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Competitividade esburacada

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05/02/2019

Augusto Barreto Rocha

Robert Cialdini cita a reciprocidade como uma das bases do processo da inuência. Segundo ele, há um desejo inato nos humanos em dar correspondência equivalente ao modo como é tratado. Isso é também percebido de outras formas, pois, se recebemos gentileza, devolveremos gentileza, como Adriana Calcanhoto registrou em sua homenagem ao poeta das ruas do Rio de Janeiro, morto em 1996, célebre pela frase “Gentileza gera Gentileza”. A música começa lembrando que “apagaram tudo, pintaram tudo de cinza”.

Com grande frequência fala-se que a Zona Franca de Manaus e a sua indústria possuem grande importância. É sabido que a partir de suas atividades advêm a maior parte da arrecadação do Estado, do município e expressiva contribuição para a geração de empregos. De seus ex-trabalhadores surgiram vários negócios, em diferentes ramos.

Entretanto, como as empresas daquela área industrial são tratadas? Não há a mínima reciprocidade. Para a grande quantidade de impostos recolhidos, são entregues as piores ruas de Manaus. Com qual autoridade os gesto responderão pedir apoio em Brasília se não temos a coragem de apoiar as empresas co m ruas minimamente decentes, numa eterna discussão sobre sua recuperação. Não estamos falando de água em abundância, recolhimento de efluentes ou energia limpa temas típicos de zonas industriais incentivadas no mundo desenvolvido. As empresas aqui instaladas cuidam de seus poços, de sua energia, de seus entes e de sua estrutura de proteção contra incêndio, sobre gulamento rígido. No Japão, até cartéis são permitidos, sob a batuta do governo. Lá, arranjos industriais são montados estreitando parcerias entre universidades, centros de pesquisa, financiamento público e outras benesses para promover e viabilizar suas atividades industriais.

Aqui, nem asfalto temos. E o que dizer do resto? Há expressiva insegurança jurídica, onde as empresas estão constantemente sendo ameaçadas por uma próxima Portaria, Decreto ou fiscalização para achar pequenos erros, gerando multas. A ameaça constante leva a um comportamento de reciprocidade: empresas prontas para fechar assim que a curva de equilíbrio de custos pender para abaixo do razoável, como já fez a Bosch ou a Pepsi, para falar de um exemplo antigo e outro recente, onde não houve razão mercadológica ou de falta de caixa, que é tipicamente o motivo para fechamento de empresas mundo a fora. O Polo Industrial que “já teve” .

Em outros países, o Sistema de Transportes das áreas industriais são sempre claros, previsíveis e bem conectados. Aqui, estamos nas mesmas pautas décadas após décadas. Vivemos dentro de um “Feitiço do Tempo ” ( filme de 1993, onde Bill Murray vive o mesmo dia inúmeras vezes). Seguimos na mesma discussão sobre a BR- 319 faz mais de uma década: uma estrada que precisa ser recuperada, mas sempre aparece um argumento amazonense para não fazer. Ou um canal para o Pacífico que não tem a mínima viabilidade técnica ou empresarial, que sempre aparece alguém para apontar como se fosse a redescoberta da pólvora e a solução para todos os problemas logísticos. Claro que só os não especialistas o apontam como solução, sem sequer compreender minimamente o que significa trânsito internacional ou transbordo em uma operação logística. Haja paciência para o empresário. Ainda ficamos irritados se algum estrangeiro falar que aqui não é um país sério, mas por vezes fica difícil argumentar em contrário.

Parece que precisaremos de uma crise ainda maior para nos unir em torno de algo. No Amazonas de hoje não há união por nenhum grande objetivo. Temos uma profusão de pessoas para apontar defeitos, dizendo o que e como não fazer. Precisamos começar a ter gentileza com os meios de geração de riqueza. De outra forma, é um convite para a informalidade. Não é de se estranhar: em 2018, segundo o IBGE, há mais trabalhadores sem carteira de trabalho do que trabalhadores formais. Estamos nos tornando um país marginal. Como interromper a construção de uma Profecia Autorrealizável (prognóstico que, ao se tornar uma crença, provoca a sua própria concretização) no Distrito Industrial, onde somente existirão esqueletos de fábricas, como se deu em Detroit e em outras cidades? Consciente ou inconscientemente a gestão da cidade de Manaus e do Amazonas estão afugentando com todas as forças suas atividades industriais. Tudo é restrição: PPB nunca analisado, ruas esburacadas, limitações para tráfego de carretas, ausência de transporte público urbano e regras de todo o tipo. Proibições abundantes e apoios mínimos. Não é de se estranhar que o faturamento do PIM seja menor do que era anos atrás. Como poderemos pedir apoio aos outros Estados se nem nós conseguimos apoiar a atividade industrial? É um contrassenso: tratamos mal quem mais gera imposto. Quando isso vai mudar? Quando as indústrias e as demais empresas serão verdadeiramente apoiadas e bem tratadas?

*Professor da Ufam e empresário

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