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22/10/2019

Alfredo MR Lopes (*) alfredo.lopes@uol.com.br

Onde estão organizadas e catalogadas as amostras do acervo cultural expresso através de nosso artesanato? Por que nossas crianças e jovens não tem oportunidade de conhecer - portanto, respeitar e amar - nossa identidade cultural que o artesanato produz e revela? Ora, se a grande maioria da população jamais adentrou o Teatro Amazonas, como imaginar o interesse desta geração por suas origens culturais amazônicas? A prova disso é o estado de abandono em que se encontra, por exemplo, a Central de Artesanato Branco e Silva, um espaço cultural em Manaus, outrora voltado para o artesanato, geração de emprego e manifestação da cultura. Seu nome é em homenagem ao artista plástico Leovegildo Ferreira da Silva. Pintor, o Branco e Silva, escultor e desenhista, autor do retrato do presidente Getúlio Vargas, em exposição permanente no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Há um nome registrado na placa da última recuperação arquitetônica daquele espaço público ora com as portas fechadas, Secretária do Trabalho, Betty Suely Lopes, 1985, data da última grande reforma.

A vez dos esquecidos

Quando voltou do exílio, Gilberto Mestrinho, o idealizador do espaço da Central de Artesanato, no início dos anos 80, o Brasil estava empenhado no resgate da Democracia. Chegou, mobilizou a população e venceu as primeiras eleições diretas, depois do Regime Militar, em 1982. Em seguida nomeou para a Secretaria do Trabalho e Assistência Social, a SETRAB, a assistente social Betty Suely Lopes, para criar empregos ao resgatar os eventos de nossa identidade cultural. Em seu primeiro governo, no início dos anos 60, Betty era Telefonista do Palácio do Governo, a sede do poder estadual. No retorno de Gilberto ao AMAZONAS, 1979, a Telefonista, já formada pela UFAM, atuava como gerente na LBA, Legião Brasileira de Assistência, fundada por Getúlio Vargas. A SETRAB, com pouco atenção do governo anterior, se empenhava em administrar apenas 8 projetos sociais voltados para a geração do emprego, um desafio para o Brasil de então. Em pouco tempo, a Assistente Social se revelou uma gestora por vocação e implantou, no espaço de 30 meses, 258 projetos e programas voltados para o geração de postos de trabalho, a economia solidária. Dois deles chamam a atenção e traduzem a revitalização de projetos dos anos 50, que estavam abandonados: o Festival Folclórico do Amazonas, que resgatou danças típicas da Amazônia e fomentou a festa dos bumbás de Manaus, e a Central de Artesanato Branco e Silva.

Não se deixou corromper

Recuperado em suas instalações físicas, foi a vez de recompor as manifestações dos artesãos desempregados. Afinal, a Amazônia e seus povos tradicionais, especialmente aqueles que se dedicam a perenizar hábitos e costumes de seus ancestrais. Isso é o papel da Cultura e da arte, eternizar a memória de um povo, etnia ou agremiações urbanas e anunciar/denunciar seus projetos, visão de mundo e riscos de destruição de suas identidades. As obras com mais prioridade eram aquelas confeccionadas com materiais tipicamente regionais: madeira, cerâmica, palha de tucumã, fibra e palha de tucum, tela de juta, cipó titica, entre outros. O Estado era o mantenedor mas a gestão era de um colegiado montado por artesãos que ocupavam as quase 30 lojas da Central. Os indígenas tinham apoio de transporte para Manaus e eram isentos das taxas de aluguel, exceto a de manutenção. Betty, depois, foi convencida a entrar na política - sempre acompanhada de Manoel Quintas, parceiro e incentivador - dando sequência à sua natureza humana esculpida pela generosidade e amor ao próximo. Antes e depois de ser a parlamentar mais votada no Amazonas, em duas oportunidades, ela não se deixou corromper muito menos alterar seu compromisso com seu próximo, especialmente aqueles desconvidado no banquete dos bacanas, os humildes, os Bem-Aventurados de Jesus. Parabéns, mana Betty, você nunca os abandonou, desde quando, ainda adolescente, ia alegrar a vida dos Hansenianos na Colônia Antônio Aleixo, tocando seu acordeão de pouco baixos e muita emoção e afeição. Seus descendentes daquele lugar, e todos aqueles que privaram de sua convivência amorosa, sua natureza generosa, testemunham a seu favor no Dia da Graça de Nosso Senhor que nos concedeu sua vida entre nós, Feliz Aniversário, Irmã, Mãe e Amiga, eternamente querida!

(*) ALFREDO é filósofo e ensaísta.

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