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Descaso com concentrados gera críticas

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28/03/2019

Notícia publicada pelo Jornal do Commercio

Marcelo Peres

Depois do episódio envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes, que classsificou o polo de concentrados do Amazonas de ‘xaropinho’ durante um encontro com a bancada do Estado em Brasília, lideranças empresariais e políticas demonstram insegurança quanto ao futuro da ZFM (Zona Franca de Manaus).

Para muitos, não há como prever se realmente o atual governo, marcado por polêmicas de toda ordem e conflitos diretos com o Congresso, manterá intocável o modelo de desenvolvimento, crucial para a sobrevivência econômica da região. O cenário é que a crise política em Brasília está deixando a todos ‘de orelha em pé’.

O próprio vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), Nelson Azevedo, admitiu que a situação é preocupante. Ele classificou a declaração do ministro como irresponsável e inconsequente, principalmente partindo de uma figura tão importante e ‘poderosa’ no governo Jair Bolsonaro (PSL).

Sem medir as palavras, por sinal ásperas, o empresário disparou: “Sinceramente, é o tipo de coisa que a gente deve partir logo para a ignorância”. Uma dica de que toda a classe empresarial e política do Amazonas está descontente com as ações do superministro do atual presidente - um militar reformado que ocupa hoje o mais alto posto do País, mas que é alvo constante de chistes e chacotas pelas suas atitudes impensadas e bizarras.

Azevedo disse não entender como um ministro do porte de Guedes, formado em Harvard e com grande tráfico de influência, possa falar tão pejorativamente do Amazonas diante de representantes do Estado em Brasília. “Não sabe ele que a Recoforma é hoje uma das maiores exportadoras de concentrados da região, contribuindo expressivamente para o desenvolvimento da ZFM. Espero que o senhor ministro mantenha o respeito por um modelo considerado o mais bem-sucedido do Brasil. Não admitimos uma postura dessa em relação ao Estado”, protestou o vice-presidente da Fieam.

A Recofarma fornece insumos utilizados nas linhas de produção dos itens da Coca-Cola que, como a Pepsi, é uma das gigantes do setor de bebidas. Segundo Azevedo, a grande apreensão da indústria do PIM (Polo Industrial de Manaus) é que o governo federal estenda para outros setores do Amazonas as mesmas medidas da então gestão Michel Temer (PMDB) que reduziram as alíquotas dos concentrados na ZFM.

Ainda no final do mandato, o ex-presidente Michel Temer reduziu de 20% para 4% as alíquotas que incidiam sobre os concentrados, obrigando a poderosa Pepsi a alçar voo do Amazonas em busca de outros mercados mais competitivos e vantajosos. Insatisfeita com a decisão do governo, a fábrica fechou. Milhares perderam o emprego e o Estado deixou de arrecadar mais. É essa a maior preocupação das lideranças empresariais. “Já imaginou se o tal ministro, com medidas dessa mesma natureza, decida também levar para outros setores produtores do PIM? Seria condenar o atual modelo a um fracasso econômico”, avalia Azevedo.

O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Perico, compartilha da mesma preocupação do representante da Fieam. Ele analisa que a atual equipe econômica se excede em cinismo e em falta de conhecimentos sobre o real potencial da Zona Franca. “Não é a primeira vez que o atual ministro faz um pronunciamento deste desprestigiando os reais valores da ZFM. Ele deveria se informar melhor para poder falar do que realmente representa o modelo em termos de potencial econômico, desenvolvimento e importância para a sobrevivência do Amazonas”, disse ele.

Para Wilson Périco, o projeto precisa ter mais segurança jurídica para prevenir eventuais ações que ameacem a sua manutenção. “Aliás, a Zona Franca é muito maior que os concentrados, que são só um polo. Aqui reunimos millhares de indústrias que são o mecanismo propulsor de nossa economia”, acrescenta ele. Périco defende que as lideranças do Amazonas (empresariais e políticas) deveriam municiar mais a equipe de Bolsonaro de conhecimentos sobre o Amaazonas. “Assim, quem sabe evitaríamo essas declarações tão bizarras, como a do atual ministro”, diz. “São apenas 100 dias de governo. Vamos ver como ele se comporta mais adiante”.

O deputado Marcelo Ramos (PR-AM), que esteve durante o encontro em Brasília e presenciou as declarações do ministro, avalia que a fala de Guedes foi preconceituosa e desrespeitosa. “O ministro Paulo Guedes pensa que o Amazonas é a Avenida Paulista”, afirmou ele, numa crítica de que a grande figura do governo Bolsonaro tem pouca ou quase nenhuma informação sobre o potencial do Amazonas.

Segundo Ramos, ontem mesmo a bancada realizou uma nova reunião em Brasília para definir os próximos passos em defesa da ZFM. Ele disse que o ministro se comprometeu a rever a possiblidade de aumentar a alíquota dos concentrados para pelo menos 8% a 12%, mas em hipótese nenhuma chegará aos antigos 20%. “Se continuar em 4%, não há condições e será inviabilizado qualquer tipo de negócios. A Coca-Cola também pode decidir deixar o Estado”, prevê o parlamentar.

Ele afirmou ainda que o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Costa, ficou de analisar a situação das alíquotas do concentrados e também a elaboração de novos PPBs (Processos Produtivos Básicos). “Acho que conseguimos abrir um diálogo e vamos acompanhar agora as decisões mais de perto”, disse Ramos.

O economista Ailson Resende, um estudioso da ZFM, disse que o modelo ZFM é muito bem-sucedido e chega a recolher hoje pelo menos R$ 10 bilhões anuais para o governo federal, mesmo com toda as vantagens comparativas proporcionadas pelo regime incentivado. “Ninguém pode dizer que o Amazonas não contribui para o desenvolvimento do Brasil”, afirma ele. Só em P&DI (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação), as indústrias da Zona Franca recolheram pelo menos R$ 1 bilhão até 2018. E até este ano essa cifra deverá dobrar consideravelmente, segundo previsões de analistas do mercado tecnológico.

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