30/07/2018
Notícia publicada pelo site Estadão Economia & Negócios
Um voo às cegas. É assim que economistas, advogados
especializados em negócios e investidores definem
a situação atual da
economia: a pouco mais de dois meses da eleição, o cenário está tão
indefinido
que é difícil saber se, a partir de 2019, o Brasil terá um governo
de esquerda ou direita, um presidente reformista ou disposto a ampliar
ainda mais o tamanho do Estado. Diante disso, a economia, que já está em
marcha lenta, deve se manter em ponto morto até outubro. É uma má
notícia, já que reforça a paralisia dos setores, põe investimentos em
compasso de espera e pode reduzir ainda mais as expectativas para o
Produto Interno Bruto (PIB) de 2018.
A lentidão da economia está evidente em relatórios como o Focus, do
Banco Central, que reúne a média das previsões para o País. A previsão
para o crescimento do PIB, que chegou perto de 3% em fevereiro, caiu
consistentemente desde então e hoje está em 1,5% Embora os dados já
mostrem o efeito dos problemas até aqui, a eleição poderá agravar o
quadro, segundo o economista Álvaro Bandeira, do Banco Modal. “Acho
que podemos cair abaixo disso, car
em 1% ou 1,2%”, arma.
“É um
resultado muito ruim, pois fica
abaixo do nível necessário para evitar a
queda da renda per capita, que é de cerca de 2,5%.”
O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, também acredita
que a eleição poderá ser mais um fator de estresse para a economia. No
início do ano, a equipe do banco chegou a projetar cerca de 3% de avanço
para o PIB nacional. Neste mês, revisou para baixo suas previsões e já
trabalha com um índice inferior à pesquisa Focus, de 1,3%.
A reticência do investidor em tomar decisões é compreensível, na avaliação
do advogado especializado em fusões e aquisições Carlos Mello, do
escritório Souza, Mello e Torres, uma vez que o cenário político tem hoje a
maior indefinição
desde a campanha que levou à primeira vitória de Lula,
16 anos atrás. “Vejo que os empresários brasileiros estão reticentes em
fazer associações agora, a se comprometer com resultados ou mesmo em
atrair um novo parceiro”, diz. “Três fundos estrangeiros procuraram um
cliente meu da área de galpões logísticos. Mas ele acha que agora não é a
hora de comprar terreno e fazer galpão, de colocar o capital em risco.”
Depois de dois anos ruins, o mercado de fusões e aquisições esperava um avanço considerável em 2018 – de 15% ante o resultado do ano passado. As expectativas, no entanto, já foram frustradas, de acordo com Rogério Gollo, sócio da PwC, que acompanha os negócios fechados entre companhias. De janeiro a maio, houve um crescimento discreto, de 3,3%, em relação ao mesmo período de 2017.