30/07/2018
Notícia publicada pelo Portal D24AM
Às turras com o regime do presidente Nicolás Maduro nos foros
internacionais, o Brasil ainda mantém relação comercial com a Venezuela.
E, neste ano, iniciou a exportação de um produto altamente demandado
do lado de lá da fronteira: dinheiro em espécie. Por encomenda, a Casa da
Moeda do Brasil está imprimindo os bolívares usados no país vizinho. A
demanda é grande, porque o valor das cédulas “derrete” diante da
hiperinação,
que pode atingir 1.000.000% neste ano, segundo estimativas
do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A produção de dinheiro começou em 2018, segundo informou a Casa da
Moeda. Não é a primeira vez que o Brasil imprime dinheiro para outro
país. A Casa da Moeda já forneceu cédulas para Argentina, Paraguai e Haiti.
Sem dar conta de acompanhar a evolução dos preços, os venezuelanos
precisam de quantidades cada vez maiores de dinheiro vivo. As cédulas de
bolívar são hoje o sétimo principal produto exportado pelo Brasil para o
vizinho, segundo dados da balança comercial. De janeiro a junho, as
vendas em dinheiro já impresso totalizaram US$ 6,8 milhões, além de mais
US$ 4,6 milhões em papel que serve para a impressão de dinheiro.
Em março, Maduro anunciou que o sistema monetário seria reformado,
com o corte de três zeros das cifras. Assim, mil bolívares passariam a ser
um bolívar, mas com o mesmo valor de aquisição. E a moeda passará a ter
outro nome: bolívar soberano.
Mas a inação
é tão alta que o corte de três zeros já não será suciente
para colocar os preços venezuelanos num padrão civilizado. Na quartafeira,
Maduro informou que a reforma cortará cinco zeros. Ou seja, cem
mil bolívares serão convertidos em um bolívar. A entrada em vigor da
reforma também foi adiada: do início de agosto para o dia 20 do mesmo
mês.
Para mostrar que a Venezuela não está sozinha na luta contra a inação,
o
comunicado do governo informa que o Brasil cortou três zeros da moeda
em 1989, 1992, 1993 e 1994. “Em uma década, o Brasil eliminou um total
de 12 zeros de sua moeda.” Na realidade, a reforma de 1994 não foi
simplesmente o corte de três zeros, mas a implantação do real, que valia
CR$ 2.750,00. O governo venezuelano cita outros casos na região, como
Argentina, Colômbia e Paraguai.
Relação
“O governo nunca quis impedir o comércio com a Venezuela, a não ser de
produtos para emprego na repressão”, disse ao Estado o subsecretáriogeral
para América Latina e Caribe do Itamaraty, Paulo Estivallet de
Mesquita. “O que surpreende é que haja ainda algum comércio,
considerando as diculdades
deles para pagar.”
O vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri),
embaixador José Botafogo Gonçalves, disse que o Brasil fortaleceu suas
relações econômicas e comerciais com a Venezuela durante os governos
do PT. O atual governo tem postura diferente e tem sido crítico do regime
de Nicolás Maduro no que se refere ao respeito a direitos humanos e a
princípios democráticos. “Mas os laços econômicos foram criados e não se
rompem de uma hora para outra”, disse. “Além disso, a preocupação é
atender às necessidades da população venezuelana.”
Comércio em queda
O comércio entre Brasil e Venezuela já foi forte, impulsionado pelos produtos de petróleo, de um lado, e dos industrializados, de outro. Em 2012, a corrente de comércio, resultado da soma de importações e exportações, ultrapassou os US$ 6 bilhões. Os valores, porém, foram declinando à medida que se agravou a crise nanceira. No ano passado, o total de importações e exportações cou em US$ 861 milhões. Neste ano, até junho, foram US$ 431 milhões.