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Desabastecimento esfria ânimo

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07/02/2022

Marco Dassori

A confiança da indústria esfriou em janeiro. A piora na percepção ocorre em meio à persistência da desarticulação das cadeias globais de abastecimento global aberta pela crise da covid-19. Outro ponto negativo é a resiliência da inflação do setor que, a despeito de nova desaceleração, fechou 2021 em dois dígitos e no maior nível desde 2014. Pesam ainda o fato de que problemas globais, como escalada de preços e desabastecimento, são agravados por diferenças nacionais negativas de juros, câmbio e desemprego elevados e um cenário de instabilidade geral em ano eleitoral.

O Icei (índice de Confiança do Empresário Industrial) recuou em 24 dos 29 segmentos da indústria, na virada de dezembro de 2021 para fevereiro de 2022, segundo a pesquisa mensal da CNI (Confederação Nacional da Indústria). A entidade destaca que, embora 28 deles ainda se encontrem na margem de confiança, em todos o indicador ainda se encontra aquém do patamar sinalizado em janeiro de 2019 e 2020, confirmando que a atividade ainda não recuperou o nível de otimismo observado nos anos pré-pandemia.

Entre os segmentos menos confiantes, destacam-se dois com peso de representatividade no PIM -"equipamentos de informática, produtos eletrônicos e outros" (53,1 pontos) e "produtos de material plástico" (54,1 pontos). O primeiro encolheu 8,45% (-4,9 pontos percentuais) em relação a janeiro de 2021, mantendo o mesmo número de dezembro. O segundo recuou 3,56% (-2 p.p.) na variação mensal e caiu 11,02% (-6,7 p.p.) na anual. O índice varia de 0 a 100, com linha de corte em 50 pontos, em que valores abaixo de 50 pontos indicam falta de confiança.

Os mais confiantes também incluem duas divisões importantes para o Polo Industrial de Manaus -"metalurgia" e de "produtos de metal" (ambos com 59,2 pontos). O único subsetor presente no portfólio da indústria incentivada da capital amazonense a esboçar melhora na confiança foi o de "máquinas, aparelhos e materiais elétricos" (58,6 pontos), que avançou 2,99% (-1,7 p.p.) em relação a dezembro de 2021, mas ficou 8,86% (-5,7 p.p.) aquém da marca de janeiro de 2021.

Em linhas gerais, a confiança ainda é maior na região Norte (59,7 pontos), que mostrou evolução na comparação com dezembro de 2021 (59,3 pontos) e janeiro de 2022 (59,5 pontos). Foi a única região brasileira a registrar progresso no nível de otimismo empresarial. Na sequência estão o Centro-Oeste (58,5 pontos), Sul (57,3 pontos), Nordeste (56,3 pontos) e Sudeste (54,3 pontos). Em termos de porte, a percepção é ligeiramente melhor nas médias empresas (56,6 pontos) do que nas grandes (56,5 pontos) e pequenas (55,9 pontos).

Desabastecimento e inflação

A crise de insumos entra como fator decisivo para reduzir o otimismo. Seis entre dez empresários (60,6%) ouvidos na Sondagem Industrial da CNI apontam que a falta ou "alto custo" de matéria-prima estão entre os três principais problemas apontados no setor, no quarto trimestre de 2021. Segundo a entidade, este "continua em primeiro lugar no ranking que identifica os principais problemas das empresas industriais. Este é o sexto trimestre consecutivo em que o problema é o mais citado pelos empresários industriais".

A redução em relação ao trimestre anterior (62,4%), entretanto, foi a terceira seguida.

A inflação e o arrefecimento do consumo -em um ano de auxílio emergencial menor em 2021 -também entram nessa equação. O IPP (índice de Preços ao Produtor) do IBGE aponta que a inflação do setor industrial fechou 2021 com alta acumulada de 28,39%, recorde desse indicador na série histórica, iniciada em 2014. A alta de 2021 foi 9 pontos percentuais maior que a de 2020. A boa notícia é que o indicador desacelerou no segundo semestre, tendo registrado variação negativa (-0,12%), entre novembro e dezembro.

Oito das 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação fecharam o ano com alta, com destaque para refino de petróleo e biocombustíveis (+69,72%), produtos químicos (+64,09%), metalúrgica ( + 41,79%) e madeira (+40,76%). Já as principais influências no acumulado da indústria geral vieram do refino de petróleo e biocombustíveis (com 5,88 p.p.), outros produtos químicos (5,14 p.p.), alimentos (4,77 p.p.) e metalurgia (2,73 p.p).

Auxílio emergencial

Em texto veiculado pela assessoria da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, enfatiza que o nível de confiança da indústria brasileira na economia piorou em todos os 29 subsetores analisados mensalmente pela entidade, na comparação com janeiro de 2019 e com o mesmo mês de 2020 -dois meses antes do começo da crise da Covid-19. E lembra que o fato indica que a indústria ainda não recuperou o nível de otimismo observado nos anos pré-pandemia.

"A indústria teve uma atividade excepcionalmente forte em dezembro de 2020. Naquele ano, o consumo de produtos industriais aumentou, devido ao auxílio emergencial e ao fato de as pessoas, que não podiam consumir alguns tipos de serviços, passarem a comprar bens industriais. Esse fato não se repetiu em dezembro de 2021 e o persistente problema nos insumos contaminou a confiança do empresário neste início de ano", lamentou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente de análise e metodologia da Coordenação de Indústria do IBGE, Alexandre Brandão, destaca que as variáveis que contribuíram para a escalada dos preços na indústria brasileira são muitas. O pesquisador ressalta, no entanto, que a alta recorde do IPP já ocorreu em um panorama de desaceleração no segundo semestre, o que poderia indicar arrefecimento em 2022. Em junho, o acumulado de 2021 era 36,78%, e caiu ao longo dos meses até chegar a taxa de 28,39%.

"Podemos enumerar, o câmbio, cuja depreciação chegou a quase 10%; o comportamento do mercado ao longo do ano, com aumentos consideráveis no preço do minério de ferro, do óleo bruto de petróleo, de alimentos como açúcar e carne. Também não dá para desconsiderar a pandemia, que ainda tem tido impacto nas cadeias produtivas", listou. "Do meio para o fim do ano, houve atenuação, muito por conta do setor de indústria extrativa, em específico o minério de ferro", emendou.

“Cenário desfavorável”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, lembra que o setor ainda enfrenta obstáculos que geram um panorama de receio, materializados na "alta inflacionária", na "acentuada variação cambial" e na crise mundial no fornecimento de insumos. O dirigente reforçou à reportagem do Jornal do Commercio que os números da CNI e do IBGE, entre outros, sinalizam um momento de maiores entraves para o setor, como um todo.

"Certamente será um período de instabilidade para a indústria local e nacional, os indicadores denotam este cenário. A imprevisibilidade no fornecimento de insumos, a retração do consumo e a inflação são os grandes vilões do segmento. A falta de determinadas matérias--primas afeta diretamente a operação, enquanto que a pressão sobre os preços dificulta sobremaneira a questão macroeconômica. Adicionalmente, temos o fato das eleições, que, por si só, criam cenário desfavorável para o setor que depende de estabilidade para operar", finalizou, acrescentando que o setor "vai voltar a demonstrar sua força em meio à adversidade".

Icei (índice de Confiança do Empresário Industrial) recuou em 24 dos 29 segmentos da indústria

Fonte: JCAM

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