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Crise: a saída pode ser aérea

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22/09/2015

A crise que vem abalando a economia brasileira – e o resto do mundo –, com retração na indústria, comércio, serviços e até em investimentos públicos fez bem para, pelo menos, um setor no Amazonas: o de transporte aéreo de cargas. É que, de acordo com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), nunca exportamos tanto como nos últimos anos.

Com tradição de importadoras de insumos para suas linhas de produção e posterior "exportação nacional" de produtos, as empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) vêm protagonizando um cenário de oscilação nas importações e aumento das exportações e, este ano, o crescimento já soma 27% nos primeiros oito meses de 2015, em relação ao mesmo período do ano passado.

Mês a mês, de janeiro a agosto o volume de cargas exportadas registrou alta em comparação com 2014. Enquanto em julho as importações caíram 55,5% em comparação com o mesmo mês de 2014, no mês passado as exportações cresceram 39,65% em relação a agosto do ano passado.

E toda essa carga passa por esteiras, rampas e elevadores de última geração estrategicamente distribuídos nos três galpões do Terminal de Cargas (Teca) Manaus, dividido por 383 pessoas, 660 empresas – entre as de logística, indústrias, comércios e importadoras - e 14 companhias aéreas. Isso sem falar no fluxo mensal de 40 aviões, como os gigantes boeings 767, com capacidade para transportar até 110 toneladas de todo tipo de carga: de castanha a materiais radioativos, passando por eletroeletrônicos, medicamentos, diamantes, peixes ornamentais, onças e até pinguins – isso mesmo, pinguins.

Se considerarmos todos os segmentos (exportação, importação e carga nacional), o terminal de cargas da capital amazonense movimenta 39% de todos os bens que passam pela rede Teca, formada por 28 terminais espalhados por todas as regiões do Brasil.

Essa estrutura de ponta é destacada pelo gerente de Negócios em Logística de Cargas da Infraero, Nilson Teixeira, como um dos fatores que contribuíram para o aumento das exportações no terminal, mesmo em meio às dificuldades econômicas atuais.

"A crise sempre é boa para alguém, pois cria oportunidades. No nosso caso, teve um impacto negativo nas importações, mas fez bem às exportações, por conta da alta do dólar. Para a empresa que quer exportar, o transporte aéreo é mais seguro e rápido, especialmente na nossa região amazônica, que tem suas peculiaridades. E quando se fala em estrutura, o terminal de Manaus está no topo. Recentemente fizemos um investimento de R$ 6,6 milhões em um sistema que ampliou em 80% nossa capacidade de operação, que hoje atende a cinco cargueiros simultaneamente", analisou.

Crise ?


Mas nem todos que dependem do transporte de cargas têm o que comemorar. De acordo com estimativa do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Amazonas (Fieam), enquanto a Infraero comemora os números da exportação em 2015, a movimentação de cargas no Estado registrou queda tanto no modal terrestre quanto no marítimo. A explicação para cenários tão diferentes no mesmo setor – a logística de cargas – vai além da estrutura "referência" do Teca Manaus: está ligada a diversos fatores, explica o diretor do CIN da Fieam, Marcelo Lima.

"Pode ser uma opção momentânea, movida por prazo e entrega. Ou ainda um reflexo da crise que estamos atravessando, que mudou o perfil das empresas. As importadoras não querem mais fazer grandes depósitos de mercadorias, o que força uma mudança na logística para atendê-las de forma mais eficaz. E é nisso que ganha o modal aéreo. Na crise, quanto mais rápido chegar a mercadoria, melhor: gera rotatividade, aumenta a competitividade. Nem todos querem esperar 50 dias até o navio chegar à China".

Não bastassem as peculiaridades da região amazônica quando se fala em logística, o agravamento da crise e a alta do dólar contribuíram para a decisão das empresas pela exportação – escolha que, de janeiro a agosto, movimentou mais de U$ 524 milhões no Amazonas, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento.

"A alta do dólar e a desaceleração da economia inibem a importação. Por outro lado, o câmbio favorece a exportação, já que os produtos são vendidos em dólar, e a tendência, a longo prazo, é que essas exportações sejam ainda mais elevadas. A restrição do câmbio e das taxas de financiamento para os bens eletroeletrônicos e motocicletas aumenta a taxa de juros e a taxa Selic, por exemplo... São fatores que afetam o mercado interno, que deixa de consumir. A saída passa a ser a exportação", disse Marcelo Lima.

E é o que está acontecendo, pelo menos, no modal aéreo, conforme revelam relatórios da Infraero. Para Marcelo Lima, se por um lado a crise freou as importações por conta da alta do dólar, de outro ela revelou às empresas do PIM uma vocação que muitas sequer sabiam ter. Mês a mês, desde janeiro deste ano a Infraero vem registrando aumento no volume de carga exportada, em comparação com o mesmo período do ano passado. Agosto teve a maior evolução, quando comparado com 2014 (54,9%).

"O PIM tem uma vocação primordialmente para exportação interna (principalmente São Paulo), de onde as matrizes das empresas sediadas no Amazonas se encarregam de exportar para os diversos destinos fora do País. Porém, na atual conjuntura econômica brasileira, com o dólar atingindo R$ 4, tornou-se extremamente atraente a exportação, até para empresas que não têm essa vocação no PIM", aponta a Infraero. "É um crescimento progressivo ao longo dos anos", explica Nilson Teixeira.

A expectativa da Infraero é baseada no crescimento da indústria amazonense. A própria história do terminal reflete essa relação, como sugere a superintendente da Infraero no Amazonas, Socorro Pinheiro.

"O Terminal de Cargas cresceu à medida que se expandiu o Polo Industrial de Manaus. A primeira ampliação foi no auge na Zona Franca, na década de 1980, e a segunda em 2004, quando tivemos um novo 'boom' de empresas se instalando no PIM. E nossa estimativa é por um crescimento ainda maior, daí os investimentos", declara. Ainda segundo a superintendente, a atual infraestrutura do Teca Manaus é capaz de suportar, pelo menos, mais três décadas de crescimento.

Made in Amazonas


Quem decidiu investir na exportação não se arrependeu, e não é só da Infraero que estamos falando. Exemplo disso é a Recofarma: instalada desde 1990 no PIM, a única fábrica de concentrados e bases de bebida do Brasil - que além de abastecer todo o mercado nacional também é responsável por fornecer insumos a nove fábricas no Paraguai, Colômbia e Venezuela - aumentou a exportação em 15% (comparando com o mesmo período de 2014), o que rendeu à empresa o posto de maior exportadora do Amazonas, concentrando 35% de toda a exportação amazonense em 2015.

Já a CBA International, empresa de Eusébio, no Ceará, mas instalada na Zona Franca de Manaus, teve um aumento nas exportações de impressionantes 425%. Com foco em insumos agropecuários, a empresa cearense viu o valor de seus bens exportados crescer de US$ 172,5 mil para US$ 975,5 mil, mas ainda ocupa a 39º posição no ranking das principais empresas exportadoras do Estado.

E não foi só a exportação de insumos agropecuários que cresceu durante a crise. A exportação de "preparação para elaboração de bebidas" (base do refrigerante) – que ocupa o topo das exportações - movimentou mais de U$ 187 milhões entre janeiro e agosto deste ano, 13% a mais que em 2014, de acordo com relatório da Secretaria de Comércio Exterior, ligada ao Ministério do Desenvolvimento.

Bens e produtos de volume pequeno também foram mais exportados em 2015, como microprocessadores (111%), relógios de pulso (861%), garrafas, frascos e outros objetos plásticos (923%). E, como estamos falando de Amazonas, produtos florestais e da biodiversidade também tiveram aumento nas exportações e, entre os que passam pelo Terminal de Cargas da Infraero em Manaus, são os peixes ornamentais que se destacam.

"Na área da exportação, os peixes ornamentais são nosso carro chefe hoje, ao lado dos eletroeletrônicos e outras cargas de pequeno porte", informou Nilson Teixeira, gerente de Logística de Cargas do Teca.

Dados do Ministério do Desenvolvimento apontam que a exportação dos pequenos e coloridos exemplares da biodiversidade amazônica cresceu 31% nos primeiros oito meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os principais destinos estão a Ásia e Frankfurt, na Alemanha.

A Alemanha é, inclusive, um dos países que aumentaram as importações de bens oriundos do Amazonas em 2015. Sexto maior mercado consumidor, fora do País, das empresas locais, o gigante europeu aumentou em 121% a demanda por produtos amazonenses. O índice impressiona, mas não mais que o crescimento das exportações do Amazonas para dois países asiáticos: Vietnã, que foi de 206%, e Paquistão, com um aumento de 925%.

Terra, água ou ar


Coordenadora-geral de Comércio Exterior da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Sandra Almeida destaca outras vantagens do modal aéreo em uma região como a amazônica: "O modal terrestre ainda encontra a limitação de estradas e rodovias, além de as que existem não estarem, muitas vezes, em condições de manutenção e trafegabilidade ideais. Por via terrestre, por exemplo, não conseguimos exportar para países como Estados Unidos e México. No caso das exportações fluviais, a principal dificuldade é a infraestrutura portuária, também sem condições ideais, com custos operacionais elevados em comparação aos serviços oferecidos", explica.

E os problemas nas hidrovias do Amazonas vão além da falta de infraestrutura dos portos: envolvem a segurança pública, lembra Marcelo Lima. Sem rotas hidroviárias estabelecidas e com o mínimo de segurança, a navegação fica sujeita aos ataques de "piratas" – quadrilhas especializadas em roubo de cargas nos rios da Amazônia que não poupam nem comboios de traficantes. E com ramais e rodovias intrafegáveis, que condenam ao isolamento regiões inteiras, o transporte aéreo desponta como uma alternativa mais eficaz e de menor risco, aponta o especialista.

"Marítimo é o mais barato, porém demorado. Um navio demora de 40 a 50 dias para chegar à Ásia e exportamos produtos acabados. Esse tempo acaba afetando a rotatividade e a concorrência. Nas estradas não é preciso nem falar, são precárias. A BR-319 poderia ser alternativa para o comércio com Peru, Bolívia e outros países da bacia amazônica, mas está intransitável. Resta o frete aéreo, que apesar de custar de 10% a 15% do preço do produto, não tem problemas como roubos, estradas ruins nem atrasos na entrega da mercadoria", analisou.

Poréns


No entanto, o diretor da CNI da Fieam lembrou que, apesar da maior eficácia do transporte aéreo, nem todo exportador pode trocar de modal com essa facilidade. Isso porque as tarifas cobradas pelas empresas que realizam essas atividades são calculadas com base no volume das cargas, ou seja, por metro cúbico, o que encarece produtos de grande porte, como motocicletas, o segundo principal produto na balança comercial do Amazonas quando o assunto é exportação.

"Volumes pesados, como um gradil de motocicleta 125 cilindradas, ocupam mais espaço e custam caro demais para serem transportadas em cargueiros, por isso o modal aéreo se mostra mais atraente para produtos com densidades pequenas, como tablets e smartphones, duas das 'especialidades' do PIM", explicou.

E justamente por isso a opção aérea não surge como vantajosa para empresas como a Moto Honda. Com cerca de 7 mil funcionários e ocupando o posto de maior indústria instalada na Zona Franca de Manaus, a Moto Honda exporta quase todos os seus bens pelas vias fluviais, já que as motocicletas, "carro-chefe" da empresa, têm volume maior que os eletroeletrônicos, por exemplo, o que encarece o transporte.

"Exportação no modal aéreo para cargas pesadas e em grandes volumes, como é o nosso caso, não é viável financeiramente", explica Mario Okubo, gerente de Relações Institucionais da empresa. Por causa disso, 99% dos bens produzidos na Moto Honda são transportados pelos rios e mares, assim como as importações. "Para nós, o modal fluvial ainda é o que oferece o menor custo", conclui Okubo.

Sandra Almeida, da Suframa, lembrou que há outros fatores a se considerar na escolha do modal, seja para importação ou exportação. "A escolha é definida pelo tipo de produto transportado, as rotas e os destinos. Levando em consideração essas circunstâncias, a utilização deste modal aéreo é restrita mais a bens de valor agregado alto e de tamanho e peso reduzidos, como joias, telefones celulares e gemas, entre outros, além de mercadorias com urgência de envio, como, por exemplo, os perecíveis: alimentos, flores, etc.", explicou.

Entre as dificuldades a serem superadas para melhorar a exportação, Sandra é enfática: "O maior desafio ainda é conquistar o mercado internacional, com preços competitivos e com maior adensamento de valor na cadeia de produção, redução substancial da burocracia, redução dos custos operacionais de infraestrutura, infraestrutura portuária condizente ao que existe no mercado internacional, rotas mais atraentes com redução de transbordos e saída pelo Pacífico, entre outros".

Na balança


Apesar dos números positivos e do otimismo da Infraero sobre o crescimento da movimentação no Teca Manaus, o impacto da exportação na balança comercial ainda é pequeno se comparado à movimentação da importação, que, mesmo em queda, nos oito primeiros meses de 2015 movimentou mais de US$ 6,6 bilhões, 12 vezes mais que a exportação.

Pela relevância que tem na indústria do Amazonas, a importação não deve ser minimizada, alerta Marcelo Lima, da Fieam. "É nossa vocação original. Nosso distrito industrial importa de 80% a 90% dos insumos do seu produto final. Sem falar no próprio mercado de Manaus, que também importa produtos", frisou.

Além disso, os números da Infraero levam em conta o volume de carga transportada, e não o impacto dessa transação na balança comercial, reforça Marcelo. "Se você exporta 100 toneladas de açaí no câmbio de US$ 2, o impacto na balança comercial é menor do que a exportação de 60 toneladas com o dólar a R$ 4. Sem falar que exportar uma barra de ferro é diferente de exportar um computador. Nossa exportação corresponde a aproximadamente 1,2% da produção da Zona Franca de Manaus. Ainda temos 98% da nossa indústria sendo consumida no mercado interno. E não custa nada lembrar: todos os países reduziram as importações, um desafio a mais para a exportação. Não é só o Brasil que está em crise", lembrou.

Fonte: Portal Acrítica.com.br

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