27/05/2014
A defasagem acontece apesar do represamento no preço dos combustíveis. "Esse insumo representa 30% do custo do frete. Se o diesel for reajustado em 10%, o impacto no frete é de 3% e o repasse tem de ser imediato", observa. As expectativas variam. "O setor sucroalcooleiro, por exemplo, espera pagar fretes de 5% a 10% mais altos para transportar açúcar", diz Newton Gibson, presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC). "Já os produtores rurais do Centro-Oeste trabalham com uma redução média de até 40% no custo do transporte da safra em 2015, em levantamento feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), por causa da nova rota de escoamento pelo Pará e da aguardada pavimentação na BR-163 sentido Cuiabá (MT) a Santarém (PA), a ser concluída."
Para Caio Wagner Couto, professor da pós-graduação de logística do IBMEC-MG, as distorções do frete no Brasil são provocadas pela ineficácia da estrutura dos modais de transporte no país. "Há uma concentração excessiva no modal rodoviário, que responde por cerca de 75% da carga, e sem integração. Uma carga de soja sai de trem no Centro-Oeste, mas tem de fazer transbordo para caminhão para chegar a São Paulo", diz. Gibson acrescenta que as condições inadequadas de uma rodovia podem até dobrar o valor final do frete. "Além disso, elevam o consumo dos combustíveis com acelerações e frenagens frequentes", diz.
Gonçalves dos Reis aponta o excesso de concorrência no transporte rodoviário como um dos principais fatores de defasagem no frete. "Há muita oferta e o transportador acaba oferecendo descontos que não deveria", observa. Ao mesmo tempo, há uma série de fatores que pressionam os custos dos transportadores. "Falta mão de obra qualificada, o tempo de espera nas barreiras fiscais é longo, há perdas causadas pelas restrições de circulação de caminhões em rodovias e nas vias urbanas, onde o motorista tem que ficar parado esperando liberação de tráfego, o que atrasa a entrega, além da Lei do Descanso que aumenta o tempo da viagem e o custo da mão de obra", enumera Gibson.
Vale notar que, apesar da defasagem, o custo ainda é elevado. No Brasil, o frete médio de uma carga de grãos entre a lavoura e o porto foi de US$ 92 em 2013, contra US$ 23 nos Estados Unidos e US$ 20 na Argentina", compara Luiz Antônio Fayet, consultor de Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Fayet observa que há um grande desnível regional no frete cobrado no país, devido à má distribuição da infraestrutura. "A fronteira agrícola se expandiu em direção ao Norte do país, sem investimentos em infraestrutura para escoar a produção", diz.
Fonte: Valor Econômico