06/12/2018
Alfredo Lopes
Ainda não é hora do já ganhou nessa disputa obscura, por
parte de alguns atores, para gerir o CBA (Centro de
Biotecnologia da Amazônia). Há muita água a correr debaixo
da ponte e muitas estórias (sem Agá) a serem esclarecidas.
Essa aliança para a Bioeconomia da Amazônia, que já se
ufana de ser a nova gestora do CBA, terá R$ 11,5 milhões por
ano do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços) para desenvolver pesquisas. Faltou ao
superintendente da FAS (Fundação Amazonas Sustentável),
Virgílio Viana, ler o Relatório 8/2018-SEI-Coneg/DETIN/SIN,
onde consta o ‘Resultado preliminar de seleção de pessoa
jurídica de direito privado, sem ns
lucrativos, e entidade
privada sem ns
lucrativos, interessada em se qualificar
como
organização social e celebrar contrato de gestão que tenha por
objetivo o gerenciamento do CBA’. Se é preliminar não é conclusivo, portanto, não se presta ao clima da vitória
inventada, para tentar influir
no ânimo dos avaliadores.
Eis algumas questões: se as regras da disputa determinam que
os candidatos sejam “… pessoa jurídica de direito privado,
sem ns
lucrativos, ou entidade privada sem ns
lucrativos”,
o que estão fazendo na festa fake, que anunciou a vitória da
FAS, o reitor da Ufam Universidade Federal do Amazonas) e o
representante da UEA (Universidade do Estado do Amazonas),
como supostos integrantes da Aliança Abio? Será que os tais
apoiadores sabem em que baile estão se metendo ou foram
metidos? Será que os magníficos
estão conscientes de que os
patrocinadores desta festa imodesta são as empresas do Polo
Industrial de Manaus, cujas entidades, sequer, foram
chamadas para a tertúlia aloprada?
Ora, a avaliação está em curso e os novos tempos que se
avizinham não comportam jogadas com cartas marcadas nem
o mínimo de compromisso com a transparência. Essas
artimanhas não se ajustam às expectativas do cidadão
comum, que já não suporta a manobra franciscana do “…é
dando que se recebe”.
Antes de abocanhar mais uma vez o patrimônio alheio,
cumpre recorrer ao velho e excelente expediente que cassou
um presidente dos Estados Unidos – Follow the money – e
esclarecer quando se dará o pagamento das oficinas
de
marcenaria e prelazia do Alto Solimões, ou a estória sombria
dos R$20 milhões (‘doados?’) por um grande banco que se
debulhou nas vantagens de ter a conta-salário do governo do
Amazonas por mais tempo que a Lei permite. E tudo isso,
para ‘alavancar’ uma entidade não-governamental estribada
essencialmente nos cofres públicos. O Amazonas vai devolver
cada centavo ao tal banco.
Os municípios ao longo do traçado do gasoduto Urucu-Coari-Manaus,
até hoje aguardam as verbas de compensação
socioambiental pagas pela Petrobras, que nunca chegaram a
seu destino. E por que, uma entidade que se denomina
Amazonas Sustentável sustenta, com a maior parte de sua
verba, uma representação dessa entidade na capital paulista?
É pouco ou é muito R$ 11,5 milhões para fazer pesquisas? Ora, o CBA não foi criado para fazer pesquisas, isso é tarefa das universidades e institutos regionais. O CBA é um centro de bionegócios que precisa, necessariamente, ter um pé no mercado, atender às demandas de protocolos, testes de propriedades e de substâncias da biodiversidade de quem quer empreender. Para tanto, quem se dispuser a gerir o CBA há que se manter em interlocução permanente com os atores do setor produtivo, ouvir-lhe as demandas e sugestões e, principalmente, que os novos gestores tenham espírito público, ajam com transparência e denotem compromisso com o estado e com os direitos elementares da cidadania, aquela que ocupa ou deveria ocupar o andor das prioridades da movimentação pública.
(*) filósofo e ensaísta