03/08/2015
Segundo especialistas, não há pacote de velocidade rápida na internet que resista ao atual momento da economia, com inflação de 8,89% em 12 meses até junho, desemprego em alta, queda de 2,9% na renda real e aumento de juros. Diante desse cenário desfavorável, as empresas estão fazendo o que podem para (tentar) driblar a crise: descontos de até 50% no preço de celulares, planos promocionais e parcelamento das contas em atraso para não perder clientes.
— Setores como o de telefonia estavam conseguindo se manter em patamar de crescimento por terem sensibilidade menor às variáveis econômicas. Antes, o dólar alto e a inflação afetavam o custo das empresas; agora, o desemprego e a menor renda começam a afetar os serviços de telefonia — diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management.
Assim, a queda do faturamento vem acompanhada de redução no Ebitda (o lucro antes de serem descontados impostos e juros). Segundo Ronaldo Sá, da Orion, o número deve cair 3,5%, de R$ 36,7 bilhões, em 2014, para R$ 35,4 bilhões neste ano.
Como indicativo, diz Sá, está o recuo no número de linhas em serviço. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o país perdeu em junho 1,7 milhão de linhas, somando 282,4 milhões. A queda de 0,6% foi a maior desde junho de 2006, quando recuou em 0,67%.
Mais inadimplência e queda nas vendas
Mas os números tendem a piorar. Entre as operadoras, a curto prazo predomina uma visão pessimista. O terceiro trimestre vem sendo chamado de "fundo do poço do setor" pelos executivos de teles. Redes varejistas e fabricantes de celulares devem fechar o ano com recuo inédito nas vendas de smartphones. A previsão, diz a consultoria IDC, é de queda de 2%. Por isso, até os badalados iPhone 6 e Galaxy S6 se renderem aos descontos.
Por trás da piora nos números, está a inadimplência no setor. Após aumentar em 39,5% de janeiro a abril, na maior alta desde 2013, o número de clientes com contas em atraso vai continuar subindo até o fim do ano, adianta Julio Leandro, Superintendente do Serasa Consumidor. Segundo ele, o setor ficou na dianteira do ranking, deixando para trás os segmentos de varejo, bancário e não bancário.
— Esse estudo é baseado nas informações repassadas pelas operadoras. A inadimplência maior está ligada ao emprego. Esperávamos uma alta, mas nos surpreendemos. E o serviço de telecomunicações não é tão básico como alimentação. Por isso, as pessoas deixam de pagar primeiro. O que já está difícil, vai piorar — prevê Leandro.
Ronaldo Sá, da Orion, destaca que os clientes de cartão pré-pago são os mais afetados neste primeiro momento, já que têm renda menor:
— Agora, vamos ver isso no pós-pago. O problema é a inadimplência que chegou a 1,8% da receita das operadoras móveis. E vai aumentar nos próximos trimestres.
Por isso, as operadoras vêm recorrendo a negociações com os clientes em atraso. Bernardo Kos Winik, diretor de Varejo da Oi, diz que a companhia tem sido mais seletiva na análise de crédito:
— Estamos sendo flexíveis, parcelando a conta em atraso para não perder o cliente. Também estamos investindo na melhora do sistema de cobrança. O desafio é não encolher neste ano. Por isso, estamos investindo em promoções nos nossos planos de convergência, que permitem economia de até 20% em relação ao valor caso o cliente contratasse os serviços de forma isolada. O dinheiro está mais curto.
Para George Dolce, vice-presidente da Nextel, a empresa decidiu criar novos planos promocionais porque os clientes estão buscando soluções para economizar.
— O nosso setor vinha imune à crise e, de um tempo para cá, sentimos essa desaceleração. A renda disponível está menor. Houve outros fatores como o aumento da energia elétrica, que onerou todo mundo. Por isso, tivemos de nos ajustar às novas necessidades, criando novos planos e aumentando o parcelamento de aparelhos, para até 24 vezes — afirma Dolce.
A Claro decidiu estender o parcelamento dos aparelhos mais caros para 24 parcelas. Até nos planos pós-pagos mais simples, de R$ 100 por mês, o aparelho 4G sai de graça. Segundo Ricardo César, Diretor de Unidades Regionais da Claro, os clientes estão otimizando seus recursos.
— Em todos os planos pós-pagos, ampliamos a franquia de internet, que chegou a dobrar, mas mantivemos o mesmo preço. No caso do pré-pago, mantivemos o valor e aumentamos em 50% a franquia de dados — exemplificou César.
Iphone entra na guerra do desconto
Na TIM, diz Rogério Takayanagi, diretor da empresa, a opção foi criar novos planos e ofertas para "quem está com o orçamento limitado". Por isso, a empresa decidiu não descontar da franquia o uso de redes sociais como o WhatsApp no plano pós-pago.
— A população está preocupada em proteger seus gastos. O desafio é adequar o portfólio em um momento de consumo crescente de dados e renda em baixa.
Essa menor renda disponível derrubou a expectativa de venda de celulares. Se em 2014 foram vendidos 54,5 milhões de smartphones, para este ano o volume pode chegar a 53 milhões de unidades, prevê Leonardo Munin, analista de pesquisas da IDC. Assim, o varejo investe em promoções, com descontos de até 48%. É o caso do LG L8, na Americanas.com, cujo preço caiu de R$ 859 para R$ 443,33. No Fast Shop, o iPhone 6, da Apple, está 10,72% mais barato (passou de R$ 3,499 mil para R$ 3,123 mil), e o Galaxy S6, da Samsung, que caiu de R$ 3,299 mil para R$ 2,723 mil, queda de 17,4%. Munin ressalta que o número final de vendas dependerá do desempenho da Black Friday e do Natal:
— O cliente só vai comprar o que o bolso aceita e não o que deseja.
Fonte: O Globo.com.br