12/05/2020
Fonte: Jornal do Commercio
Marco Dassori
A retomada da indústria no período
pós-pandemia da
Covid-19 vai ser um
dos maiores desafios já enfrentados pelo setor, que deve encolher entre 1,8% e 7% em 2020,
segundo estudo divulgado da
CNI, divulgado nesta segunda
(11). O “Informe Conjuntural”,
da Confederação Nacional da
Indústria, traça três cenários
para 2020: otimista, pessimista
e “base”. A entidade trabalha
com esta última hipótese, ao
estimar como mais provável
uma retração de 3,9% para o
setor.
O cenário base considera
a hipótese de as políticas de
auxílio econômico serem
suficientes
para conter
a insolvência
generalizada
das empresas
e queda livre na renda
das famílias
durante o isolamento social.
Neste cenário, a flexibilização
se daria ainda em maio. Vale
lembrar que, mesmo no cenário
otimista, a indústria deve recuar e sofrer perda de empresas,
refletindo a retração de março,
que reverteu o resultado positivo do primeiro bimestre.
Lideranças do PIM avaliam
que, aqueles que souberem se
posicionar de maneira adequada têm maiores chances
de acertar o reinício, sendo
que o resultado vai depender
também de medidas efetivas
de apoio ao emprego e da injeção de recursos públicos na
economia. A conclusão veio
em debate realizado na última
quinta (7), pela Fieam.
No melhor dos cenários,
pode ser que aconteça um grande reaquecimento da indústria
local e da indústria nacional na
pós-pandemia, na avaliação do
diretor da Fieam e coordenador
da Comissão de Logística do
Cieam, empresário e professor da Ufam, Augusto Rocha.
“O momento é de apreensão.
No fundo, tenho esperança de
que [a pandemia] acabe logo
e a gente consiga reconstruir e
tornar mais forte a estrutura industrial. Toda crise acaba e nos
deixa mais fortes”, reforçou.
Consumo menor
Também presente no debate
virtual, o vice-presidente da
Fieam, Nelson Azevedo, disse
que as crises aceleram decisões
e lembrou que empresas e consumidores foram pegos de surpresa, tendo pouco tempo para
se adaptar a
uma nova rotina de trabalho, de lazer,
de consumo
e cuidados com a própria saúde.
“O mercado
está se ajustando a essa nova forma de
fazer negócios, onde novos
nichos de consumo surgem e
outros ganham musculatura,
como o segmento farmacêutico
e de produtos para a saúde”,
salientou.
Azevedo reforça que o consumo das famílias não será
o mesmo na pós-pandemia.
Estudo da CNI divulgado na
semana passada aponta que
a queda de renda e medo do
desemprego levaram 77% dos
brasileiros a reduzir o consumo
durante o isolamento social. A
sondagem informa ainda que
entre 50% e 72% planejam manter esse nível de compras no
pós-Covid. “As indústrias terão
que rapidamente identificar as
novas tendências, sob pena de
ficar com estoque encalhado, com risco de obsolescência. Terão que produzir o que está
sendo demandado e buscar
inovação”, defendeu.
Recursos públicos
Augusto Rocha defende
que a crise pode fortalecer o
PIM e a indústria nacional, desde que o setor consiga “chegar
vivo” ao final da pandemia.
“Precisamos de recursos, de
preferência, de ‘dinheiro impresso’ pelo Estado, para manter os empregos”, ressaltou,
referindo-se à proposta de que
o governo deve injetar liquidez na economia, comprando
títulos privados para girar a
máquina.
Nos cálculos do dirigente,
se o governo quisesse, poderia
pagar os salários de todos os
trabalhadores brasileiros por
até três meses, porque o Tesouro Nacional tem recursos
para isso. “Existe uma análise
das contas públicas que fizemos sobre isso. O que falta é
coragem para fazê-lo”, opinou.
Segundo o professor, a manutenção dos empregos durante a crise da Covid-19 é o grande desafio para o mundo e sua solução deve ser construída por consenso mínimo, mas certamente dependerá de intervenção mais forte, inclusive com a injeção de recursos públicos. Mas Rocha defende que a reabertura do comércio no momento atual “não é a decisão mais acertada do ponto de vista de saúde” e que “a economia não funciona como num passe de mágica”.
Cadeias verticalizadas Segundo o coordenador da Comissão de Logística do Cieam, as empresas do PIM estão “extremamente nervosas” em relação às mudanças trazidas pela pandemia e reconfigurando as suas cadeias de suprimento. “Acredito que vai existir, no médio prazo, uma verticalização dessas cadeias, o que não deixa de ser uma mega oportunidade para o PIM”, apontou. Para ele, o momento é oportuno para atrair novos negócios, dada a combinação de incentivos fiscais e dólar barato.
Em sintonia, Nelson Azevedo lembrou que a Zona Franca de Manaus quando foi criada tinha como mérito ser “substituidora de importação”. “Quando se fala em abertura da economia, temos que olhar como isso deve ocorrer. Nós já tivemos uma indústria de bens intermediários bem mais forte e que perdeu competitividade. Só precisamos olhar as oportunidades e ver de que forma vamos reduzir o custo Brasil, a burocracia, a carga tributária, previdenciária, tudo que onera, para atrair para o PIM a indústria nacional”, arrematou.