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Brasil, para além do atoleiro

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09/05/2017

Por Alfredo MR Lopes (*)

alfredo.lopes@uol.com.br

O Brasil se revolve no pântano da contravenção e precisa buscar um amparo para voltar a caminhar para alem dos ilícitos, e eu contraponto, a espiral da violência, um atoleiro sem precedentes. Vamos trabalhar. Corremos o o risco de perder em densidade, nos ganhos de velocidade e produzir alguns conteúdos de pura precipitação e superficialidade predatória na fala, no texto e nos produtos. Chega de priorizar a violência nos presídios, ou na caça às bruxas do rombo fiscal, e deixar de lado a reflexão sobre os antecedentes dessa desordem e construir os caminhos alternativos de superação. É significativo que a mídia do Sudeste tenha reduzido drasticamente seus correspondentes na Amazônia, não apenas porque os negócios perderam a estrutura complexa que os mantinha. Agora é tudo instantâneo, virtual, com prioridade da imagem e da comunicação truncada, sem espaço de revisão ou aprofundamento de qualquer polêmica ou discordância mais fundamentada.

E por conta da crise, ou da revolução digital, ou quem sabe pelo divórcio atávico entre o Brasil e sua floresta, as questões vitais e globais da Amazônia perderam seu atrativo de pauta. Há mais estudos e debates focados no conhecimento na perspectiva amazônica em direção ao mercado, feitos no Smithsonian Institute, EUA, sobre este bioma do que a soma de todos os estudos feito pelos organismos nacionais de pesquisa. O discreto despertar para o papel da pesquisa se dá no pós-guerra em 1952, quando Getulio Vargas instalou o embrião do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, contrariando a decisão de Washington de fundar em Manaus, nessa época, através da Unesco, o Instituto da Hileia Amazônica, realizando o plano antigo de “tomar conta da Amazônia”. Como a percepção sobre o valor dos ativos é antiga e crescente, há mais cobiça sobre a região na imprensa dos países europeus e norte-americanos, e na Ásia, do que em Brasília. Lá fora eles relacionam a Amazônia com o equilíbrio do clima, a bioeconomia da dermocosmética - o sonho da eterna juventude - a segurança alimentar, medicinal. mineral e outras demandas estratégicas da humanidade, que ainda nos vê pelo mito do paraíso perdido. Em Brasília, a prioridade está nos jornais. Que horror! Na Ásia, com mais de três bilhões de pessoas, o país que não prover alimentos para seus patrícios não se credencia politicamente.

O Brasil, por sua vez, e no paradigma meia-boca, ampara 13 mil cientistas no Sudeste, mas vira as costas para os 500 que atuam na Amazônia, 30% dos quais a caminho da aposentadoria inquietante. Eles se revezam entre gestão institucional e o laboratório. Se descobrem algum “ovo de Colombo”, a Lei e a burocracia vetam sua transformação em produtos para o mercado. Enquanto isso, 25% dos medicamentos utilizam princípios ativos retirados da Amazônia, menos de 0,001% tem patente nacional.
Há quatro anos o CIEAM, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas, tem buscado prestar contas da renúncia fiscal que dá amparo à Zona Franca de Manaus, instalando uma discreta estrutura de comunicação no Sudeste, são os “correspondentes da floresta”, que cumprem a força-tarefa de esclarecer, aproximar e debater as vantagens dessa coalizão nacional. Tem atraído a USP, sua Faculdade de Administração e Finanças, e agora a FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. De quebra, a FGV Economia e FGV Direito também estão na pauta frequente, onde o INSPER e o Instituto Escolhas, há quase um ano, pautam essa perspectiva de aproximação e parcerias.

Aqui nestes dois terços de Brasil isolado habitam as respostas para os alimentos. Um hectare de lâmina d'Água produz 22 toneladas de proteína no mesmo espaço e em menor tempo que a pecuária produz 500 quilos. E temos área disponível para produzir todas as proteínas de que o mundo precisa com as 3 mil espécies de peixe que aqui não param de crescer e procriar. Sem falar em cosméticos, nutracêuticos, fármacos, rações, fertilizantes e serviços ambientais que, numa hora dessas, saberemos parar pra organizar, por código universal de barras e aprender a trocar. Isso é uma delação premiada de um Brasil lícito, que previa virar notícia e compromisso de transformação.

(*) Alfredo é filósofo, ensaísta e consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam)

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