uma nação forte e, sobretudo, essencial para que de fato tenhamos a competitividade necessária", disse Dilma, em um dos momentos nos quais foi aplaudida.
Aplausos mais entusiasmados foram dados a Paulo Roberto Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), quando ele criticou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por ter anunciado uma arrecadação recorde - "acima de R$ 110 bilhões" em novembro - em vez de estímulos à indústria. A plateia de 1,8 mil empresários e executivos gostou e fez barulho.
Fonte: Valor Econômico