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Crise argentina limita exportações do PIM

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15/01/2019

Notícia publicada pelo Jornal do Commercio

O Polo de Duas Rodas, que agrega hoje o maior volume de mão de obra por unidade produzida, sente os efeitos da crise da Argentina, um dos maiores consumidores dos produtos made in ZFM. O cenário sombrio que afeta a economia dos 'hermanos' impacta diretamente em toda a cadeia produtiva de motocicletas no Amazonas - desde fornecedores de componentes aos fabricantes dos veículos, além de diminuir a arrecadação do Estado.

Segundo dados da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Betoneiras, Bicicletas e Similares), as exportações para o mercado argentino registraram uma queda de 16,8% em 2018. Foram 68.073 unidades vendidas no ano passado, contra as 81.789 comercializadas em 2017. O recuo está diretamente ligado à redução da demanda da Argentina, hoje o principal destino das motocicletas produzidas no Polo Industrial de Manaus (PIM).

A retração preocupa e vem tirando o sono dos fabricantes (e do próprio governo) porque as motocicletas são hoje o produto do PIM que reúne quase 100% de componentes nacionais nas linhas de produção, segundo o economista Ailson Resende. "A Argentina é muito importante para a ZFM, pois o maior volume de produtos exportados, não só de motocicletas como também de automóveis, vai para esse mercado do país vizinho. Se a crise aumentar, é óbvio que o impacto será maior ainda nos empregos, na produção e na própria economia do Amazonas", avalia.

Dados do então Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) do governo Temer apontam que a Argentina respondeu por 69,6% de todo o volume de motocicletas exportadas pelo Brasil em 2018, seguida dos Estados Unidos (9,1%) e da Colômbia (7,6%). Só em dezembro do ano passado, os argentinos tiveram 45,9% de participação nas compras dos veículos, a Austrália 16,6% e os Estados Unidos, 13,5%.

Em dezembro, foram exportadas 3.011 unidades, o que representa uma queda de 15,7% em comparação a novembro (3.571 unidades) e recuo de 57,6% em relação ao mesmo mês de 2017 (7.107 unidades). E a expectativa para 2019 é ainda mais sombria: uma retração de -28% no volume de exportações de motos. Foram 68 mil motos exportadas em 2018 e a estimativa é de apenas 49 mil unidades neste ano.

De acordo com Resende, em termos de empregos, o segmento de duas rodas é o que possui o maior número de mão de obra no PIM por unidade produzida, ao contrário do polo de eletroeletrônicos, onde a maior parte dos componentes utilizados na produção vem do mercado internacional. Portanto, se cai a exportação de motocicletas, afeta o fornecedor de componentes e também o fabricante. "E não tem como segurar os empregos. Os dois segmentos serão obrigados a demitir para enxugar as contas", acrescenta Resende. "Por utizarem praticamente componentes fabricados no exterior, os eletroeletrônicos não sentem tanto os efeitos da retração - as exportações e os empregos flutuam nos momentos de crise".

Resende explica que as exportações de motocicletas para os EUA têm pouca participação na balança comercial da ZFM porque os norte-americanos preferem os quadriciclos. E a maior beneficiada dessa preferência é a Nissin, do segmento de componentes do PIM, que fornece os carburadores utilizados pelos fabricantes do veículo. Com esse diferencial, a empresa tem fôlego para resistir ao recuo nas vendas de motocicletas.

Líder no segmento de duas rodas (tanto em produção quanto nas exportações), a Honda leva apenas 90 segundos para fabricar os modelos CG 125 e CG 150, seus campeões de vendas no mercador exportador. E toda essa celeridade nas linhas de produção é atribuída a uma constante cadeia produtiva de fornecedores de componentes locais que alimenta as linhas de produção da montadora japonesa. E daí vem a principal preocupação dos segmentos industriais e do governo do Amazonas se as exportações continuarem a cair.

Espantando a crise

Inflação alta, malogro nas medidas econômicas e insatisfação com o governo Macri são apontados como a derrocada na economia Argentina, que amarga uma das piores crises dos últimos tempos. Se os 'hermanos' vão mal, a situação também agrava o desempenho das indústria do PIM, já que os argentinos são os principais parceiros do portfólio de exportações, na avaliação de especialistas e de estudiosos do modelo.

Segundo o diretor da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e vice-presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Amazonas), Nelson Azevedo, as indústrias buscam novos parceiros para alavancar as exportações do PIM. Ele avalia que a Argentina, assim como o Brasil, passa por dificuldades, mas em algum momento deverá superar a crise. "Claro, a situação não é boa, mas não há motivos para alarme. Temos condições de buscar outros compradores, sem dúvida, para compensar essa menor participação do nosso país vizinho no volume de exportações até eles - os argentinos - conseguirem driblar a retração econômica", ele diz.

De acordo com Marcelo Lima, do Centro Internacional de Negócios da Fieam, a indústria do Amazonas aposta num novo estudo do governo Jair Bolsonaro (PSL) que promete fortalecer as exportações junto aos países do Mercosul (Mercado Comum do Sul), o que deverá beneficiar principalmente os produtos fabricados no PIM. "A médio e longo prazos, a tendência é de uma maior exportação para o Peru, Chile, Uruguai, Paraguai e até para o Equador, além da Argentina e Estados Unidos", afirma. Segundo ele, as exportações de motocicletas da ZFM para os EUA são praticamente zero porque os norte-americanos preferem também as motos de grandes cilindradas (como as customizadas e a famosa Harley-Davidson).

Marcelo Lima acrescenta que existem estudos também para exportar produtos do PIM para mercados da África e da Europa. Além de eletroeletrônicos e motocicletas, constam do novo portfólio de exportações que estás sendo elaborado fármacos com base na biodiversidade amazônica, açaí, castanha-do-brasil, buriti, guarana e bombons e tortas de cupuaçu. "Serão agregados valores aos produtos para exportação. Mas isso não será de imediato. Depende ainda de negociação sobre as barreiras alfandegárias de cada país, o que deverá levar ainda muito tempo", afirma.

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