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Desafios ao atravessar de bike a BR-319

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17/05/2021

Fonte: EM TEMPO

Rebeca Mota

A rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM) é considerada intransitável desde 1988. Dos 877 quilômetros, em cerca de 600 quilômetros não há postos de combustível, o asfalto é quase inexistente e há poucos moradores. Vencer esse trajeto de bicicleta é uma tarefa complicadíssima, segundo os ciclistas. Alguns amazonenses e residentes de Manaus, porém, foram além, embarcaram no desafio e na aventura de pedalar pela BR-319, no meio da floresta Amazônica.

Antônio Caporazzo, 68 anos, pedalou pela BR-319 duas vezes. O paulistano, que vive em Manaus há 30 anos, contou que o trajeto não foi fácil, mas que não se arrepende por nada. Foi uma das melhores sensações da sua vida.

“A minha experiência foi fantástica, curtimos a natureza. Na primeira vez viemos de Porto Velho a Manaus, com um grupo de 12 ciclistas (oito homens e quatro mulheres), em um tempo de 12 dias de pedal. Na segunda vez foi com quatro ciclistas, com oito dias de pedal”, revela.

Caporazzo destaca que toda a estadia era oferecida pelo povo hospitaleiro que mora nas intermediações da estrada. “Nós tivemos uma experiência incrível. Quero deixar aqui meus parabéns ao povo sofrido da BR-319, que são um povo maravilhoso e nos acolheram em suas residências de braços abertos, principalmente o senhor Catarino. Ele nos ofereceu um jantar espetacular. O senhor Paulo, no rio Novo, muito interessante as histórias”, relembrou.

Antônio, que pedala desde os seus oito anos de idade, conta que ele e seus amigos tiveram muita dificuldade em pedalar até Igapó-Açu, mas que, com muita persistência, conseguiram ultrapassar os carros e caminhões.

“Eu não esqueço de um grande buraco, antes de Igapó-Açu, que escondia um carro. Mas graças a Deus conseguimos passar as nossas duas picapes que estavam de apoio. Outra situação de muitos buracos foi no percurso dos ‘Catarinos’ até a comunidade da Realidade, onde tinha muitos buracos e poeira. Havia momentos que pedalávamos e o nosso pé se atolava na poeira, trocamos de máscara quatro a cinco vezes por dia. Mas conseguimos realizar o nosso sonho”, enfatiza.

Família do senhor Catarino é bem elogiada pelos ciclistas

Família do senhor Catarino é bem elogiada pelos ciclistas | Foto: Arquivo Pessoal

Antônio já pedalou de Manaus a Boa Vista e Itacoatiara. Além disso, já foi seis vezes de bike a Manacapuru e Presidente Figueiredo. Quando completar seus 70 anos, em 2022, Caporazzo vai pedalar de Manaus até São Paulo, completando pela terceira vez o pedal pela BR-319 com um total de 3.900 quilômetros. E pretende, ainda este ano, ir até Parintins de barco e de lá seguir de bike a Santarém, no Pará.

Gratidão ao ciclismo

Ao ser perguntado sobre o que o faria abandonar a zona de conforto para passar frio, sofrer com as altas temperaturas, deixar de lado a comodidade de casa, as boas condições de alimentação, sono e higiene, Leandro Silva, 30 anos, já tinha a resposta na ponta da língua: gratidão ao ciclismo.

Leandro, mais conhecido como ‘Leo Pedala pelo Mundo’, atravessou a BR-319 no final de 2018, no trajeto Manaus a Porto Velho. Para ele, apesar das dificuldades, foi uma experiência incrível.

“A minha experiência foi uma coisa ímpar. Ali, a BR-319 se encontra em condições meio desérticas. Quase não tem civilização num percurso de 400 quilômetros, de Careiro a Humaitá. É praticamente tudo deserto. Mas foi uma experiência incrível. Natureza, muitos animais e índios no caminho. Na época tinha muito buraco, atoleiro, lama e eu encontrava vários carros atolados. Eu via pequenos resquícios de asfaltos”, conta.

“Vontade de pedalar pela BR-319”

Marcio Paiva, 55, mora em Manaus desde seus cinco anos de idade

Marcio Paiva, 55, mora em Manaus desde seus cinco anos de idade | Foto: Arquivo Pessoal

Marcio Paiva, 55, mora em Manaus desde seus cinco anos de idade. Ele sempre teve vontade de atravessar pela BR-319 de bicicleta. E, em 2017, ele e mais dois amigos fizeram o planejamento da viagem e realizaram o sonho.

“Foi uma viagem única com um total de 10 dias e 890 quilômetros percorridos. Fomos a Porto Velho de avião e, a partir de Porto Velho, viemos para Manaus de bike”, compartilha.

Marcio Paiva e seu amigo na viagem pela BR-319

Marcio Paiva e seu amigo na viagem pela BR-319 | Foto: Arquivo Pessoal

Marcio Paiva fez a viagem pela Br-319 em 2017

Marcio Paiva fez a viagem pela Br-319 em 2017 | Foto: Arquivo Pessoal

Importância da BR-319

A única ligação terrestre de Manaus com o restante do Brasil é a rodovia — as outras opções são por transporte aéreo e fluvial. E o isolamento geográfico se mostrou extremamente danoso após a crise de falta de oxigênio durante o colapso do sistema de saúde amazonense no início deste ano. Vindos da Venezuela e de outras partes do país, comboios de caminhões carregados com mais de 100.000 metros cúbicos do produto precisaram ser puxados por tratores em meio aos atoleiros. A viagem demorou três dias, ainda assim menos do que demoraria pela via tradicional, a balsa do Rio Madeira, de seis dias.

“Com essa crise, a falta da rodovia mostrou que não é só um problema econômico, mas de saúde pública. Se tivéssemos o asfalto, teríamos conseguido trazer o oxigênio de uma forma mais barata e rápida”, disse o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), à Revista Veja.

Leandro, mais conhecido como ‘Leo Pedala pelo Mundo’, atA única ligação terrestre de Manaus com o restante do Brasil é a rodovia — as outras opções são por transporte aéreo e fluvial

Leandro, mais conhecido como ‘Leo Pedala pelo Mundo’, atA única ligação terrestre de Manaus com o restante do Brasil é a rodovia — as outras opções são por transporte aéreo e fluvial | Foto: Arquivo Pessoal

Na avaliação do ciclista Márcio Paiva, a BR-319 está com grande parte ainda em barro. Com as chuvas fica praticamente intransitável. “Nós aqui em Manaus precisamos dessa rodovia. É uma questão de sobrevivência. Nós vimos isso quando precisamos de oxigênio e levou dias para chegar ao Amazonas”.

Para Caporazzo, a interligação do Amazonas com o Sul do Brasil é urgente. “Nós estamos praticamente isolados. Havendo esta interligação por meio de rodovias, haverá a diminuição de preços de produtos na parte alimentícia e/ou suprirá as necessidades do Polo Industrial de Manaus, que é o maior consumidor do Sul do Brasil”.

De acordo com o Wilson Périco, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), a existência de um caminho rodoviário consistente para escoar a produção iria alavancar a concorrência com outros modais. “O turismo pode ser incrementado, pois as pessoas podem vir com segurança para cá e por um custo menor. A entrada e saída de insumos ficará mais barata”.

Para o economista Wallace Meireles, a BR-319 tem grande relevância para o Amazonas. Com a rodovia, serão reduzidos os custos dos produtos e vai melhorar a mobilidade com outros estados.

“Seria importante transformar a BR-319 em um corredor sustentável. Ou seja, é criar mecanismos para que a construção da rodovia não gere destruição para a Amazônia. E criar um sistema para que a estrada reduza o impacto para o meio ambiente”, destaca.

Ministro diz que BR-319 será asfaltada

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse, no dia 7 de maio, durante inauguração da ponte do rio Abunã, que o asfaltamento da BR-319 é o próximo passo da sua pasta.

“O sonho não vai acabar com a ponte do Madeira e com a ponte do Abunã. Gente, vem aí a BR-319! É o próximo sonho que nós vamos sonhar”, discursou o ministro.

O ministro disse ainda que sua pasta não deixará os estados do Norte “para trás”.

“A interligação do estado do Amazonas com Rondônia é com o resto do Brasil, porque o Norte não será esquecido”, disse.

Obra autorizada

No mês passado, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, autorizou a realização das obras de reconstrução de 52 quilômetros da BR-319, o chamado lote C, entre o km 198 e o km 250.

Por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o Ministério da Infraestrutura anunciou estar avançado na elaboração do cronograma para iniciar a obra ainda este ano.

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