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Covid volta a afetar porto chinês e gargalo no abastecimento global pode ir até 2022

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19/08/2021

O fechamento de um terminal no terceiro porto de contêineres mais movimentado do mundo é só o mais recente sinal de que a desordem no transporte marítimo pode se estender até o ano que vem, criando uma ameaça para o crescimento econômico, enquanto atrasos crônicos e uma disparada no custo de transporte podem impedir que a demanda seja atendida e aumentar os preços ao consumidor.

Um surto de coronavírus fechou parcialmente o porto chinês Ningbo-Zhoushan, na semana passada, e a suspensão resultante na entrada e saída de navios porta-contêineres reduziu a capacidade do porto em um quinto. Isso se segue a outro surto na China em maio, que levou a um fechamento por três semanas do terminal de Yantian, em Shenzhen, causando efeitos colaterais no transporte marítimo internacional.

Uma alta incansável nos custos de transporte marítimo e os gargalos que persistem em portos de todo o mundo agravaram a barragem de problemas que afetam as cadeias de suprimento.

Eles incluem o aperto na oferta de semicondutores, o aumento nos preços das matérias primas, e a escassez de motoristas de caminhão em um momento no qual o varejo começa a formar estoques para a temporada de festas.

Surto de Covid fechou parcialmente o porto chinês Ningbo-Zhoushan, na semana passada, e a suspensão resultante na entrada e saída de navios porta-contêineres reduziu sua capacidade em um quinto - Xinhua/Reuters

Importadores e exportadores estão batalhando para recuperar os custos causados pela alta nos preços do transporte marítimo, que dispararam para cerca de US$ 15,8 mil (R$ 83 mil) pelo transporte de um contêiner de 40 pés (12 metros) da China à costa oeste dos Estados Unidos —um aumento de 1.000% ante o preço anterior à pandemia, e de 50% nos últimos 30 dias, de acordo com a Freightos, que fornece dados sobre transporte marítimo.

As desordens começaram no segundo semestre do ano passado, quando a demanda por bens despencou, com a chegada da pandemia, e os transportadores cortaram viagens. No entanto, os consumidores, isolados em suas casas pelo lockdown, passaram a encomendar produtos online em volume sem precedentes.

Os esforços das companhias de navegação para atender à demanda foram prejudicados pelo bloqueio do Canal de Suez, em março, e pelo fechamento do terminal de Yantian, bem como por restrições de travessia de fronteiras e ausência de trabalhadores portuários.

Navio de 400 metros de comprimento encalhou no Canal de Suez
Navio de 400 metros de comprimento encalhou no Canal de Suez

Uma paralisação parcial por prazo indefinido em Ningbo-Zhoushan é o mais recente problema que pode aprofundar as dificuldades na logística mundial. As companhias de navegação já começaram a suspender as paradas de seus navios naquele porto chinês, perto de Xangai.

Cerca de 350 navios porta-contêineres, capazes de carregar quase 2,4 milhões de caixas metálicas de 20 pés estão esperando vagas para atracar ao largo de portos em todo o mundo, de acordo com a Vessels Value. O congestionamento vem se agravando, e a capacidade ociosa chega a 4,6% da frota mundial, ante 3,5% no mês passado, de acordo com dados da Clarksons Platou Securities.

Lars Mikael Jensen, vice-presidente da rede oceânica mundial da Maersk, a maior companhia mundial de transporte marítimo de contêineres, concordou em que a situação não mostrava sinais de melhora desde que emergiu a variante delta da Covid-19.

“A situação geral não está melhorando”, ele disse, acrescentando que a rede de transporte marítimo “continua muito distendida —basta uma coisinha para nos forçar a voltar à estaca zero ou à estaca menos um”.

A ascensão explosiva das tarifas para transporte de contêineres, combinada a atrasos na oferta, tem consequências significativas, disse John Glen, economista chefe do Chartered Institute of Procurement and Supply.

Ainda que ele tenha enfatizado que a oferta da maioria dos bens continuava “suficiente, se não abundante”, há problemas específicos quanto a produtos volumosos e de baixo valor, como espuma para fabricantes de móveis e iluminação decorativa.

“Agora estamos no ponto crítico no transporte de suprimentos à Europa para a temporada de Natal”, disse Glen. A escassez de produtos sazonais prevista propeliria a uma alta da inflação porque “não existe solução de curto prazo e o problema não vai desaparecer logo”.

A transportadora marítima alemã Hapag-Lloyd estima que o desordenamento não vai se aliviar até o primeiro trimestre do ano que vem. Mas seu presidente-executivo, Rolf Habben Jansen, também acautelou que isso pode demorar ainda mais devido à forte demanda.

“Algumas indústrias estão batendo recordes de produção, o nível de estímulo é gigantesco e os estoques são baixos”, disse.

Vista do porto de Ningbo-Zhoushan na semana passada; terminal movimentado foi fechado - Xinhua/Reuters

Para além dos setores mais afetados, como o automobilístico e o têxtil, número crescente de empresas vem informando dificuldades em atender à demanda, e pressões de alta de preços.

Na Europa, esses efeitos já podem ser vistos na produção industrial fraca da temporada de verão.

Desordenamentos nas cadeias de suprimento provavelmente influenciarão a produção industrial da zona do euro por algum tempo”, disse George Buckley, economista chefe da corretora Nomura para o Reino Unido e a zona do euro.

O desordenamento levou muitos grupos industriais e de varejo a considerar como reforçar suas cadeias de suprimento por meio de uma elevação de estoques, duplicação de fontes, ou mesmo ao trazer de volta a produção aos seus territórios de origem. Mas tudo isso teria custo e, para muitas empresas de pequeno porte, há uma questão de sobrevivência em jogo.

“Acredito que essa seja a maior ameaça que a economia enfrenta no momento. E a crise está só começando a apertar”, disse Philip Edge, presidente-executivo da Edge Worldwide Logistics, uma empresa de frete sediada em Manchester. “Imagine se o petróleo subisse de US$ 20 (R$ 105) por barril para US$ 200 (R$ 1.051); é o equivalente do que está acontecendo agora.”

Embora a comparação seja inexata —no transporte marítimo, os preços são mais determinados por contratos de longo prazo do que acontece no mercado de petróleo—, ela ilustra o desgaste que as indústrias dependentes de transporte marítimo de longa distância estão enfrentando.

James Hookham, secretário geral da Global Shippers’ Forum, uma organização setorial de transporte marítimo, disse que a dor era especialmente aguda para empresas de países em desenvolvimento que abastecem mercados ocidentais.

“A coisa que mata essas empresas é o descompasso entre pagar preços mais altos por viagem e sua próxima oportunidade de renegociar com seus clientes, que pode surgir apenas dentro de nove a 12 meses”, disse.

Fonte: Folha de S. Paulo

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