28/08/2015
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o modelo a ser seguido seria como o do porto de Paranaguá, no Paraná, que possuí um terminal alfandegário paraguaio. Esse acordo foi firmado em 1956 e possibilita uma saída para o mar ao Paraguai.
A demanda foi levantada pela governadora de Roraima, Sueli Campos, em discurso proferido durante a recente visita da presidente Dilma Rousseff a Boa Vista. O Estado tem uma extensa fronteira com a Venezuela. Ao falar logo depois da governadora, Dilma destacou a necessidade do acordo e acrescentou que "Roraima está muito bem localizada para aproveitar o porto e exportar, mas sobretudo tem de olhar com cuidado a questão de ligar uma demanda por bens da Venezuela à economia aqui de Roraima".
A medida é parte essencial do plano do governo roraimense para impulsionar a economia do Estado a partir de uma maior exportação de produtos alimentícios. De acordo com o secretário de Planejamento de Roraima, Alexandre Henklain, o plano tem a vantagem de não custar "um centavo" para o governo brasileiro. "Em momento de profunda crise, Roraima poderia fazer parte da solução", argumenta.
Segundo ele, o acordo com a Venezuela representaria um grande ganho de competitividade para a produção do Estado, já que a rota atual envolve o transporte das cargas até Manaus, de onde seguem pelo rio Amazonas. "Hoje as cargas vão pelo Amazonas, então vamos ganhar de 10 a 12 dias em tempo de chegada", calcula o secretário. Apesar de a demanda não ter sido discutida com outros Estados, ele apontou os produtores de Rondônia e da Zona Franca de Manaus como outros possíveis beneficiários do acordo.
O presidente do Centro de Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, discorda. Para ele, é um risco "fazer uma aduana brasileira em um porto da Venezuela sem ter a demanda, fazer esperando benefícios que possa ter". "Segundo alguns especialistas nossos, acordos com a Venezuela são de um risco muito grande por conta da volatilidade que os governantes têm em termos de entendimento, convicção e acordo", acrescenta ele.
Outro ponto negativo, prosseguiu Périco, é que a lei venezuelana pede que, quando a carga chega na fronteira, o motorista brasileiro seja substituído por um daquele país. "Você paga uma taxa e um seguro sobre isso. Isso tem impedido bastante a questão da remessa das dívidas, que eles têm dificultado bastante", explica o economista.
Mesmo diante das críticas, o governo de Roraima não desiste do plano. Para a gestão da governadora Suely, essa é a melhor alternativa. "Com isso, estaríamos a 1.300 quilômetros do mar, em rodovia pavimentada. As cargas percorreriam o território venezuelano lacradas e [o porto de Guanta] seria o melhor porto, incomparável com outros portos brasileiros devido à localização vantajosa", avalia o secretário de Planejamento de Roraima.
Isso porque o porto de Guanta está, de acordo com ele, a apenas dois dias do Canal do Panamá, encurtando em muito o trajeto até a China, principal consumidor da soja brasileira. Os Estados Unidos e o Caribe seriam outros dois mercados que estariam mais próximos da produção roraimense.
Fonte: Valor Econômico