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Dilma defende indústria, mas setor pede mais atenção

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12/12/2013

Em 37 minutos, a presidente Dilma Rousseff usou o discurso de abertura de um evento com centenas de empresários para argumentar que o Brasil precisa de uma "indústria forte" e não se especializará como "economia de serviços", em resposta indireta às críticas de que o país mergulhou em um processo de desindustrialização. Dilma recebeu aplausos protocolares e foi embora em seguida. Se tivesse ficado por mais duas horas, ela teria colhido relatos bem diferentes da imagem de ganhos de competitividade que desenhou no Encontro Nacional da Indústria (Enai), em Brasília.

Dilma citou programas como o Pronatec e o Ciência Sem Fronteiras para demonstrar que o governo tem buscado "melhorar as condições de produtividade" do país. "Cada um dos R$ 14 bilhões que o governo federal investiu no Pronatec valeu e vale a pena. Está aí esse sucesso que nós construímos", disse, em discurso, a presidente. "No Ciência Sem Fronteiras, hoje estamos com 60 mil jovens estudantes brasileiros no exterior com bolsas nas melhores universidades no mundo, que na sua volta vão ajudar a dar o salto tecnológico de que nossa economia precisa", continuou.

A superintendente da fabricante de eletrodomésticos Esmaltec, Annette Reeves de Castro, fez questão de elogiar esses programas diante da plateia de empresários quando foi perguntada sobre o assunto. Mas enfatizou ainda mais suas ressalvas: "Eles chegam atrasados e as empresas viram a necessidade de fazer, elas mesmas, investimentos na qualificação de seus trabalhadores. O problema é que não temos nenhuma garantia de que o empregado no qual investimos tanto seguirá na companhia".

Feita a constatação, Annette contou ter feito à própria presidente uma sugestão: "Por que não criarmos, então, uma espécie de Bolsa Emprego?", questionou a executiva, insistindo na ideia de premiar trabalhadores que permanecem por mais tempo nas empresas. Não foi o único desabafo da inglesa, que mora há 30 anos no Brasil e demonstrou estranheza com a frequência das greves e problemas nas redes de transportes públicos das grandes cidades. Habitualmente, segundo ela, a Esmaltec se vê forçada a providenciar transporte alternativo aos seus funcionários ou a pagar horas-extras pelo tempo gasto em condução. É tudo custo adicional que prejudica a competitividade, lembrou Annette.

"A infraestrutura requer a atenção de todos nós", afirmara Dilma minutos antes, falando especificamente da construção de um sistema de banda larga de alta capacidade. "Isso é essencial não só para o nosso processo educacional, mas, sobretudo, é essencial introduzir de fato o Brasil na era da economia do conhecimento", ressaltou Dilma.

Sorridente e recebendo abraços de conhecidos, o empresário Luiz Fernando Furlan circulava na sala vip do centro de convenções de Brasília, fazendo comentários sobre conversa recente que teve com um secretário estadual de Fazenda. Ouviu que 47% da arrecadação de ICMS provém de energia elétrica, combustíveis e telefonia. "Tem cabimento taxar tanto os serviços de internet? Às vezes a alíquota chega a 30%", protestava Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento no governo Lula e hoje membro do conselho de administração da BRF. "Quando eu era ministro, criamos a Lei do Bem, desonerando bens de informática. O mercado cinza representava 75% das vendas de computadores", comparou Furlan, tratando em seguida de lembrar o acesso das classes mais baixas a esses equipamentos.

A Fundição Tupy, multinacional brasileira do ramo de metalurgia, reforçou o tom de preocupação notado nas conversas com qualquer grupo de empresários durante o evento. "A visão desagradável ou desabonadora que existe sobre o Brasil, na cabeça de muitos estrangeiros, dificulta a atração de investimentos", desabafou o presidente da Tupy, Luiz Tarquínio, com base em experiência recente. Neste ano, a fabricante de blocos e cabeçotes para motores foi ao mercado de ações para ampliar o capital.

Nos contatos com investidores e analistas financeiros no exterior, Tarquínio disse ter ouvido elogios aos projetos da companhia. "O único problema, segundo eles, é que estamos no Brasil", lamentou o executivo. Ele fez uma comparação com as operações da Tupy no México ao falar sobre os problemas de mão de obra. "A escassez é muito mais grave por aqui. A verdade é que temos andado de lado em termos de crescimento e produtividade."

Tarquínio fez até um raciocínio que, para quem preza pelo politicamente correto, talvez tenha sido condenado. "A emergência da classe C, que é um elemento louvável e admirável, criou um problema", disse. Hoje, segundo ele, a indústria disputa trabalhadores com o segmento de serviços e os salários aumentam em ritmo incompatível com o ganho de produtividade. "No caso das pequenas empresas, o cenário é pior ainda. Temos um círculo vicioso: baixa qualificação, altos salários e elevada rotatividade. Isso gera tremenda pressão de custos", emendou Carlos Roberto dos Santos, representante do Sebrae.

"Não concordamos em nos especializar como uma economia de serviços. O Brasil deve criar uma indústria forte, condição para uma nação forte e, sobretudo, essencial para que de fato tenhamos a competitividade necessária", disse Dilma, em um dos momentos nos quais foi aplaudida.

Aplausos mais entusiasmados foram dados a Paulo Roberto Pupo, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), quando ele criticou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por ter anunciado uma arrecadação recorde - "acima de R$ 110 bilhões" em novembro - em vez de estímulos à indústria. A plateia de 1,8 mil empresários e executivos gostou e fez barulho.

Fonte: Valor Econômico

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