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Corrida contra o relógio

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07/04/2020

Alfredo Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br

Com a narrativa de salvar vidas e manter a economia, sem saber o que priorizar, o governo federal, com palavras, atos e omissão, em vez de liderar a solução de problemas corre o risco de antecipar mais uma recessão. Entre tapas e queijos, a demora no repasse dos subsídios de cooperação passa a ser fatal. E não se tratam apenas de subsídios sociais, faltam medicamentos e vacinas para conter a desestruturação econômica, raiz do desemprego e a convulsão social. Dizem os argonautas que convém compartilhar a bússola de navegação para fugir do naufrágio e se safar da perdição. Por isso é tão importante a movimentação do protagonismo construtivo e diplomático a partir do setor produtivo do Polo Industrial da Industrial de Manaus. Cruzar os braços do maldizer e sentar para esperar significa embarcar em viagem à deriva de um grande naufrágio que a todos aguarda.

Ver e pegar para crer

Chega de promessas improvisadas. Em plena Semana Santa o beato da vez é Tomé, aquele que só acredita vendo com os olhos e tocando com as mãos. Não cabe ao governo estabelecer - no modo absoluto de seus oráculos perdulários - quanto é necessário desembolsar para salvar a economia em tempo de pandemia. Até aqui, está em débito na gestão da saúde e capengando na compreensão da tragédia econômica. Eis porque o setor que sabe gerar riqueza precisa avançar. Demonstrar com métricas e números as demandas dos recursos necessários à sobrevivência, tanto dos investimentos, como dos empregos e da arrecadação fiscal. Não se trata de ocupar o lugar do outro, mas saber dizer, por A mais B, como a banda poderia tocar e evitar o derretimento social, econômico e institucional do Brasil.

Capacidade de sobreviver

Literalmente todos foram pegos de calças curta, entretanto, entre os ativos da economia do Amazonas, acostumada à maledicência e aos solavancos, está sua capacidade de sobreviver. Em 2019, enquanto o Congresso Nacional cravou, sem maiores e arcaicos embaraços, a Reforma da Previdência, com a promessa do Executivo de que essa seria a vacina contra todos os males, e os investidores chegariam e ajeitariam a situação. Não chegaram, e o que é pior, se foram. Em vez da engrenagem, alguns indicadores começaram a retratar a derrapagem na retomada da economia. Mesmo assim, enquanto o desempenho federal da governança liberal patinou, os indicadores da indústria da ZFM, embora tímido, revelaram alguns avanços com relação ao ano anterior.

Consulte o IBGE-2019

Isso significa que a recessão técnica já era um fato que – muito importante anotar - antecedeu à convulsão universal da Covid-21. Basta recuperar a fragilidade/instabilidade dos indicadores publicados pelo IBGE, tanto na indústria como no comércio e serviços, ao longo do ano. E se esses permanecem os principais motores do crescimento, quando a indústria encolhe - e essa tendência seguiu em queda e está diante de um abismo - o comércio desaba. Por isso, a pandemia surpreendeu a todos já em estado preliminar de calamidade econômica.

Comitê da Indústria e do vírus

A formação do Comitê Indústria ZFM Covid-19 surge, exatamente, nesse vácuo de indefinições conjunturais, ausência de medidas estruturais e excessiva querela paroquial. As causas não cabe aqui analisar, talvez somente especular sobre a energia dispendida no varejo da política menor, fora de hora e de ética, fomentando a divisão nacional como viés eleitoral. Com um PIB, Produto Interno Bruto, de 2019, a 1,1%, esperavam-se medidas mais arrojadas de desburocratização, redução do gigantismo da máquina pública, e corrida atrás do verdadeiro prejuízo político: o desempenho mais pífio em 3 anos, com o resultado afetado principalmente pela perda de ritmo do consumo das famílias e dos investimentos privados, todos desnorteados pela incerteza nas decisões.

Mais crítica que a Grande Crise

Com a chegada da Covid-19, em janeiro, e a decretação da pandemia em fevereiro, somada à queda alarmante das bolsas no mundo inteiro com a depreciação do barril de petróleo, as economias globais se puseram a derreter, anunciando uma recessão semelhante à de 1929, porém, muito mais crítica, rápida e grave porque lá atrás a quebradeira demorou 2 anos a se consumar. Aqui foram necessários dois meses. Pois bem, a questão é: como provocar a prontidão do desembolso dos subsídios sociais e da mitigação da economia para evitar o agravamento do caos que já se ensaia. Os recursos de mitigação não podem chegar em conta-gotas posto que o derretimento desembarca no modo turbilhão do desemprego, da quebra e do sumiço de investimentos, da receita pública para saúde, segurança e sustento da população.

Salvar vidas em dose dupla

Reunido há três semanas, através do Comitê Indústria ZFM, Covid-19, o setor privado tem formulado medidas/saídas de caráter imediato para salvar vidas e a economia. Ou seja, salvar vidas duas vezes, tanto do novo coronavírus como aquelas que serão ceifadas pelo desemprego, fome e violência se a economia for para o brejo. Por isso, o protagonismo ganha caráter mais ostensivo. À vista da gravidade sanitária e econômica, e da lentidão gerencial, impõe-se um protagonismo operativo. Não há tempo a perder, nem motivos para conceber o subsídio dos R$600, isoladamente, como varinha de condão. Promessas e anúncios já foram feitos, envolvendo o bom mocismo do setor financeiro que nunca compareceu. E não quer perder a chance de vender seu peixe com uma bonificação adicional, diante de empreendedores desavisados e enforcados pela situação. E se o governo parece embaralhado em análises e decisões de toda ordem, é preciso ousar, ir pra cima, com métricas, cálculos, valores previamente mapeados e detalhados como essenciais à mitigação, sem chutar para o lado, muito menos improvisação.

Alfredo é consultor do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas e editor-geral do portal http://brasilamazoniaagora.com.br

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